“Para a Igreja de Portugal e para os jovens, em particular, a JMJ é uma oportunidade única”

Daniela Maciel, de 19 anos, e Ricardo Fernandes, de 35, representaram a Diocese de Viana do Castelo e participaram na cerimónia da passagem dos símbolos da JMJ (Jornada Mundial da Juventude), no Vaticano. Em conversa com o Notícias de Viana, confidenciaram que a experiência que marca o arranque da JMJ foi “especial”. No entanto, admitiram que organizar a JMJ é uma “oportunidade única” e exige, ao mesmo tempo, “maior responsabilidade”.

Micaela Barbosa
3 Dez. 2020 7 mins
“Para a Igreja de Portugal e para os jovens, em particular, a JMJ é uma oportunidade única”

Notícias de Viana (NdV): O que significa Portugal receber a JMJ em 2023?

Daniela Maciel (DM): Representa uma grande responsabilidade, mas também uma grande alegria e oportunidade para os jovens, em particular os portugueses, em organizar umas jornadas mundiais.

Ricardo Fernandes (RF): Representa uma graça. As jornadas surgiram em 1985, por intermédio do Papa João Paulo II e já percorreram vários países. Possivelmente, muitas vezes pensaram que o nosso país seria pequeno demais para organizar um evento desta importância. É, na verdade, um dos eventos mais importantes da Igreja Católica. O facto de ser Portugal a receber a JMJ é uma graça de todo o tamanho e que temos de aproveitar.

(NdV): Esteve presente na passagem dos símbolos, no Vaticano. O que destaca deste momento? 

(DM): A alegria com que os jovens receberam os símbolos e aceitaram a oportunidade e a responsabilidade que lhe deram em organizar este grande evento.Não tenho palavras para descrever a minha experiência na passagem de testemunho, mas não deixa de ser uma grande alegria poder vivenciá-lo. Quem esteve presente é que realmente o conseguiu sentir. Foi uma sensação que não existe igual.

(RF): O que destaco é, sobretudo, a oportunidade de recebermos os símbolos, porque estamos a viver tempos difíceis devido à pandemia. Esta cerimónia estava prevista para março, no Domingo de Ramos, mas não foi possível. Por isso, havia sempre a expectativa de quando é que iríamos receber os símbolos. Felizmente, conseguimos agora, no Domingo de Cristo Rei e, para nós, já foi uma graça muito grande, porque ainda estamos em tempo de pandemia e as coisas estão a ficar mais graves. Uma pequena delegação conseguiu estar lá e receber os símbolos, em representação de todos os jovens do país. Estavam inscritos cerca de mil jovens para ir recebê-los em março. Ou seja, iria ser uma grande festa. Desta vez, fomos cerca de 25, o que tornou a cerimónia mais especial para quem participou. Foi uma cerimónia mais íntima. Tivemos muito mais perto do Papa Francisco. Destaco também as palavras utilizadas por ele na homilia. O Papa Francisco pediu aos jovens para colocarem em prática as obras de misericórdia como caminho para a sua vida. O curioso é que ele nem chamou “caminho”, mas “estrada”. Ou seja, dizemos que o caminho é uma coisa pequena, mas a estrada é muito maior. Ele falou da caridade, do amor e do fazer o bem. Pelo que falei com os outros jovens, foram palavras que tocaram o nosso coração.

(NdV): A cruz e ícone Mariano são os símbolos da Jornada. O que significam e qual o seu papel na preparação para as JMJ? 

(DM): São os símbolos que foram estipulados para as JMJ. Vão passar pelas Dioceses do país, mostrando que há um caminho de preparação que deve ser feito até à Jornada. Os jovens, ao verem os símbolos a passar na sua Diocese relembram que têm uma missão a cumprir, dando-lhes força para continuar.

(RF): Tem um papel importante porque, de uma certa forma, são os símbolos visíveis da Jornada. Foi o Papa João Paulo II que ofereceu esta cruz aos jovens para que, de alguma forma, a levassem a todos os lugares e pessoas. No entanto, importa ainda referir que a Jornada também inclui a espiritualidade. A Igreja de Portugal estava à espera destes símbolos para arrancar com a preparação para este grande evento. Até agora, estávamos a meio gás; com a sua chegada, temos que seguir a estrada.

(NdV): “Não renunciemos aos grandes sonhos. Não nos contentemos em fazer apenas o que é devido”. Este foi um forte apelo do Papa Francisco na passagem dos símbolos. Como sente este convite na sua vida? 

(DM): Esta mensagem significa que não devemos deixar que a vida passe, e que devemos sempre lutar por aquilo que queremos, tentando ao máximo realizar os nossos objetivos e sonhos.

(RF): São palavras que nos aquecem o coração. Temos um caminho, e aspirar às coisas do alto é fazê-lo cada vez mais. E, com isto, pensar em grande. Na maior parte do nosso tempo, não pensamos em grande. Ou seja, pensar na mensagem de Deus, que é caridade, amor e fazer o bem. Na mensagem, o Papa refere ainda para não fazermos escolhas banais. Hoje em dia, vemos muitos jovens a fazer escolhas banais. São tão iguais aos outros e vemos que são poucos aqueles que se destacam, no bom sentido da palavra. Ou seja, pessoas de bem. Ainda assim, acrescenta que devemos viver e não vegetar; por isso, estas palavras tocam-nos e dão nos força para aquele caminho que temos de percorrer, principalmente, nestes três anos. A juventude tem de percorrer. Não tem outra hipótese. Nós temos de organizar uma jornada e mexer.

(NdV): O lema da Jornada é “Maria levantou-se e partiu apressadamente”. O que pode ele dizer aos jovens de hoje? 

(DM): Maria, mesmo estando grávida, partiu sozinha para uma caminhada difícil. Desta forma, a sua imagem mostra-nos que também nós devemos ter essa capacidade de seguir sempre em frente, nunca desistindo ou parando.

(RF): É curioso que, no sábado, tivemos um encontro com o Cardeal Tolentino Mendonça e ele próprio fez uma reflexão do Evangelho. Eu acho que o Papa pede aos jovens para estarem em saída. Ou seja, Maria saiu apressadamente e, desta forma, os jovens também têm de partir e ir ao encontro das periferias, dos mais frágeis e mais pobres. Foi exatamente isso que Maria fez ao receber uma graça de todo o tamanho, que foi receber no seu ventre o Filho de Deus. Ela foi logo levar essa alegria a todos. É um bocado isso que o Papa nos pede, aos jovens de Portugal. Quando descobrimos esta graça de Jesus e de Deus, estávamos quietos e fomos convidados a partir para anunciar essa mesma alegria, e o Papa também quer, de uma certa forma, que estas Jornadas sejam evangelizadoras. Evangelizar não é estarmos deitados na cama ou sentados no sofá. Temos de estar em saída e, por isso, o tema destas Jornadas vai ao encontro das ideias do Papa para a Igreja atual: em saída, que parte e vai ao encontro das pessoas.

(NdV): Qual a interpelação que gostava de deixar para mobilizar jovens para a JMJ? 

(DM): É uma oportunidade incrível de ver muitos jovens reunidos em nome de alguém: Deus, neste caso. Naquele momento, vê-se a união, as amizades criadas e a espiritualidade que é vivida durante esses dias. Por isso, é uma oportunidade para poderem sentir algo único e especial.

(RF): Que não percam esta oportunidade única. Acho que para a Igreja de Portugal e para os jovens, em particular, é mesmo uma oportunidade única. Já fui à JMJ em Madrid e no Brasil. Acompanhei de perto tudo e sei o que custou ir ao Brasil, devido às despesas. Em 2023, temos a Jornada mais perto e, por isso, é uma experiência que os jovens não podem perder. É uma grande festa da juventude e de pessoas que acreditam em Deus. Certamente, viverão momentos muito especiais. Muitas vezes, Deus une-nos e parece que, quando estamos com estas pessoas em Igreja, já nos conhecemos há muito tempo, porque temos algo em comum que nos liga. Os jovens de Portugal não podem perder esta oportunidade: devem desde já começar a preparar-se através das catequeses e de outras iniciativas para que, quando chegarmos a 2023, estejamos todos preparados para ir às Jornadas e também, que é muito importante, acolher os jovens que vêm de outras partes do mundo. Somos um país pequeno e, apesar da sede ser em Lisboa, não há capacidade para os acolher lá a todos. Desta forma, nas pré-Jornadas (a semana anterior), as Dioceses portuguesas vão receber jovens dos vários lugares do mundo. Ou seja, é um caminho que deve ser preparado desde já. Preparar os nossos jovens para os receber e depois, para levá-los às Jornadas.

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