“Sempre senti a falta de algo mais”

Na próxima Vigília Pascal, Cláudio Especial, Carolina Ribeiro e Sara Barbosa concluirão a sua caminhada de iniciação cristã, depois de uma caminhada de catecumenado orientada pelo Pe. Vítor Rocha. O Notícias de Viana procurou, junto de cada um, o significado e o sentido deste momento.

Micaela Barbosa
18 Mar. 2021 8 mins
“Sempre senti a falta de algo mais”

Cláudio Especial (CE). 33 anos. Natural de Matosinhos, mas cresceu em Barroselas, vindo a residir em Viana do Castelo. Receberá o Batismo, a Eucaristia e a Confirmação na próxima Vigília Pascal.

Notícias de Viana (NdV): Por que razão decidiu receber os Sacramentos de iniciação?

CE: Sendo de família “típica” agnóstica e crescido com forte afinco e ligação à ciência na educação, sempre senti a falta de algo mais. Lembro-me de, em pequeno, ler uma frase de Albert Einstein que dizia: “Sem Deus, o Universo não é explicável satisfatoriamente”.  A falta a tantas e tantas respostas que me deixavam incompleto em muitas experiências da vida.Na verdade, o cristianismo sempre fez parte da casa dos meus avós maternos; penso que a semente terá sido aí lançada. Felizmente, com os anos, a semente cresceu e no Cristianismo encontrei o sentido para a vida, para aquilo que é o caminhar em pleno na vida terrena, em direção a uma plenitude ao lado do Amor eterno de Deus Pai.

(NdV): O que significa este passo na sua vida cristã?

CE: É, sem dúvida, o culminar desta procura de Deus, que não termina neste passo, pelo contrário: apenas ficamos mais próximos da plenitude de vida com Deus. É uma página muito bela e esperada há muito tempo.

(NdV): Como descreve este tempo de preparação?

CE: O início do catecumenado foi um pouco atribulado, mas graças a Deus, com o apoio de várias pessoas, que nos ajudaram e guiaram nesta caminha, estamos hoje mais próximos de cumprir o nosso objetivo.

É uma preparação muito enriquecedora, que em muitos passos, em muitos momentos, me iluminou e me guiou na maneira de viver e de ver a própria vida, em coisa profundas, como na própria tomada de consciência existencial, mas também nos pequenos gestos no dia-a-dia.

Foi, é, e será, com toda a certeza, o passo mais enriquecedor que tomei na minha vida.E a todos os que, como nós, jovens, são, e por vezes se sentem de certa forma, desnorteados ou até desanimados na sua Fé, tenho a certeza que este Caminho poderá ser, e será, uma luz, um preencher, um caminho onde encontrarão essas respostas preenchidas por Deus. Fica o meu convite a todos a caminharem neste tão belo caminho.

Carolina Ribeiro. 26 anos. Natural de Matosinhos e residente em Viana do Castelo. Receberá a Eucaristia e a Confirmação na próxima Vigília Pascal.

(NdV): Por que razão decidiu receber os Sacramentos de iniciação?

CE: Já há muito tempo que ansiava receber os restantes Sacramentos de iniciação cristã, especialmente a partir da minha adolescência; cada vez era maior a minha Fé e crença em Deus e na Santa Igreja Católica.

(NdV): O que significa este passo na sua vida cristã?

CE: Simplesmente era algo que tinha muita vontade, ânsia e desejo de fazer – viver com Cristo, para Cristo e em Cristo.

O passo que estamos prestes a realizar na próxima Vigília Pascal significa o início da minha vida cristã em comunhão com Deus Pai todo poderoso.

(NdV): Como descreve este tempo de preparação?

CE: Iniciámos o processo de catecumenado no final de 2018 com o Pe. Vítor, altura a partir da qual todos nós estabelecemos uma relação de amizade, partilha, união e, sobretudo, partilhámos o tão intenso sentimento de, finalmente, estarmos no caminho que tanto desejávamos.

Foi um processo de estudo e preparação intensos. Mas sempre pautado pela simpatia, humildade, bondade e sobretudo amizade do “tão nosso” Pe. Vítor.

Desde já, deixo um “Obrigada” gigante aos meus colegas e ao Pe. Vítor, por todos os momentos que partilhámos, por conseguirmos sempre ajustar o horário das catequeses, pela união que criámos, pela amizade, pelo companheirismo, por todos os ensinamentos que nos foram transmitidos; obrigada por tudo.

Agora sim, sinto que encontrei o meu caminho. Entreguei-me por inteiro e faço de mim instrumento do Senhor.

Sara Barbosa Dominguez. 21 anos. Viana do Castelo. Receberá o Sacramento da Confirmação na próxima Vigília Pascal.

(NdV): Por que razão decidiu receber os Sacramentos de iniciação?

CE: Os Sacramentos da iniciação representam uma continuação da minha caminhada de fé iniciada por intenção dos meus pais, com o meu Batismo, e fortalecida, assim, com a receção do Sacramento da Confirmação e deste modo, afirmando o meu compromisso com Deus.

(NdV): O que significa este passo na sua vida cristã?

CE: Significa uma afirmação e um reencontro com a minha Fé, que reflete a minha vontade de me aproximar, de novo, de Deus, e de receber este Sacramento para confirmar e reforçar a graça batismal através da “marca” do Espírito Santo, permitindo o meu crescimento interior e o da minha crença.

(NdV): Como descreve este tempo de preparação?

CE: Foi um tempo de muita reflexão, de reforçar os pensamentos da aproximação com Deus, de forma a estar preparada e disposta a receber este Sacramento. Foi bastante importante nesta caminhada compartilhar momentos e experiências que me fazem motivar e acreditar ainda mais neste Sacramento e nisto que é a nossa fé, a fé em Cristo. Por isso, o Pe. Vítor e os meus colegas catecúmenos, Cláudio e Carolina, tiveram um papel importante nesta minha caminhada.

Pe. Vitor Rocha, responsável pela caminhada dos catecúmenos

(NdV): O que significa o catecumenado?

CE: A palavra “catecumenado” é ainda muito desconhecida do público geral, mas também de alguns sacerdotes. E o desconhecimento prende-se, sobretudo, com o reduzido número de jovens e adultos não batizados no nosso contexto social e religioso.

Todos os adolescentes, jovens ou adultos que desejam receber o Batismo são convidados a participar num programa formativo e de acompanhamento espiritual e humano que se estende por vários anos, ao qual se dá o nome de “catecumenado”. Assim, percorrem um tempo e caminho de iniciação às bases fundamentais da fé cristã.

(NdV): Como é que a Igreja acolhe os catecúmenos?

CE: É curiosa a pergunta e sintomática a resposta. É evidente que da parte da Igreja, desde os Bispos aos fiéis leigos, há um grande entusiasmo e alegria. Na Igreja, assiste-se quase a um comprovar que a Igreja não está a morrer, pois ainda há quem a procure com discernimento e vontade firme. Contudo, também é percetível que a disponibilidade para acompanhar e dedicar-se, ao longo de alguns anos, àqueles que desejam participar da vida de Cristo, nem sempre é assim tão entusiástica.

(NdV): Qual o papel do orientador neste tempo de preparação?

CE: No catecumenado há apenas dois agentes: aquele que procura Deus e o próprio Deus. Aos que acompanham, sejam sacerdotes, catequistas ou padrinhos, apenas é pedido que estejam disponíveis. Prontos a dar testemunho da fé e conscientes das suas limitações.

(NdV): De que forma é organizado este tempo?  

CE: A maior surpresa dos candidatos ao tomar conhecimento sobre o catecumenado está no tempo de duração. Quase sempre esperam “estar prontos” em poucas semanas ou meses. Porém, quando lhes é explicada a dinâmica e que se pretende uma caminhada de aprofundamento e amadurecimento da fé, compreendem que não se pode fazer em alguns meses, mas são precisos anos para serem iniciados à fé.

O esquema tradicional está dividido em três anos, necessários para tomar o primeiro contacto com a oração, a Sagrada Escritura, os Sacramentos, a doutrina, a comunidade e para ingressar na vida da Igreja.

Infelizmente, este grupo de catecúmenos experimentou vários contratempos: desde um início atribulado com incertezas sobre quem e como os havia de acompanhar e orientar; dificuldades no agendamento dos encontros de catequese, devido aos horários de trabalho de cada um e, por último, a pandemia.

(NdV): Há cada vez mais jovens a querer fazê-lo? Quais as principais motivações/razões?

CE: Os motivos são tantos quantos a história de cada um. São muitos os jovens e adultos em busca de Deus e que veem na Igreja a porta para aceder a Ele. Por ocasião da recolha de inscrições para o catecumenado, apresentaram-se nove pessoas. Por diferentes razões apenas três conseguiram iniciar e percorrer este tempo.

Certamente que me permitem, porque gostaria de destacar o percurso da Sara. Batizada, fez o itinerário de catequese até à Primeira Comunhão. Desde então, a frequência da Igreja era pontual. Na idade de receber o Sacramento da Confirmação foi-lhe apresentado o catecumenado que aceitou, principalmente porque preferiu uma proposta profunda, exigente e que não se reduzisse a meia dúzia de encontros sem real impacto na experiência de fé. Por sua vez, o Cláudio e a Carolina passaram também pela dificuldade de querer e procurar os Sacramentos, enquanto lhes davam como respostas burocracia, indisponibilidade e desculpas.

Todos eles passaram pelo limiar de perseverar na fé ou conformar-se com a primeira resposta. Decidiram perseverar. Eles, como tantos jovens, procuram configurar-se com Cristo, conhecê-l’O e imitá-l’O; daí serem tão necessárias as nossas disponibilidade e atenção.

Tags Entrevista

Em Destaque

Notícias atuais e relevantes que definem a atualidade e a nossa sociedade.

Opinião

Espaço de opinião para reflexões e debates que exploram análises e pontos de vista variados.

Explore outras categorias