A Romaria de Nossa Senhora da Agonia foi, no passado mês de abril, reconhecida pelo Ministério da Cultura como projeto de Interesse Cultural. Um “projeto cultural essencial para o desenvolvimento da cultura e das artes em Portugal”.
Esta distinção permite à Romaria beneficiar do regime de Mecenato Cultural, instrumento importante para a captação de apoios financeiros. Todo o impulso e estímulo ao mecenato são bem-vindos e só assim será possível fazer mais e melhor Cultura. Não aprofundarei esta questão, já amplamente noticiada, mas aproveito para retomar – em forma de desafio – um tema que leva pelo menos dez anos no prelo: a elevação da nossa Romaria a Património Imaterial da UNESCO.
O desejo do reconhecimento público da Romaria de Nossa Senhora da Agonia não se esgota, como todos compreenderemos, nesta declaração de Interesse Cultural. Faz algum tempo que existe o desejo da elevação da nossa Romaria a Património Imaterial da UNESCO. Tal, aliás, como o próprio “Traje à Vianesa”. Assuntos distintos, mas que poderiam muito bem ser trabalhos de forma conjunta. De referir que em 2015 foram encetados esforços para uma candidatura com a Associação de Festas de São João de Braga, para classificação da Romaria, referindo-se que se tratava de um “projeto a longo prazo” e que apenas seria “concretizado com o empenho de diversas instituições públicas e privadas”. Em 2016, as designadas “Romarias do Minho”, que integravam 21 romarias da região, avançaram com a preparação de uma candidatura conjunta ao Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. E já em 2018, o então Ministro da Cultura, reiterava a vontade e total apoio de uma possível candidatura do Traje e da Romaria Vianense, de tal forma que o Ministério estaria disponível para a inclusão da proposta, na chamada “lista indicativa”, reconhecendo assim o interesse nacional e a capacidade do projeto.
Desde aí, tudo pareceu esmorecer. Talvez seja apenas a minha perceção. Esta nova classificação de Interesse Cultural poderá, indiscutivelmente, representar um novo impulso para a ambição que todos desejariam, e que passaria pela classificação por parte da UNESCO, da Romaria de Viana do Castelo.
O Património Cultural Imaterial da UNESCO é reconhecido em Portugal desde 2008, quando o país ratificou a Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial. Desde então, Portugal teve oito projetos inscritos na lista representativa da UNESCO, entre os quais, o Carnaval de Podence, inscrito em 2019, e as Festas do Povo de Campo Maior, inscritas em 2021. Sem querer obviamente desconsiderar as festas já classificados, não tenho qualquer tipo de dúvida que a nossa Romaria possui as caraterísticas, a história e a singularidade necessárias para poder ambicionar também, tal reconhecimento. Uma possível candidatura necessitará, no entanto, de um trabalho mais consistente, que passará numa primeira fase pela constituição de uma equipa de trabalho pluridisciplinar e oriunda de diversas instituições, e que tenha como único e claro objetivo, a preparação de uma candidatura sólida ao reconhecimento pela UNESCO.
A valia cultural da nossa Romaria está diretamente refletida na sua história que se inicia ainda no século XVII. Em 1751, a devoção a Nossa Senhora da Agonia ganha expressão, com a inclusão da imagem na Capela do Bom Jesus, sendo já em 1783 que a celebração é consagrada e a licença emitida para o dia 20 de agosto. No decorrer do século XIX, a devoção converte-se numa verdadeira Romaria, trazendo até Viana do Castelo milhares de romeiros, para festejar e celebrar as festas da cidade.
Termino, pois, com o desejo reiterado de que este ano Viana do Castelo receba entre os dias 12 e 20 de agosto a melhor e maior Romaria de sempre e que o trabalho de preparação da nossa candidatura retome, alcançando o reconhecimento que todos ambicionamos!
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