Um “dever” de gratidão

“A Igreja vive na medida em que agradece”. Recordo-me de escutar esta frase dos lábios de D. Anacleto Oliveira, aquando da celebração dos quarenta anos da criação da Diocese de Viana do Castelo, precisamente sob o mote da gratidão. Creio que destas palavras interpelantes podemos intuir que cada cristão (ou mesmo cada ser humano) vive na medida em que agradece. Na verdade, já Cícero dizia que “nenhum dever é mais importante do que a gratidão”.

Notícias de Viana
21 Out. 2021 4 mins
Um “dever” de gratidão

É precisamente com esse olhar grato que me detenho sobre a vida de Mons. Reis Ribeiro, nesta edição 2000 do “Notícias de Viana” que – numa iniciativa tão feliz – lhe presta justíssima homenagem. 

Na certeza de que as palavras são sempre escassas quando queremos falar de uma vida tão vasta como a sua, detenho-me, de forma muito sucinta, em três aspetos que me fazem sentir grato por aquilo que foi, é e continuará certamente a ser o seu percurso.

Em primeiro lugar, Mons. Reis Ribeiro é alguém que foi e é capaz de servir a Igreja em muitos e diversos âmbitos. Na verdade, depois de prosseguir estudos, em Roma, no âmbito da Filosofia e da Sociologia, dedicou-se à lecionação na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. Já em Viana do Castelo, na década de oitenta, destacou-se como diretor do Secretariado Diocesano dos Meios de Comunicação Social e, em concreto, como diretor do “Notícias de Viana”. Na nossa Diocese, fez ainda parte do Tribunal Eclesiástico, foi diretor do Centro Diocesano de Cultura, Assistente Diocesano da Associação de Médicos Católicos, Vigário Episcopal para a Cultura e Educação na Fé, membro do Conselho Episcopal e membro do Conselho Presbiteral. No presente, faz ainda parte do Colégio de Consultores, é Assistente da Cáritas Diocesana e, desde 1993, é Capelão da Congregação de Nossa Senhora da Caridade, na cidade de Viana. 

Este elenco, aparentemente exaustivo, mas bastante incompleto, permite perceber como, de facto, Mons. Reis Ribeiro foi capaz de desenvolver a sua ação em diversos campos. Recusando o comodismo de uma vida instalada, encarnou o Evangelho junto de tantas instituições e de tantas pessoas, sem se deixar vencer pela rotina ou pelo cansaço, mas fazendo da sua vida um sim permanente. Foi, de verdade, um sacerdote “sempre em saída”, usando uma expressão do nosso Bispo Eleito, D. João Lavrador, numa recente entrevista. 

Em segundo lugar – e, seguramente, ajudado por tantas experiências –, foi alguém capaz de dar corpo a uma “Igreja em saída”, como insistentemente pede o Papa Francisco. A sua vida espelha isso mesmo: a preocupação constante de promover o diálogo com o mundo. Como afirma o jesuíta Keith Pecklers, “a Igreja não existe para si mesma, mas só pode realizar a sua missão em diálogo com os diversos fenómenos sociais e culturais”. Mons. Reis Ribeiro percebeu e viveu isto, tantas vezes “à frente do seu tempo”, com o arrojo de trilhar novos caminhos e de abrir novos horizontes. Evitando a tentação de fugir do mundo, soube ver aí o lugar onde a Igreja, sem ser do mundo, tem de desempenhar a sua ação, precisamente porque é aí que está o ser humano. Os seus lúcidos e arejados artigos no “Notícias de Viana” são concretização disto mesmo: leitura das diversas realidades políticas, económicas, sociais e culturais, feita por um homem crente. Mais do que falar para um mundo construído apenas na sua mente, falou e fala sempre para o mundo real.

Em terceiro lugar, Mons. Reis Ribeiro foi alguém que – talvez influenciado pelo seu notável percurso e pela consequente visão ampla sobre o mundo – soube sempre conservar uma simplicidade e uma humildade ímpares. Os tantos lugares de relevo que ocupou poderiam, em algum momento, ser tentação para se servir a si próprio em vez de servir os outros. Mas nunca soube viver assim, porque a sua lógica de vida foi sempre verdadeiramente evangélica: descobriu que grande é aquele que serve. Fez sempre, de cada lugar, escola para crescer no serviço. Entregando-se aos outros, percebeu – não obstante a sua formação académica e a sua experiência de vida – que os outros têm também sempre alguma coisa para nos ensinar, ainda que não partilhem as nossas convicções.

Por conseguinte, sinto-me grato a Mons. Reis Ribeiro. Sinto-me grato, em particular, por ter testemunhado isto “ao vivo” nos quatro anos em que estive ao serviço do “Notícias de Viana”. Aí, comprovei a sua experiência de vida, a sua capacidade de diálogo com o mundo, a sua forma humilde de ser e de estar, refletidas no seu rosto sereno, puro, alvo que falava e fala ao mundo daquilo que ia e vai no seu coração.

Obrigado, Mons. Reis Ribeiro. Que a vida nos conserve, de facto, sempre ligados. Que o seu exemplo continue a inspirar os passos da Igreja e da sociedade, em particular da Igreja e da sociedade do Alto Minho.

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