D. João Lavrador institui quatro seminaristas no ministério de leitor

Uma semana antes de D. João Lavrador instituir quatro seminaristas no ministério do Leitor, também o Papa Francisco instituiu, no ministério de Leitor e de Catequista, homens e mulheres de quatro continentes, numa celebração eucarística na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

Notícias de Viana
27 Jan. 2022 9 mins
D. João Lavrador institui quatro seminaristas no ministério de leitor

Na homilia, o Papa Francisco questionou os fiéis sobre a Igreja, apelando-lhes que se apaixonem pela Sagrada Escritura. “No centro da vida do povo santo de Deus e do caminho da fé, não estamos nós com as nossas palavras. No centro, está Deus com a Sua Palavra”, afirmou, comentando a primeira leitura e o Evangelho, que tinham como protagonista a Sagrada Escritura.

O Pontífice convidou ainda os fiéis a meditar sobre dois aspetos: a Palavra desvenda Deus, e a Palavra leva-nos ao homem, questionando “qual é o rosto de Deus que se anuncia na Igreja: o Salvador que liberta e cura, ou o Temível que esmaga, avivando os sentimentos de culpa?”. “A Palavra de Deus alimenta e renova a fé: voltemos a colocá-la no centro da oração e da vida espiritual!”, salientou, lembrando que “a Palavra impele a caminhar ao encontro dos irmãos”. “Irmãs e irmãos, a Palavra de Deus transforma-nos, não a rigidez: essa esconde-nos. E a Palavra de Deus transforma-nos, penetrando na alma como uma espada”, disse.

No final da celebração, Francisco deixou um pensamento aos Leitores e Catequistas “que foram instituídos” e “chamados à tarefa de servir o Evangelho” anunciando-o, “para que a sua consolação chegue a todos”. “Esta, aliás, é também a missão de cada um de nós: ser arautos críveis, profetas da Palavra no mundo”, frisou, terminando: “Por isso, apaixonemo-nos pela Sagrada Escritura, deixemo-nos interpelar profundamente pela Palavra, que desvenda a novidade de Deus e nos leva a amar incansavelmente os outros. Voltemos a colocar a Palavra de Deus no centro da pastoral e da vida da Igreja! Vamos ouvi-la, rezá-la e colocá-la em prática.”

Testemunhos Seminaristas

O teólogo João Duque realçou, numa conferência para Canonistas no ano de 2008, que «o primeiro elemento fundamental de qualquer vocação é o próprio chamamento, que não é nosso, mas nos é dirigido». Ora, o chamamento estava feito e apenas faltava a minha resposta – livre e responsável – a esse apelo: preparar-me para a missão. 

Foi assim que eu, João Pedro Santos, natural da Paróquia de São Romão de Neiva, Arciprestado de Viana do Castelo, me decidi a entrar, em maio de 2016, no Seminário Diocesano de Viana do Castelo, para responder livre e responsavelmente a este chamamento, a esta voz que ecoava dentro de mim e que necessitava de uma resposta da minha parte. 

Neste momento, preparo-me para receber, nessa mesma liberdade e responsabilidade, o Ministério de Leitor com os meus três amigos e condiscípulos que, desde setembro de 2016, fazem caminho comigo, em ordem ao Presbiterado: o João Cruz, o Renato e o Saul. Receber este Ministério é, para mim, dar voz à Palavra que é Vida, depois de esta me ter seduzido e transformado interiormente.

Ser anunciador da Palavra, é predispor-me a ser eco da voz de Deus que deixa cada um de nós expectante por não sabermos aquilo que nos espera nem o lugar onde vamos ser a voz Daquele que já é a Voz por excelência. Apenas cada um de nós se predispõe, na sua fragilidade, a ser testemunha da Palavra que nos transformou interiormente e que fez com que encontrássemos a nossa verdadeira vocação. Ao sermos testemunhas frágeis que interpelam e respondem, mas que também são interrogadas e investigam, colocamo-nos em missão, que consiste precisamente – voltando à referida conferência proferida pelo teólogo João Duque – «em levar o chamamento de Deus a todos os humanos e ajudá-los a responder positivamente a esse chamamento».

Ao trilhar este caminho, sinto-me corresponsável por fazer germinar a minha vocação em prol do anúncio da Palavra, como no-lo é dito por Sophia: «Senhor, como estás longe e oculto e presente! […] Fito em meu redor a solenidade das coisas como quem tenta decifrar uma escrita difícil. Mas és Tu que me lês e me conheces». És Tu, Senhor, que chama por mim para me apropinquar de Ti; é a Ti, Senhor, a Quem agora me coloco ao dispor, para ser eco da Tua Palavra.

João Pedro Santos

Sou o Saul, tenho 23 anos e sou da Paróquia de S. Miguel de Perre, Arciprestado de Viana do Castelo.

Com a Instituição no Ministério de Leitor, sou chamado a uma observância mais atenta da Palavra do Senhor e acima de tudo, proclamá-la a todos, pois esta Palavra é o testemunho vivo daquilo em que acreditamos.

Enquanto seminarista, a caminho do Sacerdócio, o Ministério de Leitor, não é apenas uma etapa que se tem que completar, mas sim, uma confirmação do Sim diário que deve ser dado, um Sim que é pensado, refletido e acima de tudo, orado. Não podemos apenas pensar nesta resposta aquando da entrada para o Seminário e na ordenação. Todo o caminho no Seminário é um discernimento contínuo, em que somos chamados a rezar a nossa vocação e se este é o caminho que Deus quer para nós.

Chamado, agora, a proclamar a Palavra do Senhor a todos os cristãos, tomo mais uma vez consciência de que não estou a ler uma história, nem estou a ler algo por mim escrito, mas sim, testemunho da revelação de Deus a toda a humanidade. Enquanto leitores deste testemunho, deve haver em nós uma transformação para melhor, no sentido de compreender e posteriormente, transmitir a todo o Povo de Deus.

Continuo este caminho de oração e discernimento, rumo a Cristo, agora com a missão que cumprirei diligentemente enquanto Leitor da Palavra.

Saúl Narciso

O meu nome é Renato Costa, tenho 23 anos e sou natural da Paróquia de Gondomil, Arciprestado de Valença.

A minha caminhada vocacional começou desde muito cedo, o que me levou a ingressar no Seminário menor de Viana do Castelo no sétimo ano de escolaridade. O caminho foi-se trilhando e, atualmente, encontro-me no quinto ano de Teologia.

É com alegria que me preparo para receber o ministério de Leitor. O leitor é chamado não só a proclamar fielmente a Palavra, mas antes de tudo, a deixar-se transformar por ela. «Não basta ser crente, devemos também ser credíveis» (Rosario Livatino), ou seja, é na relação do que proclamamos com o que vivemos que mostramos Deus aos outros.

Esta vivência não deve ser motivo para medos ou receios. Já que, afinal, Deus faz muito com o pouco que Lhe damos.

Renato Costa

Há uma caminhada que foi iniciada no mistério de Cristo – verdadeiro Sacerdote – e, nesse sentido, devo deixar-me conduzir pelo Seu sacerdócio. Ele é o verdadeiro Sacerdote que Se entregou, e, neste caminho que percorro, significa, também, entrega. Entregar-me àqueles e àquelas a quem dou o meu tempo.

Na pretensão de querer dar continuidade ao mistério vocacional, que se me desvela dia após dia, eu, João Manuel Santos Cruz, 24 anos de idade, natural da Paróquia de Agualonga, do Arciprestado de Paredes de Coura, serei instituído no ministério do Leitorado, no dia 02 de fevereiro deste ano de 2022. Uma instituição que concerne no anúncio da Palavra de Deus, na qual devo ser consequente com a minha fé.

Ao receber este ministério, tomo consciência da importância que é preciso dar à Palavra de Deus, para que ecoe nos nossos ouvidos e consiga transformar-se em cada um. Para isso, é necessária uma maior atenção à leitura, e sua consequente meditação. Individualmente, somente são palavras, mas no conjunto, Quem as profere dá-lhes vida; e vida continuarão a ser, se uma singela vontade for proporcionada para as acolher.

Neste passo, rumo ao ministério de Leitor, recordo o chamamento à vocação que me foi (e continua a ser) proposto. Há seis anos, com a minha entrada no Seminário, dei um passo em frente – um passo para a voz que me chamava, desde muita tenra idade. Nessa altura, não sabia quem era, de onde vinha, nem o porquê de me chamar. Hoje, essa escuridão que me ofuscava esvaneceu-se, e a minha vida encontrou um clarão que encaminha para Aquele que me chama. 

Cristo, hoje, nos chama, e Cristo, hoje, nos envia a anunciar a Palavra por um caminho de confiança, mesmo sabendo que nesse caminho surgem interrogações, incertezas e angústias. Contudo, recordando as palavras de D. José Tolentino Mendonça na sua obra O Tesouro Escondido: “Deus sorri e faz-nos sorrir. Abramos com confiança o nosso coração, com todas as suas dificuldades e feridas. Deixemo-nos amar e cuidar por Deus”.

Concluindo, encaro a vocação como um caminho que orientará muitos esforços e muitas ações, numa direção de serviço, na certeza de que essa será uma orientação da minha vida que Ele me deve indicar. Um constante discernimento que se vai fazendo e percorrendo e, com o tempo, a resposta vai-se dando. Com este passo dado na minha vocação, rumo ao ministério de Leitor, tomo consciência que, pela Palavra, se leva Cristo às pessoas e a imagem deste Deus que é Pai e Amor para cada pessoa. Este é o marco de guia: ser à imagem e semelhança de Deus, no sentido de mostrar às pessoas este Deus; e, com aquilo que nos é pedido, ser presença no sentido mais humano que se possa ser.

João Cruz

Tags Religião

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