As colocações de professores são sempre um assunto muito debatido no arranque de cada ano letivo. Este ano, não é exceção. Há mais de 117 mil alunos sem professores e mais de dois mil horários que continuam vazios, a maioria anuais.
No dia anterior ao arranque das aulas, Arlindo Ferreira, autor do blogue sobre educação “Blog DeAr Lindo” e diretor do Agrupamento de Escolas Cego do Maio, Póvoa de Varzim, divulgou uma contabilização que inclui apenas os horários disponíveis na oferta de contratação de escola, o último recurso disponível para o recrutamento de professores. De acordo com os dados e depois de conhecidos os resultados da segunda reserva de recrutamento, em que foram colocados 2500 professores, as escolas continuam à procura de docentes para ocupar 2228 horários submetidos.
E, à semelhança dos anos anteriores, é para a disciplina de Informática que as escolas têm maiores dificuldades em contratar, mas o cenário é preocupante em quase todos os grupos de recrutamento, à exceção do pré-escolar e 1.º ciclo. “Acho que (a situação) está pior neste momento”, disse o diretor escolar em comparação com o ano passado.
As listas definitivas para o ano letivo de 2024/2025 já foram publicadas pela Direção-Geral da Administração Escolar (DGAE), mostrando que, “64% dos professores colocados são do quadro, enquanto 36% são contratados”.
“As dificuldades temporárias vão fazer-se sentir mais aqui do que a sul”
Esta realidade também se faz sentir na região Norte, onde se incluiu o Alto Minho. No entanto, há outra atenuante: a faixa etária. “Na zona Norte não é que haja propriamente grande falta de professores, mas é nesta região que se situa a faixa mais velha. Quando começar o ano letivo, aquilo que até agora é uma situação relativamente estável tornar-se-á instável do que a sul porque, muitos professores, vão começar a meter baixa”, alertou Nuno Fadigas, dirigente do Sindicato dos Professores do Norte.
Consequentemente, “não haverá professores para colmatar essas falhas”. “A profissão está muito envelhecida”, vinca, justificando: “As reservas de recrutamento começam a ficar vazias. Já há grupos de recrutamento que têm poucos professores. E, por isso, a médio prazo vai começar a agravar”.
O dirigente explicou ainda que muitos professores, através da vinculação dinâmica, foram para sul “para suprimir necessidades”. “O que acontece é que essas pessoas, que até aqui eram precárias, se vincularam no último concurso, ao concorrer, deixaram de estar aqui como professores que podiam satisfazer as necessidades temporárias que existem a Norte”, acrescentou, revelando que “já aparecem horários temporários na plataforma” e “há vários pedidos de contratação de escola”. “Ou seja, o problema é que as dificuldades temporárias vão fazer-se sentir mais aqui do que a sul”, garantiu.
Face às declarações do secretário-geral da Federação Nacional da Educação (FNE), considerando insuficientes os apoios que o Governo propõe para os professores deslocados e defendendo a criação de apoios generalizados, Nuno Fadigas partilha da mesma opinião e recorda o Sindicato dos Professores do Norte “discorda”, “desde há muito tempo” com as medidas que têm sido implementadas nos últimos anos. “Enquanto não houver uma revisão da carreira séria, onde se valoriza a profissão, vamos ter sempre este problema”, referiu, defendendo: “Se há efetivamente uma necessidade permanente, tem de haver um posto de trabalho que seja também permanente.”
Para o dirigente, “isso não tem acontecido” e, por isso, “há consequências a médio prazo”. “Sempre dissemos que ia haver falta de professores porque a profissão não é suficientemente atrativa. E, agora, estamos todos a tentar encontrar soluções de desespero”, lamentou, reconhecendo que o Governo quer fazer uma revisão na carreira. Contudo, “ninguém sabe o que vai fazer”. “Se a profissão não se tornar mais atrativa, é uma realidade que se vai prolongar no tempo”, vincou.
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