Tem 39 anos e é natural de Viana do Castelo. Quando saiu de casa para formar a sua família, as receitas e a forma como as confecionava estavam gravadas na sua cabeça. A cada dia que passava, ganhou um gosto “especial” pela cozinha e percebeu que “também se pode amar alguém através da comida, influenciando muito o bem-estar e a estabilidade de toda a família”.
Em 2014, criou um blog por insistência dos amigos: “Grace na Cozinha”. Ali, partilhava as suas receitas que faziam parte da sua vida e, hoje, muitas delas pertencem ao receituário do Alto Minho. “Depressa descobri que as receitas, que as mães, avós ou tias do meu lugar preparavam, estimulavam memórias afetivas, não só em mim como nos outros”, contou Graciela, admitindo o gosto pela cozinha “mais humilde e antiga”, que integra “os cozinhados na lareira de pedra e a lenha, com o tempo que lhe é merecido, e com o uso de tudo o que se cria e se colhe no quintal de casa”.
O facto de ser designer de profissão é também uma “mais-valia” porque tem “um sentido de estética mais cuidado e apurado”, tornando-a mais “minuciosa” nos detalhes que acompanham as suas receitas. “Neste momento, e para minha realização profissional, estou a conciliar as duas áreas. Foi um caminho involuntário, mas que tem trazido ótimos reflexos”, confidenciou, adiantando que o seu futuro “nunca passará por estar totalmente dedicada à cozinha, mas sim estar ligada a pequenos projetos mais personalizados, ligados ao turismo ou consultadoria”.
O crescimento do blog fez com que, em 2022, recebesse um convite para participar no programa Masterchef, o que a levou para “novos caminhos” na culinária, a usar ingredientes que “nunca tinha usado antes”, a aprender novas técnicas de cozinha e a “sair completamente da caixa”. Como não queria seguir cozinha profissional e desconhecia as suas capacidades para enfrentar a competição, ficou com dúvidas no momento da inscrição. No entanto, quis tentar.
Os próximos planos de Graciela passam por gerir uma unidade de alojamento de Turismo de Aldeia, em Arcos de Valdevez, numa aldeia onde a sua família foi hóspede durante “muitos anos” e de onde tem “memórias felizes”.
Como acontece, sobretudo, no interior norte do país, a Câmara Municipal de Arcos de Valdevez vai “leiloar algumas escolas devolutas do concelho para habitação ou atividades económicas”, dando-lhes uma segunda vida. “Trata-se de um projeto muito especial, por estar a reabilitar uma Escola Primária, pertencente ao Plano dos Centenários e datada de 1968. Estamos muito orgulhosos de estar a recuperar um edifício tão emblemático, forçosamente fechado há alguns anos por falta de alunos e desertificação das aldeias rurais, o que acontece também um pouco por muitas outras aldeias do país”, garantiu, explicando: “O meu papel será gerir o alojamento e talvez criar uma opção de serviço mais personalizado.”
O alojamento abrirá portas ainda este ano e, de acordo com Graciela, será “mais uma opção para os visitantes da zona, que possam desfrutar de um alojamento local privado, com uma identidade muito própria, devido à sua história e função no passado, aliado a um local incrível, tranquilo e com vista privilegiada sobre o rio Lima”.
