O verão no Alto Minho é marcado por festas, romarias e festivais. Em Ponte de Lima, mais concretamente, vive-se as Feiras Novas. Uma tradição que trouxe milhares de pessoas à vila mais antiga de Portugal para participar no vasto programa religioso e cultural.
Em declarações à Agência ECCLESIA, o pároco de Ponte de Lima, Pe. José Fernando Caldas, afirmou que a Igreja Católica tem “um papel importante” nas festas e romarias que no verão se realizam no Alto Minho e, em concreto, nesta região. “Todo o Alto Minho é marcado profundamente pela religiosidade e por festas ao longo de todo o ano. Claro que, o verão, de um modo particular, seja pelos imigrantes que nos visitam, familiares que estão no estrangeiro, gente que trabalha noutras cidades e que passa aqui as suas férias, faz com que as romarias desta altura sejam mais participadas, que tenham talvez uma alegria diferente”, disse.
Segundo o pároco de Ponte de Lima, as famílias e os amigos juntam-se e “festeja-se a alegria da vida, da esperança e da própria fé”, observando que a relação entre o religioso, o profano e as tradições acontece “como tudo na vida”, e que a dimensão da festa “põe em relevo aquilo que é importante, que é essencial”. “O humano tem fundamentos antropológicos, normais, em que se festeja a vida, a alegria impera, tem que se comer e beber, tem que se partilhar a alegria com os outros, e depois a fé alicerça-se na vida todos os dias; a nossa vida não é feita apenas da rotina, do trabalho, do suor, da canseira, das adversidades, dos lutos, mas a vida é feita e é marcada com estes momentos de alegria, que a gente pode expressar aquilo que é, festejar as coisas boas, partilhar com os outros e a fé dá aqui um mais”, frisou.
O Pe. José Fernando Caldas explicou ainda que a fé é dizer que “a vida tem uma abertura diferente, tem uma programação diferente e não se fica apenas no dia-a-dia”, mas tem, talvez, um âmbito mais de eternidade e “isso dá todo o sentido”. “Claro que aqui, em terra de Ponte de Lima, temos os cantares ao desafio, temos o folclore, temos o bom vinho verde, temos tantas coisas, que depois há os excessos próprios e acho que faz parte da vida todos os dias e faz parte da vida até de uma pessoa, de uma família, de uma comunidade”, disse, considerando que, nos meses de verão e férias, com a chegada de muitos emigrantes, “é interessante que os de fora, muitas vezes, valorizam muito mais as tradições, a cultura, aquilo que é a identidade”, porque, “muitas vezes, os de fora dão outro relevo, outra importância, porque também vivem de um modo mais intenso quanto cá estão”.
Aliado a esta realidade, Ponte de Lima é também lugar de passagem dos peregrinos de Santiago que escolhem o Caminho Português para chegar a Compostela. “E. são muitos. Ultimamente, tem crescido o peregrino que passa por aqui, que faz o caminho tradicional português, e Ponte de Lima é uma das etapas quase obrigatórias para todos os peregrinos. Há aqueles que fazem os Caminhos de Santiago apenas como passeio, por desporto, há outros que fazem como peregrinação mesmo e, portanto, a ponte e a Matriz, de um modo particular, é também uma das etapas. Ajoelhar-se aos pés da Senhora das Dores, da Senhora da Assunção, naquela matriz que já tem alguns séculos, também é uma etapa para reconfortar a alma, para depois a gente poder continuar a caminhar até Santiago”, acrescentou.
“As festas têm o condão de agregarem as pessoas”
Este ano, as Feiras Novas iniciaram com o encontro concelhio de concertina e terminaram com os atos religiosos. D. João Lavrador, Bispo da Diocese de Viana do Castelo, presidiu à cerimónia de vésperas e à procissão em honra de Nossa Senhora das Dores e salientou que as festas com forte tradição religiosa convidam à “vivência comunitária alicerçada na fé”. “Começaram a partir do povo, reconhece quem é verdadeiramente Nossa Senhora, aqui com denominação de Nossa Senhora das Dores. Esta é uma dimensão da qual nunca nos podemos esquecer”, disse em declarações ao Diário do Minho, defendendo que ”nas manifestações que são essencialmente religiosas impõem-se respeitar integralmente aquilo que esteve na sua origem”.
O prelado afirmou ainda que “a expressão da fé tem que ter uma dimensão muito interior da própria pessoa, mas, sobretudo, proporcionar uma vivência comunitária muito forte”. “As festas, já por si, têm o condão de agregarem as pessoas e, neste sentido, gerarem um pouco mais de laços comunitários. Em termos de festas religiosas, são fundamentalmente uma interpelação para a vivência comunitária alicerçada sempre na fé”, declarou, considerando que “estas manifestações avivam a fé de pessoas que, no dia a dia, provavelmente, andam mais centradas nas suas lides e preocupações do quotidiano”. “Nesta altura, têm momentos fortes, seja através da escuta da Palavra de Deus, seja através das celebrações litúrgicas, seja através da procissão, que é uma manifestação pública da fé, onde os próprios quadros vão desafiando para um conhecimento mais profundo de Nossa Senhora, do seu enquadramento desafiando a uma vivência mais profunda da Igreja”, concluiu.
Fotografia: Município de Ponte de Lima
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