Manutenção

Isabel Campos
24 Fev. 2025 3 mins
Paisagem

“conjunto de medidas indispensáveis ao funcionamento normal de uma máquina ou de qualquer tipo de equipamento”, (Dicionário Porto Editora)

Há palavras que, embora inofensivas no seu significado, me fazem ficar de pé atrás a pensar que estou a ser, talvez seja um pouco forte este adjectivo, enganada, que o processo vai demorar e que me vai afectar. “Manutenção” é uma delas. As outras palavras são “fora de serviço”, por vezes seguidas de um subtil “temporariamente”

A manutenção é, por vezes, demorada, uma vez que as tais “medidas indispensáveis ao funcionamento normal” não foram tomadas, o que leva a que, por exemplo, falte uma peça importantíssima. Das vezes que tentei informar-me sobre o “fora de serviço” sempre me disseram que esperavam que a peça chegasse. Peça essa que o fornecedor não tem, a fábrica está à espera de um componente que, por causa da guerra na Ucrânia, em Gaza, do Canal do Suez, do Trump, etc, não se consegue, pelo que continua em “manutenção”. Também pode ser uma avaria ou erro informático…Não é culpa de ninguém e a “manutenção”, mantem-se. Não sei se alguém descurou a sua manutenção, agora no seu verdadeiro significado. Não faço ideia se é possível comprar duas peças e deixar ficar uma à espera de ser necessária, no caso de ser a mesma, ou de terem sido tomadas as tais medidas. Sei que essa peça, essa “manutenção” me afecta com alguma regularidade.

De quinze em quinze dias, logo pela manhã, tenho de utilizar o elevador junto à CP. Hoje, dia em que escrevo estas linhas, 20 de Fevereiro, pela terceira vez, contada desde 23 de Janeiro, esse equipamento está simpaticamente mantido em … “manutenção”. Como eu, pessoas com mobilidade reduzida têm de “trepar” aqueles cinco lanços de escadas, ou, como no meu caso, descê-las. (Contaram-me, mas não sei se é verdade, o caso de uma senhora de cadeira de rodas que teve de ser levada a peso escadas acima.) Pessoas que têm de se deslocar ao Hospital, já chegam sem fôlego para enfrentar aquela rampa hercúlea que as levará a uma consulta. Prova de esforço realizada, caso não fiquem pelo caminho. O episódio aqui contado será um facto extremo, mas esta “manutenção” não é incomum, é, até, bastante comum ao longo do ano.

Estas mesmas pessoas, volto a sublinhar, com problemas de locomoção, são poucas, frágeis e pouco reivindicativas, mas, por isso mesmo, devem ser mais apoiadas.

Quando precisarem de utilizar o elevador e ele estiver em “manutenção” não se vão lembrar das luzes feéricas, da música, da L’Étape Portugal by Tour de France e outros “eventos” quejandos não lhes virão, certamente, à cabeça como acontecimentos relevantes para a sua vida, mas a peça, essa sim, teria feito toda a diferença.

Cansada, furibunda e indefesa, hoje, desci aqueles degraus, cheguei ao Passeio das Mordomas e vi os painéis daquela exposição dedicada a Viana do Castelo, Capital da Cultura do Eixo Atlântico, pensei: “Será que as outras cidades do Eixo Atlântico também têm falta de peças?

Não peço muito, só uma peça.

 

 

SUGESTÕES:

Ler – Luzes de Leonor, sobre e escrito por duas mulheres incomuns – Maria Teresa Horta e a Marquesa de Alorna

Ouvir – Harmonies du soir, Franz Liszt

 

** (Escrito de acordo com a ortografia antiga)

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