Rui Pires, antigo vice-coordenador geral do Grupo de Coordenação Local da Iniciativa Liberal (IL) de Viana do Castelo, vai candidatar-se à presidência da Comissão Executiva do partido, juntando-se à deputada e atual líder parlamentar Mariana Leitão. A corrida interna foi desencadeada pela demissão de Rui Rocha — reeleito em fevereiro — e abre caminho a uma nova configuração na liderança liberal.
Em declarações ao Notícias de Viana, o candidato revelou que a candidatura “ainda não foi formalizada”, mas encontra-se “em construção” e deverá ser oficializada “nos próximos dias”.
Rui Pires justifica a decisão com a necessidade de consolidar a IL como “um verdadeiro partido nacional”, capaz de falar “a todos os portugueses e não apenas a uma elite urbana com elevada literacia política”. Para isso, propõe um reposicionamento estratégico que una os valores fundamentais do liberalismo a uma visão “mais inclusiva e humanista”, inspirada em figuras como o britânico Charles Kennedy.
Crítico do clima de tensão que tem afetado o partido nos últimos anos, o candidato lamenta as “saídas desnecessárias”, as “acusações de pensamento único” e a crescente fragmentação interna. A sua candidatura, garante, é uma “alternativa de união”, assente na “construção de pontes entre as diferentes sensibilidades liberais” e na valorização dos militantes “independentemente dos cargos que ocupam”.
Entre as prioridades que traça, destaca-se a promoção de “uma cultura interna de diálogo e respeito mútuo”, o reforço do papel das estruturas locais através de uma “genuína descentralização da ação política” e uma nova abordagem comunicacional que torne os princípios liberais “acessíveis a todos os estratos sociais”. “A nossa marca distintiva deve ser a capacidade de apresentar soluções liberais para os problemas concretos das pessoas”, defende, apontando como áreas prioritárias a habitação jovem, os cuidados de saúde, a mobilidade social e o apoio aos mais vulneráveis.
O objetivo, sublinha, é afastar o liberalismo da perceção de elitismo e afirmar a IL como “uma filosofia política genuinamente preocupada com o bem-estar de todos”.
Com expectativas que classifica como “realistas, mas ambiciosas”, Rui Pires pretende, num primeiro momento, pacificar o partido e fomentar um ambiente interno mais colaborativo. A médio prazo, quer atrair novos membros, recuperar militantes que se afastaram e expandir a influência da IL para além dos grandes centros urbanos. “Espero que possamos crescer eleitoralmente não apenas em Lisboa e Porto, mas também no interior do país, nas periferias urbanas e junto de comunidades que tradicionalmente não se identificavam com o nosso discurso”, sublinha.
A articulação com os núcleos territoriais será, segundo o candidato, “uma prioridade absoluta”, propondo que estas estruturas tenham não só autonomia formal, mas também os recursos e o apoio necessários para desenvolverem a sua ação de forma eficaz.
A principal diferenciação da sua candidatura, assegura, está na proposta de uma estratégia clara para “humanizar o liberalismo português”.
Mais do que eficiência organizacional ou rigidez doutrinária, Rui Pires defende uma “síntese entre coerência liberal e sensibilidade social”, apostando numa linguagem política mais empática e numa ação menos tecnocrática. “Queremos desenvolver políticas que mostrem como as soluções liberais podem melhorar a vida de todos”, conclui.
A entrada de Rui Pires na corrida à liderança da Comissão Executiva surge meses depois da sua demissão do cargo de vice-coordenador geral do Grupo de Coordenação Local da IL em Viana do Castelo, motivada pela discordância em relação à decisão da então coordenadora local, Marta Von Fridden, de se candidatar por outro círculo eleitoral.
Cabeça-de-lista por Viana do Castelo nas legislativas de 2024, Marta Von Fridden integrou este ano o terceiro lugar da lista pelo Porto, enquanto Hugo Pereira assumiu a liderança da candidatura no Alto Minho.
Na altura, Rui Pires justificou a sua saída não por razões pessoais, mas por uma exigência de coerência com os princípios que sempre orientaram a sua ação política. “A política é feita de raízes, de compromissos com as pessoas e com as terras”, escreveu, criticando o que considerou ser uma crescente instrumentalização da representação política.
Em comunicado, alertou para o risco de a IL se transformar “numa máquina de poder convencional”, caso normalizasse práticas que considerava contrárias ao espírito fundacional do partido.
Rui Pires é natural de Viana do Castelo e iniciou a sua formação na área da música, tendo depois concluído um curso técnico-profissional em multimédia.
Desde 2017, é bombeiro voluntário e, desde 2020, tripulante de ambulâncias de socorro, com experiência em trauma, doença súbita e incidentes multivítima.
Atua também como consultor internacional na área da Proteção Civil, com formação certificada por entidades como o INEM, a Escola Nacional de Bombeiros, a OMS e o FBI. Especializou-se em gestão de catástrofes, comunicação em emergências, apoio psicológico e coordenação de equipas.
Foi membro do Conselho Executivo da Associação Nacional de Técnicos de Emergência Médica, é colunista no Observador e integrou a coordenação local da Iniciativa Liberal em Viana do Castelo.
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