“Tired of lying in the sunshine/Staying home to watch the rain/And you are young and life is long/And there is time to kill today
And then one day you find/Ten years have got behind you” – Time, Pink Floyd
“Não ter tempo”, “Perder tempo”, “Matar o tempo” são expressões que ouvimos frequentemente. O tempo tem de ser aproveitado, e bem. O tempo é demasiado precioso para apenas ser gasto.
Marcel Proust “buscou-o” a partir de uma madalena.
Quando éramos pequenos, as férias grandes eram mesmo GRANDES. Havia tempo de sobra, principalmente para quem vivia numa pequena vila onde não havia cinema, surf, vela, karaté, ballet ou outras actividades quejandas. Ia-se à escola, em algumas tardes à “doutrina”, faziam- se cópias, as contas, resolviam-se os problemas da água que entrava e saía de um tanque, brincávamos, líamos, e esperávamos a hora do começo da RTP, ou do jantar. De vez em quando, uma ida ao Porto.
Tudo mudou – a idade, a vila passou a cidade, a vida acelerou e o tempo encurtou. A vida agitou-se com a profissão, a família, o mundo à nossa volta. Adiaram-se projectos, viagens, sonhos. Tínhamos tempo. Havia muito tempo à nossa frente.
E um dia, ficamos, de novo, com mais tempo, pelo menos teoricamente, embora continuemos a ouvir: Agora ainda tenho menos tempo…
Como tudo, o tempo precisa de organização. Da distinção entre o essencial e o supérfluo. Do interesse e disponibilidade de cada um. Claro que isto é uma aposentada a escrever. (Aproveito para lembrar que é preciso preparar bem cedo o tempo da “reforma” …)
Ter tempo para nós, para os outros, para o bem comum. Se dividir assim o dia, vai ter bons resultados.
Quase todos os dias, tenho o luxo de uma manhã de leitura, no café. Um tempo sublime! Evito conversas “chochas” que, algumas vezes me estragam o dia, sem interesse, o falar por falar.
Não tenho Netflix por opção, mas uma boa série policial inglesa é outro dos meus luxos. Que saudades de Endeavour e Morse! Vê-se Vera, Ripley e outros, e dá-se o tempo por bem empregue.
Os outros precisam de nós, também, os mais chegados e aqueles que nem sequer sabemos quem são, ou iremos alguma vez saber. Voluntariemos.
Tenho o privilégio de poder ajudar a preservar materiais que iriam para o lixo, catalogá-los e fazê-los seguir para o local mais indicado. Deixam de ser tão “efémeros”.
Outro tempo leva-me a regressar ao passado bem longínquo, ficar a conhecer o trajecto de muitas famílias, imaginar as suas vidas nos séculos XVII e XVIII, o papel da mulher, a sua completa anulação, como neste caso: “Aos …. morreu a mulher de … de quem me esqueci de perguntar o nome…”. Nem depois de morta!
(Precisamos de mais voluntários para que a base de dados que está a ser criada possa tornar estes dados acessíveis a todos.)
E viajar!!!
Tempo aproveitado. Tempo proveitoso. Tempo realizado.
Nestes dias tão incertos, tão conturbados, vamos usar o nosso tempo da melhor maneira. Vamos fazê-lo crescer, antes que nos fuja.
SUGESTÕES:
Ler – Marcel Proust, Em busca do tempo perdido (trad. PedroTamen)
Ver – Endeavour e Morse
Ouvir – Time, Pink Floyd
**(Escrito de acordo com a ortografia antiga)
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