Solenidade de Todos os Santos e comemoração dos Fiéis Defuntos

Há mais de mil anos que a Igreja celebra o Dia de Todos os Santos e dos Fiéis Defuntos e, por isso, importa saber o que significam e por que não devem ser confundidos. Na semana em que ocorrem estas festas, o Notícias de Viana recorda alguns dados históricos e lembra a doutrina cristã sobre elas.

Notícias de Viana
30 Out. 2020 5 mins
Solenidade de Todos os Santos e comemoração dos Fiéis Defuntos

Porque é que os dias 1 e 2 de novembro são tão importantes para a Igreja?

Nos dias 1 e 2 de novembro celebra-se a Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração de todos os Fiéis Defuntos, respetivamente. Apesar de, muitas vezes, aproveitarmos os dias anteriores ao 2 de novembro para cuidar dos cemitérios, os dois dias tem motivos diferentes, mesmo que sejam, em realidade, complementares.

Mas qual é a razão para esta relação e complementaridade entre ambas as comemorações?

Trata-se, acima de tudo, de seguir a lógica: depois de comemorarmos Todos os Santos, ou seja, aqueles que vivem com Deus na plenitude do amor e da comunhão, lembramos «aqueles que nos precederam com o sinal da fé e dormem agora o sono da paz». Este costume remonta a 998, quando o Abade do Mosteiro de Cluny, Odilo, pediu que todos os mosteiros da Ordem evocassem os defuntos, sendo esse convite generalizado e oficializado por Romo, no séc. XIV.

E qual é a origem da Solenidade de Todos os Santos?

O culto aos Santos esteve centrado, em primeiro lugar, na devoção aos mártires, devido ao clima de forte perseguição que as comunidades cristãs viviam. No entanto, no séc. VII, o Papa Bonifácio IV quis cristianizar o culto pagão a todos os deuses, que se realizava no Panteão de Roma. Como esse acontecimento ocorreu no dia 13 de maio de 610, esse foi o primeiro dia da celebração de Todos os Santos. Com este costume a espalhar-se, a celebração de Todos os Santos entrou no Missal Romano em 737 e, mais tarde, o Papa Gregório IV, seguindo um hábito recorrente em Inglaterra, fixou-a no dia 1 de novembro. Será o Papa Sisto IV a considerá-la uma Solenidade, isto é, com o estatuto mais importante dentro da Liturgia Cristã.

Contudo, o que é se entende pela palavra “santo” ou “santidade”?

Por vezes, temos uma visão excessivamente redutora da santidade: julgamos que “santo” é sinônimo de alguém prefeito, inatingível ou imaculado. Costumamos até dizer que alguém em específico “não é nenhum santo”, quando comete algum erro ou deslize. No entanto, “santo” seria aquele que, apesar de se saber pecador, se reconhece infinitamente amado por Deus, aquele que está separado de si próprio e sabe que o seu “coração está inquieto até descansar”, definitivamente, em Deus, conforme afirmou St. Agostinho. Em suma, é aquele que se assume como pecador perdoado.

Mas, se ao longo do ano celebramos cada santo no seu próprio dia, porque é que dedicamos um dia a todos os santos?

A razão é simples: a Igreja acredita numa visão larga ampliada da santidade, naquele que, embora nunca reconhecidos, são os “santos ao pé da porta”, como diz o Papa Francisco, os santos das pequenas coisas, anónimos e que, apesar de não estarem nos altares, se cruzaram connosco. Celebrar Todos os Santos é, assim, recordar que “vimos de longe”, que vivemos e andamos “aos ombros de gigantes”.

Regressando ao dia de fiéis defuntos, o que é a vida eterna?

Não raras vezes, julgamos que a vida eterna é algo que recebemos ou começamos a viver a partir de um dado momento, em comparação com o que vivemos até aí. Porém, somos convidados a fazer da vida “um ensaio quotidiano para a eternidade”, acreditando no “quotidiano concreto como se ele fosse uma eternidade diária”, na expressão de Miguel Torga. Como diria Yves Congar, importante teólogo do séc. XX, o paraíso não é a negação do mundo, mas “uma salvação, em que tudo aquilo por que os homens lutam ao longo da história, lhes será dado gratuitamente e como um dom”. Nesta linha, vida eterna é tudo o que já fazemos, mesmo que não plenamente, através da qual a gratuidade é o motor essencial, visto que ela não é uma coisa que chegará, “uma espécie de grande Feira Popular, em que o bilhete de entrada dá acesso a todas a barracas”, como escreveu o mesmo Y. Congar, mas algo em que já participamos, apesar de não totalmente, visto que, mais que algo quantitativo, a vida eterna é um conceito “qualitativo, que indica a plenitude de vida, o caráter ilimitado de uma felicidade que reluz já de modo fragmentado”.

As festas de Halloween são muito publicitadas nas escolas e promovidas pela sociedade de hoje em dia. Estes eventos identificam-se com a nossa cultura?

A hodierna pandemia obrigou a que os nossos ritmos de vida fossem revistos. Um deles foi a forma como viveremos o “Mês das Almas” e os dois primeiros dias deste mês. Muitas pessoas aproveitaram a segunda quinzena de outubro para “lavar as campas”, algo que motivava a azáfama vivida habitualmente nos derradeiros dias. Vê-se até gente que vive noutros concelhos que deixou já as sepulturas ornamentadas com belas flores. Esta limpeza, frescura e beleza contrasta com o satanismo, horror, sangue, espiritismo, morte, vampirismo, podridão… da festa das abóboras.

Curiosamente neste ano a televisão e os folhetos publicitários dos hipermercados não nos bombardearam com anúncios acerca do Halloween! Desde meados de outubro que a sociedade materialista publicita o natal e suas campanhas. Até as ornamentações natalinas estão já montadas em vários lugares! Isto vem mostrar que passamos bem sem as “travessuras” do Halloween: esse evento trazido até nós por uma sociedade consumista que literalmente “vende a alma ao diabo” porque a máquina precisa de movimentar dinheiro num mês considerado “época baixa”. Muitos arrecadam milhões à custa dos milhares que vão na cantiga!

Neste ano não há “doçura” nem “travessura”, mas (apesar de todas as restrições) há beleza, luz, oração, saudade… Isso não desapareceu porque não é o dinheiro que nos move, mas o amor. Será que a pandemia nos ensinou alguma coisa?

Tags Religião

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