Além da Ponte, um bairro histórico de Ponte de Lima

Nuno de Matos
23 Jan. 2025 3 mins
Nuno Matos

O bairro da Além da Ponte sempre foi encarado como um género de hall de entrada da vila limiana. Por lá ainda podemos encontrar várias casas de famílias que marcaram a vida cívica e social de Ponte de Lima, no entanto, como noutros bairros do centro histórico limiano, o que se destacava era a forte componente comercial.

Na Além da Ponte, os cereais foram durante anos e anos os “reis” dos negócios. A farinha e o pão foram uma referência no comércio daquele bairro. Ainda no início dos anos 80 do século passado, era fascinante observar a chegada do moleiro à rua (a rua Manuel Lima Bezerra é localmente conhecida por “A rua”), em cima da sua carroça, puxada por um garboso cavalo esbranquiçado.

Lembro-me que muitas blusas, saias e fatos de cores vivas e espampanantes de mulheres recentemente enlutadas passavam pelo tintureiro, saindo de lá no mais sombrio negro. Mas o tintureiro não prestava apenas os seus serviços nessas alturas de pesar, servia para dar vida à roupa que tinha perdido a cor doutros tempos, mesmo que a opção tivesse por passar pelo negro.

A vida também passava pelas mercearias, pelas padarias e até, vejam lá, pelas agências funerárias. Por lá existiam também as famosas e afamadas tascas, com o agora divulgado bacalhau de cebolada e outros petiscos, onde nos dias de feira, antes de retomarem o caminho de regresso, se juntavam muitas pessoas vindas de locais como as Argas, Cerquido, Labruja ou do concelho vizinho de Paredes de Coura. Grupos de pescadores de Viana do Castelo faziam “peregrinações” para provarem o vinho novo, acompanhado por alguns pitéus. A loja de tecidos com os seus milhares de botões, o funileiro e, claro, o barbeiro, centro das novidades do bairro e do mundo.

Hoje, a Além da Ponte já não é assim, mas está longe de estar morta. Por um lado, são as intervenções vindas da Câmara Municipal de Ponte de Lima, os Jardins Temáticos, o Albergue de Peregrinos, o Museu do Brinquedo Português, o Hotel e privados como restaurante, tasquinhas e alojamentos locais. Por outro, é a vaga de novos habitantes, alguns com raízes familiares no bairro, outros vindos de fora, mas que juntos dão um colorido que, infelizmente, já vai rareando noutros centros históricos. Por lá ainda se ouvem risos de crianças e conversas entre vizinhos.

É verdade que a maioria dos negócios de que falei, as lojas por onde andei na minha infância, já desapareceram, mas também não deixa de ser verdade que a vida é feita de mudança. Felizmente, para a Além da Ponte, após alguns anos de degradação e desinvestimento, vivem-se tempos de esperança.

Nota

O preconceito e a ignorância combatem-se com mais leitura, com mais estudo, resistindo a estereótipos e basismos, procurando a verdade e o conhecimento.

Infelizmente muitos preferem viver numa sociedade recalcada, no entanto, os nossos direitos, os nossos anseios, valem por eles próprios, não podem existir em detrimento ou rebaixamento dos outros.

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