EMRC. Porquê?

Se estivermos atentos ao curriculum no sistema educativo oferecido nas nossas escolas, não é difícil verificar que o materialismo sem metafísica nem transcendência pessoal, que é comum quer ao capitalismo, quer ao marxismo social/comunista, marcam a sua significativa presença. Daí o personalismo ser o justo equilíbrio entre esses dois extremos. Estamos a ensinar ou a […]

Notícias de Viana
28 Jan. 2022 4 mins
EMRC. Porquê?

Se estivermos atentos ao curriculum no sistema educativo oferecido nas nossas escolas, não é difícil verificar que o materialismo sem metafísica nem transcendência pessoal, que é comum quer ao capitalismo, quer ao marxismo social/comunista, marcam a sua significativa presença. Daí o personalismo ser o justo equilíbrio entre esses dois extremos. Estamos a ensinar ou a educar para o domínio material, técnico e não para a dimensão humana. Há algum tempo que as disciplinas de cariz humanista viram os seus programas reduzidos e a suas cargas horárias diminuídas. “As pessoas tornam-se cada vez mais competitivas, cada vez mais insensíveis ao sofrimento dos outros, cada vez se sentem menos responsáveis pelo bem comum. Acabam por ter as ferramentas de decisão, mas não têm as competências pessoais e sociais para serem bons líderes” (Lourenço Xavier Carvalho).  Compete, em primeiro lugar às famílias, educar os filhos para os valores e princípios e, como tal, a Educação Moral e Religiosa Católica quer ser parceira das famílias. A Igreja Católica tem uma proposta efetiva e com provas dadas no sistema de ensino. Temos uma disciplina que, por direito legal, ocupa o seu lugar nas escolas; possui professores profissionalmente qualificados e reconhecidos pelo Ministério da Educação e por tudo isto, assegurados financeiramente pelo mesmo Estado. A grande questão, a meu ver, centra-se no facto de que o próprio Estado reconhece a importância desta disciplina que é a Educação Moral e Religiosa Católica no sistema educativo, e os cristãos a dispensam, muitas vezes, na educação dos seus filhos.

A Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), com programa e manuais próprios, homologados e confirmados pela Conferência Episcopal Portuguesa e pelo Ministério da Educação, está nas escolas públicas do primeiro ao décimo segundo ano de escolaridade. De que nos queixamos quando lamentamos o sistema, a falta de valores transmitidos, a falta de tempo das famílias no seu papel educativo, se é verificável, pelo menos, uma oportunidade de durante um tempo letivo os nossos filhos discutirem os valores em que acreditamos e não o fazemos? A nossa cultura é de tradição judaico-cristã, as chaves de leitura culturais estão nos conteúdos lecionados; a hermenêutica entre cultura e fé é colocada ao nível de compreensão de cada faixa etária; a grande lacuna de desenraizamento identitário pode ser colmatada na frequência desta disciplina. A disciplina proposta não procura o endoutrinamento ou conversão em contexto escolar, mas sim dotar qualquer aluno que a frequente de, para além do já referido, ter acesso a um quadro ético comum a todas as culturas e religiões. Onde estão os filhos dos cristãos na frequência desta disciplina nas escolas?

Seria bom ainda trazer aqui um dado interessante dos últimos anos, que é a frequência da EMRC por parte de alunos oriundos de outras religiões e confissões religiosas. Com a mobilidade internacional de pessoas a que assistimos, todas as semanas nos chegam alunos vindos dos vários cantos e culturas do mundo, e é interessante que os encarregados de educação destes alunos procuram saber o que aborda esta disciplina e qual a sua finalidade. É surpreendente ver que estes recém-chegados a Portugal, de religião hindu e islâmica, entre outras, compreendem de seguida que esta disciplina pode ajudar os seus educandos a compreender melhor a cultura onde pretendem integrar-se; que trabalha a identidade da cultura europeia, que se ensinam ferramentas e conhecimentos para o diálogo intercultural e inter-religioso. Ficam surpreendidos quando a proposta da EMRC realça os princípios éticos comuns às várias culturas e religiões. Claro que não posso deixar aqui de realçar o árduo trabalho dos professores de EMRC que constroem nas suas aulas pontes de harmonia entre os povos, que se refletem no ambiente escolar vivido pelos seus alunos e no afinco em construir estas pontes a partir do programa da disciplina, tornando-o apelativo e aplicável aos contextos reais. No entanto, gostaria de voltar ao início e perguntar, mais uma vez, se os cristãos se sentem comprometidos, responsavelmente, na ação da Igreja na sociedade. A escola é um dos lugares onde tudo acontece e se transforma; onde estão os filhos dos cristãos?

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