“Lembro-me de receber um puzzle e muito brinquei com ele”

A chegada do Secretariado Diocesano ao acampamento cigano no dia 17 de dezembro era muito esperada e, por isso, mal ouviram os carros, muitas mães se aproximaram da capela para procurar o nome dos seus filhos nos sacos. Além das mães, havia também crianças ansiosas por receber o seu presente.

Fernando Rodrigues, de 27 anos, e Andreia Monteiro, de 26, são pais de quatro crianças. Estavam prestes a sair do acampamento quando foram chamados para receber os presentes. “Acho muito bem que aconteçam iniciativas como esta, porque somos pessoas carenciadas. Além disso, os meninos gostam muito”, afirmou Fernando. “No mês de dezembro, eles não falam de outra coisa”, acrescentou Andreia, contando que não esperam pela noite de 24 de dezembro para abrir os presentes.

O jovem casal contou que o acampamento tem ainda “poucas condições”, embora “tenham melhorado” com a chegada de água e luz. “A maioria já tem as condições básicas, mas precisamos de mais. Temos água e luz, mas não seria a mesma coisa se tivéssemos uma casa”, confidenciou, referindo que as obras mais recentes foram fruto do seu trabalho. “Fizemos algumas obras e estamos a pagar aos poucos com aquilo que recebemos todos os meses”, referiu, desabafando: “O que temos não é suficiente.”

Há 17 anos a viver no acampamento, Fernando salientou que o seu maior desejo é ter uma casa própria. “Fala-se de muita coisa, inclusive a construção de um bairro. Não há certezas de nada, mas estamos contentes por saber disso porque queremos sair daqui e ter uma casa nossa”, disse, lamentando: “As coisas estão a demorar a ser feitas.”

Depois dos presentes entregues às famílias, uma jovem de 13 anos juntou-se à mãe e esteve à conversa com os responsáveis do Secretariado, recordando os presentes que recebeu. “É um momento muito marcante para todos nós, porque não temos muitas possibilidades”, disse, contando que os seus presentes passaram para os irmãos. “Eles gostam muito de recebê-los”, contou, recordando que o presente que mais a marcou foi um puzzle. “Lembro-me de receber um puzzle e muito brinquei com ele.”

A frequentar o 8º ano de escolaridade, a jovem assegura que quer terminar os estudos (até ao 12º ano) e, quem sabe, tornar-se cabeleireira.

Quem também marcou presença na entrega de presentes foi o Pe. Alfredo Sousa, que é Vigário Episcopal para a Cultura e Ensino. “O Sr. Bispo não conseguiu estar presente porque está em Visita Pastoral em Arcos de Valdevez e, a pedido dele, venho representá-lo nesta ação de solidariedade notável que conta com um punhado de gente que abdicou de um sábado para estar aqui a acompanhar e dar um miminho para que o Natal destas pessoas seja mais um pouco aconchegado”, explicou, transmitido uma mensagem de “muita esperança e perseverança”. “Uma das missões da Igreja é ajudar o outro naquilo que precisar e, por isso, cá estaremos”, salientou, assegurando que “a Diocese está atenta aos mais carenciados todo o ano”.

Para a realização desta iniciativa, o Secretariado Diocesano da Mobilidade Humana conta com a colaboração da Cáritas Diocesana. “De forma a agilizar a entrega, organizamos as prendas por famílias”, explicou Ana Costa, membro do Secretariado, especificando: “Estas prendas são donativos, à exceção de um ou outro material escolar em que a Diocese ou particulares comparticiparam”. “São presentes reciclados, mas tudo em bom estado”, reforçou Olívia Costa, membro do Secretariado, contando: “Ao longo do ano, reunimos o que nos parece ser útil oferecer às crianças.”