Exclusivo Vida e Cultura

Caminho de Santiago ultrapassa 470 mil peregrinos. No Alto Minho, táxis náuticos crescem, mas sector exige regras

Segundo dados oficiais da Oficina del Peregrino, até ao início de outubro, 470.209 peregrinos já chegaram a Santiago de Compostela, um aumento de 6% face a 2024. Mais de metade (54,7%) são estrangeiros e quase um em cada quatro escolheu o Caminho Português, nas variantes Central e da Costa.

Micaela Barbosa
3 Nov. 2025 6 mins

É precisamente nesta rota atlântica, que acompanha o mar desde o Porto até à Galiza, que o crescimento tem trazido novos desafios. Entre Caminha e A Guarda, na travessia do rio Minho, o transporte fluvial tornou-se habitual para muitos peregrinos. Onde, antes, havia um ferry municipal (Santa Rita de Cássia), agora são barcos privados que asseguram a passagem dos peregrinos. Um negócio em crescimento, mas que enfrenta concorrência feroz, falta de regulação e acusações cruzadas.

Segundo operadores ouvidos pelo Notícias de Viana, existem, atualmente, “pelo menos sete empresas” a fazer a travessia. “Há guerra entre nós, não nos entendemos. Chega para todos, mas como estamos espalhados por vários pontos, tentamos apanhar o maior número possível de peregrinos”, admite José Miguel, taxista náutico há oito, considerando: “Isto devia funcionar com uma praça de táxis fluvial. Estamos à deriva.”

Também Rui Magalhães, taxista fluvial e antigo pescador, reconhece que “devia haver organização e respeito entre todos”. Embora sublinhe que “há espaço para todos”, alerta para a desordem atual. “Estamos todos espalhados, as pessoas andam aí com o GPS à procura dos barcos. Deveriam existir praças fluviais, como nos táxis terrestres”, sugere, confidenciando que já assistiu a situações “pouco transparentes”, incluindo publicidade enganosa ou barcos sem as condições necessárias. “Aqui fazem o que querem. Eu foco-me no meu trabalho, mas vejo muita coisa”, lamenta.

Os meses de verão trazem centenas de peregrinos por dia, que contribuem para o movimento económico das duas margens do rio. No entanto, a ausência de coordenação é evidente. Não há horários definidos, preços uniformes ou sinalização clara. Cada operador trabalha por conta própria.

Marco Valadares, 42 anos, é o dono da Táxi Mar, a empresa mais antiga a operar na zona. Filho e neto de pescadores, viu uma oportunidade quando o ferry parou. “Quando o meu pai faleceu, o ferry foi morrendo aos poucos. Vi aqui um buraquinho, e comecei com uma gamela do meu avô”, recorda.

Hoje, tem três barcos e um bar de apoio aos peregrinos. “Sou o único que está aberto o ano inteiro e que tem casa de banho para os peregrinos. No inverno, quando está frio e chove, quem é que os leva? Os outros vão embora”, atira, defendendo uma distribuição mais justa e organizada. “Toda a gente que trabalhou para mim montou depois empresas. Agora, tenho concorrência de todos os lados, e sem controlo. Há quem vá de bicicleta atrás dos peregrinos para os desviar do centro histórico de Caminha. Isso é enganar turistas”, critica.

A disputa entre operadores tem também um lado político e ambiental. O empresário aponta, também, o dedo a projetos financiados com fundos europeus que, segundo diz, “nunca chegaram a funcionar”.

Rui Magalhães confirma as dificuldades. “Eles vendem a imagem do barco elétrico, mas o que funciona é um barco pequeno com motor a gasolina. Isso engana os peregrinos. Estão a vender algo que, na prática, não existe”, refere, acrescentando: “O canal precisa de dragagens. Sem isso, estamos limitados a operar apenas algumas horas por dia. Se isto con

Para continuar a ler este artigo

Torne-se assinante e tenha o poder da informação do seu lado.

  • Edição Digital 2 meses

    5,00 Subscrever
  • Edição Digital Anual

    25,00 Subscrever
  • Edição Digital + Edição Papel Anual

    35,00 Subscrever
  • Cancele quando quiser Saber Mais

    Em Destaque

    Notícias atuais e relevantes que definem a atualidade e a nossa sociedade.

    Opinião

    Espaço de opinião para reflexões e debates que exploram análises e pontos de vista variados.

    Explore outras categorias