Atribuição de título a Iuri Leitão gera polémica 

A intenção já tinha sido revelada na noite da receção ao atleta olímpico pelo presidente da Câmara Municipal, Luís Nobre, na Praça da República. E, de acordo com a autarquia, a homenagem ocorre “pela sua notável carreira desportiva e por elevar bem alto o nome de Viana do Castelo, de Portugal e do desporto português em cada conquista alcançada”. 

Segundo o Regulamento de Atribuição dos Títulos Honoríficos (2022), “a Câmara Municipal, como legítima representante da comunidade vianense, tem o dever de demonstrar gratidão e apreço institucionais aos cidadãos e instituições que, de qualquer forma, honraram, prestigiaram e promoveram o município, contribuindo para o seu desenvolvimento e o bem-estar da população”. 

O título de Cidadão de Honra, segundo o artigo 2º, “será atribuído aos cidadãos vianenses que, ao longo da vida, prestaram assinaláveis serviços à comunidade, contribuindo para o progresso e prestígio do município, da região ou do país”.

O artigo 4º refere que “a atribuição desses títulos é da competência da Câmara, após decisão votada por maioria qualificada de 2/3 (dois terços) dos membros em efetividade de funções”. “As propostas fundamentadas para atribuição dos referidos títulos podem ser apresentadas pelo Presidente ou vereadores da Câmara Municipal, membros da Assembleia Municipal, Juntas e Assembleias de Freguesia, associações culturais, desportivas ou outras e por grupos de cidadãos especialmente congregados para o efeito”, acrescenta o artigo 5º.

Já o artigo 6º esclarece que “a imposição dos referidos galardões será feita em sessão solene a realizar no Salão Nobre dos Paços do Concelho, ou noutro lugar a determinar, no dia 20 de janeiro, aniversário da elevação de Viana do Castelo a Cidade”. “A imposição estabelecida no artigo anterior será precedida de anúncio público, acompanhado com os fundamentos justificativos da atribuição dos títulos em causa”, refere o artigo 7º.

Os vereadores do PSD, Paulo Vale, CDS-PP, Hugo Meira, e o independente Eduardo Teixeira, defenderam que a proposta de atribuição do título de Cidadão de Honra a Iúri Leitão devia ser discutida, como sempre, em reunião à porta fechada, em janeiro, antes da sessão solene do Dia da Cidade. “Acho que o Iúri Leitão não está à espera de uma medalha. Acho que devíamos estar aqui a falar de um ‘naming’ de um espaço desportivo ou à própria Cidade Desportiva [projetada para a cidade]”, considerou Paulo Vale, defendendo ainda “a construção de um velódromo em Viana do Castelo” ou dar o seu nome a um equipamento desportivo como outras formas de o homenagear. “Aí sim, estávamos a dignificar a causa do Iúri e o feito que teve nos Jogos Olímpicos”, acrescentou.

Hugo Meira e Eduardo Teixeira seguiram os mesmos argumentos. “Somos da opinião que deveria ser discutido em lugar próprio. Todavia, o Iuri é merecedor. Devemos louvar todos aqueles que levam o nome de Viana do Castelo longe”, disse o vereador do CDS. “Não está em causa aquilo que achamos sobre esta homenagem, mas a forma e o momento que é feito”, acrescentou o vereador independente, questionando se a proposta seria levada à Assembleia Municipal. 

Apesar de considerarem que a proposta “pode abrir precedentes” e de “não cumprir os regulamentos”, acabaram por votar favoravelmente com a declaração de voto de Paulo Vale. Luís Nobre respondeu com indignação, apelando à necessidade da política ter uma componente “emocional”, porque o ciclista alcançou um “feito único e provavelmente irrepetível”. “O alcance do que conseguiu merece todas as exceções. É um momento de glória que pode não se repetir”, afirmou indignado, frisando: “O Iúri não trouxe só duas medalhas, trouxe também o exemplo da forma de estar pela forma como atuou nos Jogos Olímpicos”.