Como tem vivido este tempo de pandemia? Em março, antes de fazer uma leitura crente do que estava a acontecer, – talvez só agora comece a fazer – tinha uma leitura mais sanitária, porque sou filha de uma enfermeira e as informações que ia recebendo eram muito nesta área. A partir daí, pensava que não […]
Como tem vivido este tempo de pandemia?
Em março, antes de fazer uma leitura crente do que estava a acontecer, – talvez só agora comece a fazer – tinha uma leitura mais sanitária, porque sou filha de uma enfermeira e as informações que ia recebendo eram muito nesta área. A partir daí, pensava que não podia ficar nesta leitura, mas ouvia o que diziam os políticos – o que se vai fazer, o que se pode ou não fazer … – mas essa leitura também não me satisfazia, mesmo a questão económica, que também me acompanha, e de que nos fomos apercebendo no acompanhamento e acolhimento das pessoas quando começamos a desconfinar, mas, pessoalmente, estas três leituras deixam-me sempre insatisfeita. Queria um olhar de fé e aqui a pergunta não é “que Deus é este que agora nos abandonou?”, mas “que queres Senhor de mim, que queres Senhor de nós?”. E assim, nasceu uma leitura que passa por cinco pequenos passos: 1º) procurar estar nessa presença de Deus: quero viver isto com Ele porque, se não estou unida e me deixo unir a Este Deus a Quem sigo, não consigo ajudar os outros, quanto mais a mim; 2º) descobrir cada dia os motivos para a gratidão; 3º) descobrir que nem sempre sou aquilo que Deus espera, que nem sempre o meu olhar e os meus gestos falam Daquele Deus a Quem sigo, e isso levou-me a reaprender a pedir perdão e a perdoar, até mesmo dentro de casa; 4º) reconhecer aquilo que preciso; 5º) olhar, também, para a frente.
O que tem sentido ao contactar com as comunidades?
É interessante porque nesta fase, já diferente do primeiro confinamento, em que contactávamos e sentíamos incerteza, neste momento sinto que brota de cada comunidade a gratidão de, no meio disto tudo que vivemos, sermos porta-vozes de esperança para muitos, quer para os de dentro da comunidade, quer para os de fora. Também me tenho apercebido que se vai fazendo este tipo de leitura: que Deus nos acompanha, que Deus está presente, não só com os consagrados, mas com todos, e que a finitude faz parte da vida, que não fomos enganados por Deus, porque o medo, a incerteza e a morte que nos persegue já estavam presentes; nós é que vivemos num contexto pós-contemporâneo, onde já não se fala da morte, e a pandemia veio pôr isso tudo a descoberto. Mas, ao falar com uns e com outros, creio que reina o sentido da gratidão, de podermos estar juntos, de valorizar estar ao lado daqueles que sofrem, que temos coisas às quais não temos direito, dando-nos conta do que é essencial na vida; que sentimos falta da proximidade, dos gestos de ternura; e percebemos que o dom da vida é o mais importante, e que, não ter estes gestos, tem que ver com valorizar a própria vida. No fundo, há um olhar que permite ver que Este Deus é o Deus de todos, que chama a essa fraternidade que é universal, (…) e, no meio da tristeza, sermos portadores desta alegria.
Como tentou fazer face aos desafios lançados pela pandemia?
Procurar, desde casa – e nos primeiros dias não foi muito fácil – aprofundar o modo de chegar às pessoas através dos meios que tinha à minha volta. O primeiro confinamento foi um tempo de contactar com o Reitor e os restantes responsáveis do Santuário e ver como iríamos fazer, inclusive com a página do Santuário e, naquela fase, com meios muito incipientes, transmitimos a adoração durante 4 horas, e chegaram a entrar 900 pessoas na adoração, atingindo outros lugares. Por outro lado, continuámos a catequese por via digital, algo que, por alguns motivos excecionais, como atrasos de avião, já tinha feito, mas que, agora, se tornou recorrente; mas não é fácil, porque nos falta a presença. De outro modo, passei a estar horas ao telefone, a acompanhar as pessoas que acompanhava presencialmente. Alguns não têm Whatsapp ou internet, porque são pessoas de mais idade; então escuto, via telefone. Por fim, perguntar, como já disse, o que é que Deus quer de nós e preparar um regresso em que, pelo menos, estejamos mais conscientes de que precisamos uns dos outros.
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