Tabacaria Ciso, mais do que uma loja que vende jornais e revistas em Viana do Castelo

A propósito da 57ª mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Notícias de Viana foi conhecer um casal que faz chegar, todos os dias, a informação às pessoas através da venda de jornais e revistas, na Av. dos Combatentes da Grande Guerra, em Viana do Castelo.

Micaela Barbosa
3 Fev. 2023 5 mins
Tabacaria Ciso, mais do que uma loja que vende jornais e revistas em Viana do Castelo

Emília e João Basto são marido e mulher. São de Viana do Castelo e vendem jornais e revistas numa das tabacarias mais antigas. A Tabacaria Ciso. Um negócio familiar que Narciso Basto, pai de João Basto, criou para a sua esposa. “Este espaço abriu em 1960. Foi criado para a minha sogra, mas, quando o meu sogro se reformou, veio trabalhar com ela”, contou Emília Basto. 

Há mais de 40 anos à frente do negócio, João Basto sempre ajudou os pais assim como toda a sua família “nos dias mais movimentados”. “A ideia do meu sogro foi sempre a de que este negócio ficaria na família. O meu marido ajudava. Mais tarde vim também, e a minha cunhada ajudava sempre que necessário, embora se formasse numa outra área”, disse, confidenciando que os seus filhos já trabalham e não têm intenções de ficar com o negócio. “A minha filha é professora em Lisboa e o meu filho é gestor de uma adega em Monção”, especificou, acrescentando: “Gerir um negócio destes não é fácil. Muitas vezes, consegue ser uma prisão, porque trabalhamos todos os dias, incluindo sábados e Domingos. Aliás, a última vez que fomos de férias ainda o meu filho tinha meses. Hoje, tem 31 anos… Tivemos de aprender a gerir tudo porque temos aqueles clientes habituais que compram jornais todos os dias”.

Reconhecendo a responsabilidade de estar ao leme de um negócio de família, que é “muito conceituado” aos olhos dos vianenses, Emília não se recorda de histórias e peripécias que tenha presenciado porque “são muitas”. “As pessoas procuram-nos muitas vezes para além dos nossos serviços comerciais. Fazemos pagamentos e ajudamos com faturas”, referiu, classificando-se como um posto de ajuda. “Os emigrantes vêm no mês de agosto. Criamos laços de amizade e, no ano seguinte, vêm familiares até aqui para nos contar que a avó, a tia e etc., já faleceu; gostavam de vir aqui comprar a sua revista francesa”, contou, revelando que os emigrantes, que ligavam para fazer encomendas de tabaco para levar para França, já são “muito poucos”. “Já não há sequer… Agora, são os mais velhinhos que moram no centro histórico da cidade. São eles que nos procuram para os ajudar na leitura das faturas, porque não sabem ler. Muitas vezes, somos nós que ligamos para dar a contagem da luz”, especificou, lamentando: “Não têm retaguarda familiar e, por isso, recorrem a nós e nós procuramos sempre ajudar.”

Com a Covid-19, Emília admite ainda que “já não vê algumas das suas caras conhecidas”, que paravam sempre na Tabacaria. “Há pessoas que desapareceram, ou porque deixaram de vir à cidade ou porque faleceram e nós não sabemos. É triste”, lamentou, relatando que “as terças e sextas-feiras eram dias de muito movimento”. “As pessoas das aldeias vinham até à cidade fazer compras para casa, pagar as contas, comprar o seu jornal ou até registar o Euromilhões e, agora, já não acontece isso”, lamentou, afirmando que o maior movimento acontece em julho e nos últimos 15 dias de agosto. “Nos dias da Romaria de Nossa Senhora d’Agonia também temos muito movimento, mas depois acabou”, reiterou. 

Embora os dados estatísticos demonstrem que os jornais portugueses estão a perder audiência em papel e, cada vez mais, são consultados na internet, a esposa de João Basto defende que os jovens não se deslocam às tabacarias porque “não leem”. “A internet veio tirar o protagonismo do papel, mas além disso os jovens pouco leem. Não sabem folhear um jornal e não têm prazer no cheiro do papel como os mais antigos que, apesar de não comprarem jornais todos os dias, vão comprando”, justificou, recordando o aparecimento dos jornais. “Há mais de 20 anos, os jornais chegavam de comboio. O meu marido ia à estação buscá-los, e não imagina a quantidade de gente que se juntava aqui para comprar o jornal, por exemplo «A Bola», que saía à tarde. Era uma quantidade de gente impressionante”, salientou, acrescentando: “No final do dia, as pessoas que trabalhavam nos Estaleiros Navais vinham comprar o seu jornal. Isso acabou. Não há esse hábito e gosto.” 

Segundo Emília, “só os miúdos da universidade, que sabem o que querem fazer das suas vidas”, é que os procuram. “Os restantes estão entre os 50 e 60 anos”, lamentou, assegurando que tem uma imagem “positiva” da comunicação social. “Gosto de ouvir a comunicação social e depois, tiro o meu juízo. Cada jornal tem os seus comentadores. Ouço. Se não gostar, mudo”, disse, frisando que “as pessoas são livres”, mas “devem respeitar o trabalho dos jornalistas”. “Também gosto de ler o meu jornal e folheá-lo todos os dias para saber o que se passa aqui, no país e lá fora. Gosto de estar informada de tudo”, acrescentou.

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