Condiscípulos e companheiros

Vivemos juntos mais de cinco ou dez anos, e isto marca a vida. Vamos esquecendo muita coisa ao longo da vida e vamos tolerando acontecimentos que aparecem como prejudiciais. Aspetos complicados corroem devagar a nossa experiência, e outros vão dando sossego e calma ao que enfrentamos. A vida de cada um é uma mistura de […]

Notícias de Viana
23 Mar. 2024 3 mins
Condiscípulos e companheiros

Vivemos juntos mais de cinco ou dez anos, e isto marca a vida.

Vamos esquecendo muita coisa ao longo da vida e vamos tolerando acontecimentos que aparecem como prejudiciais. Aspetos complicados corroem devagar a nossa experiência, e outros vão dando sossego e calma ao que enfrentamos. A vida de cada um é uma mistura de diferentes ingredientes, uns com sabor amargo e que magoam, outros com paladar triste muito consistente, outros com saudosa simpatia. Os colegas que connosco partilharam a vida, nunca abandonam a nossa memória e não deixam de a avivar momentaneamente.

* Foi assim no fim da minha infância e por toda a vida de jovem, depois padre e professor. Muitos se cruzaram comigo, cruzamentos que deram bom fruto e que apoiaram a vida, entretendo alguns e tornando felizes muitos, construindo o que seria uma experiência que dava fruto com todos, na diversão, no recreio, no trabalho árduo e na amizade benfeitora: recordo com saudade o padre José Luís Esteves do Couto, oriundo de Santa Marta de Portuzelo, e o padre Ildefonso Xavier, oriundo de Timor-Leste; o primeiro muito me alegrou com suas brincadeiras em tempo de profícuo trabalho, preparando ambos o futuro, o segundo com a sua vertente explícita de amor à arte sobretudo lendo pautas e tocando órgão.

Recordo o padre José Luís, que comigo viveu doze anos nos corredores dos seminários e que gostava de estar comigo: preparávamos as lições que os professores nos iam dando; era bonacheirão para tudo o que se fazia. Gostava da brincadeira e isto identificou-o toda a vida, mesmo nas paróquias por onde passou e aonde me chamava para fazer alguns sermões. Era difícil vê-lo triste, pois tinha sempre uma piada bem apropriada. Era muito fácil estar com ele e passava-se juntos momentos muito agradáveis.

O padre Ildefonso viveu connosco os últimos seis anos da nossa preparação para o ministério, no Seminário Maior, sendo ordenado em 1978, em Braga. Depois veio paroquiar para Viana, em Melgaço, e aí, não só aplicou o que sabia de arte musical, mas ensinou a muitos a escutar o belo com amor, sendo exímio cultor da arte e nunca recusando apoiar o que lhe pedíamos. Ao serviço da Liturgia nascente na nossa Diocese, era interessante escutar os seus acompanhamentos de órgão e as suas criações em momentos mais improvisados e imprevistos, sempre bem disposto e bem humorado. O SDPL prestou-lhe sentida homenagem no passado encontro diocesano.

Ambos foram sempre simples, serviçais e sinceros.

* Sempre que andamos entretidos com o futuro, os colegas são uma bênção: a vida ativa reflete muito os companheiros que vamos tendo. O futuro é risonho e sabe melhor quando é preparado com outros que connosco se enlaçam e, nas mais diversas situações e diferentes contextos, vão oleando insensivelmente o que vamos edificando. O final é a Bênção de reconhecimento para todos. Na eternidade, padre José Luís e padre Ildefonso, velai pelo nosso futuro!

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