A mais bela e antiga de Portugal

Foi desta forma que, no último dérbi de futebol alto-minhoto, o AD Limianos recebeu a equipa do SC Vianense. “Antes a mais bela e antiga de Portugal, que uma cidade banal” reproduz de forma concisa e direta, o orgulho – adicionando uma pitada q.b. de provocação – com que os Limarenses sentem a sua Vila. Nada mais oportuno, pois, que aproveitando a comemoração dos 900 anos do Foral de Ponte de Lima, se mostre público este orgulho limiano de, segundo os mesmos, serem a Vila mais bonita e antiga de Portugal.

O Foral de Ponte de Lima foi concedido a 4 de março de 1125, por D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques. Com apenas 16 anos, o futuro primeiro Rei de Portugal, assistia já aqui àquilo que revelava ser uma estratégia clara de independência e desejo de autonomia do Condado Portucalense. Nesse mesmo ano, D. Teresa concederia também foral a Ponte da Barca, vincando essa política de independência que pretendia implementar no território, incluindo a região do Alto Minho. O Condado Portucalense, estabelecido entre 1093 e 1139, estava integrado no Reino de Castela e só em 1143 viria a ser estabelecido o Reino de Portugal, com fronteiras plenamente definidas em 1297.

Esta Carta de Foral de Ponte de Lima, para além do cunho categórico que transmite, em termos de afirmação e autonomia, é, na prática, um documento: um pergaminho, com duas faces manuscritas, em débil estado de conservação, com vestígios de um antigo selo real e datado – curiosamente – da “Era de 1169”. Está na Torre do Tombo e pode ser consultado presencialmente, a pedido, ou digitalmente, por qualquer pessoa, através do site https://digitarq.arquivos.pt/

Mas voltando à minha argumentação: não poderemos obviamente discutir se Ponte de Lima é ou não a mais bela Vila de Portugal. É uma questão que resvala para a subjetividade; subjetividade essa que se acentuará neste artigo, pelo facto de metade dos meus antepassados serem naturais de Ponte de Lima. No entanto, a questão da antiguidade – uma questão francamente objetiva – é colocada inúmeras vezes. Uma coisa podemos afirmar: o título, sem qualquer dúvida, está entregue. Basta chegar de viagem a Ponte de Lima que percebemos, pelos sinais turístico-culturais das autoestradas, que estamos a chegar à “Vila mais antiga de Portugal”.

Ponte de Lima terá sido, com efeito, o mais antigo Foral concedido por governantes Portugueses. No entanto, há historiadores que argumentam que São João da Pesqueira é o mais antigo Foral de Portugal, por ter sido o primeiro aplicado em território Português: foi durante o reinado de D. Fernando I, que São João da Pesqueira terá recebido entre 1055 e 1065 aquele que é o primeiro foral conhecido do nosso território.

Para apimentar um pouco a questão, serve referir que o foral henriquino de Guimarães – onde comumente se diz que “Aqui nasceu Portugal” – foi confirmado apenas em 1128 por D. Afonso Henriques, 3 anos depois de Ponte de Lima. Por último, e a mero título de curiosidade, refiro as datas dos restantes forais alto-minhotos: Valença (1217), Melgaço e Viana do Castelo (1258), Monção (1261), Caminha (1284), Vila Nova de Cerveira (1321) e Arcos de Valdevez e Paredes de Coura (1515).

Ponte de Lima celebra, pois, os 900 anos do Foral, com uma série de iniciativas e uma programação específica, que iniciou ainda em 2023. As comemorações tiveram o seu ponto alto às 00:00 do passado dia 4, com mais uma enchente no Areal. Não se tratou de outra enchente provocada pela descarga das barragens Espanholas, mas sim de uma enchente provocada pela população de Ponte de Lima que, uma vez mais, aderiu em peso à festa, assistindo ao Concerto e ao Fogo de Artificio de celebração. Termino, pois, congratulando todos os Limarenses pelo aniversário do Foral e pela identidade que tão orgulhosamente continuam a ostentar. Muitos Parabéns!