Segundo dados oficiais da Oficina del Peregrino, até ao início de outubro, 470.209 peregrinos já chegaram a Santiago de Compostela, um aumento de 6% face a 2024. Mais de metade (54,7%) são estrangeiros e quase um em cada quatro escolheu o Caminho Português, nas variantes Central e da Costa.
É precisamente nesta rota atlântica, que acompanha o mar desde o Porto até à Galiza, que o crescimento tem trazido novos desafios. Entre Caminha e A Guarda, na travessia do rio Minho, o transporte fluvial tornou-se habitual para muitos peregrinos. Onde, antes, havia um ferry municipal (Santa Rita de Cássia), agora são barcos privados que asseguram a passagem dos peregrinos. Um negócio em crescimento, mas que enfrenta concorrência feroz, falta de regulação e acusações cruzadas.
Segundo operadores ouvidos pelo Notícias de Viana, existem, atualmente, “pelo menos sete empresas” a fazer a travessia. “Há guerra entre nós, não nos entendemos. Chega para todos, mas como estamos espalhados por vários pontos, tentamos apanhar o maior número possível de peregrinos”, admite José Miguel, taxista náutico há oito, considerando: “Isto devia funcionar com uma praça de táxis fluvial. Estamos à deriva.”
Também Rui Magalhães, taxista fluvial e antigo pescador, reconhece que “devia haver organização e respeito entre todos”. Embora sublinhe que “há espaço para todos”, alerta para a desordem atual. “Estamos todos espalhados, as pessoas andam aí com o GPS à procura dos barcos. Deveriam existir praças fluviais, como nos táxis terrestres”, sugere, confidenciando que já assistiu a situações “pouco transparentes”, incluindo publicidade enganosa ou barcos sem as condições necessárias. “Aqui fazem o que querem. Eu foco-me no meu trabalho, mas vejo muita coisa”, lamenta.
Os meses de verão trazem centenas de peregrinos por dia, que contribuem para o movimento económico das duas margens do rio. No entanto, a ausência de coordenação é evidente. Não há horários definidos, preços uniformes ou sinalização clara. Cada operador trabalha por conta própria.
Marco Valadares, 42 anos, é o dono da Táxi Mar, a empresa mais antiga a operar na zona. Filho e neto de pescadores, viu uma oportunidade quando o ferry parou. “Quando o meu pai faleceu, o ferry foi morrendo aos poucos. Vi aqui um buraquinho, e comecei com uma gamela do meu avô”, recorda.
Hoje, tem três barcos e um bar de apoio aos peregrinos. “Sou o único que está aberto o ano inteiro e que tem casa de banho para os peregrinos. No inverno, quando está frio e chove, quem é que os leva? Os outros vão embora”, atira, defendendo uma distribuição mais justa e organizada. “Toda a gente que trabalhou para mim montou depois empresas. Agora, tenho concorrência de todos os lados, e sem controlo. Há quem vá de bicicleta atrás dos peregrinos para os desviar do centro histórico de Caminha. Isso é enganar turistas”, critica.
A disputa entre operadores tem também um lado político e ambiental. O empresário aponta, também, o dedo a projetos financiados com fundos europeus que, segundo diz, “nunca chegaram a funcionar”.
Rui Magalhães confirma as dificuldades. “Eles vendem a imagem do barco elétrico, mas o que funciona é um barco pequeno com motor a gasolina. Isso engana os peregrinos. Estão a vender algo que, na prática, não existe”, refere, acrescentando: “O canal precisa de dragagens. Sem isso, estamos limitados a operar apenas algumas horas por dia. Se isto con
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