São Bartolomeu dos Mártires no concílio de Trento

O Concílio de Trento foi o décimo nono concílio ecuménico, entre 1545 e 1563, convocado por Paulo III. S. Bartolomeu dos Mártires participou no III período do Concílio (1561-1563), que, com a assinatura do Decreto de Encerramento, findou em dezembro de 1563. “Os diaristas do Concílio tão avaros na adjetivação, frequentemente o classificaram de sábio e santo, e deram, aos seus pareceres, os elogios de arguto, belo e impressionante” (José de Castro1, Venerável Bartolomeu dos Mártires, 1946, 64).

Notícias de Viana
8 Nov. 2019 3 mins
São Bartolomeu dos Mártires no concílio de Trento

Missionário impressionante

Era assim classificada a prestação de S. Bartolomeu dos Mártires pelos cronistas do seu tempo. S. Bartolomeu fez a viagem entre 24 de março e 18 de maio de 1561. Chegou neste último dia a Trento e “à tarde, entrou a pé com Frei Henrique de Távora” seu companheiro. “Com sua virtude conquistadora, levou dentro de si um pouco da vocação missionária do seu país (…), causou uma enorme impressão em Trento (…) e o seu nome entrou galhardamente nos segredos e notas das chancelarias, acreditadas junto da Santa Sé” (55). 

Na assembleia tridentina (composta por mais de 250 bispos e de 100 teólogos) foi eleito para fazer parte de seis comissões, tendo-lhe sido feito o pedido “de distribuir pelos teólogos os sermões quaresmais” (56). O decreto da Residência do Clero e toda a Reforma conciliar foram assuntos em que mais esteve envolvido por eleição.

Reformador de dentro para fora

É “impressionante verificar a coincidência dos pedidos de Dom Frei Bartolomeu e a legislação tridentina, pedidos caracterizados pelo tom incisivo, claríssimo, categórico, num estilo de linhas retas, em linguagem verdadeira, quase sempre cortante com que pretendeu servir o bem comum” (Ibidem, 59). A linguagem clara e verdadeira foi sempre muito do seu feitio, o que lhe granjeou grande simpatia, em Trento e em Portugal. Percebe-se até a sua petição em favor dos bispos que desejou fossem tratados com as qualidades que lhe são próprias, mesmo antes dos cardeais, estando também “sentados e cobertos nas congregações” (62).

A ele se deve a maior parte do decreto legislativo sobre a reforma “sobretudo a respeito da modéstia das alfaias, e na mesa que devem praticar os cardeais e todos os prelados eclesiásticos” (63). A sua douta formação e a sua prática frugal são conhecidas em Trento e dali emanaram para toda a Igreja.

Ficou muito amigo de S. Carlos Borromeu (1538-1584), então cardeal e foi admirado por Pio IV e depois por Pio V, “pelo muito que no Concílio fizera pela reforma dos cardiais e dos Bispos” (60) e pelo nome e prestígio que ali deixara na prática de nobre doutrina. Toda a Igreja passaria por uma iminentíssima reforma.

1 Monsenhor José de Castro, Bragança (1886), diplomata e membro da Academia Portuguesa de História. Pesquisou no Arquivo Secreto do Vaticano, escrevendo seis volumes sobre Portugal no Concílio de Trento e posteriormente um volume sobre a figura do Venerável Bartolomeu dos Mártires, hoje canonizado pelo Papa Francisco. Já em 1946 “não tinha a menor dúvida” que Bartolomeu dos Mártires “seria elevado à honra dos altares em toda a Cristandade” (6). Aqui fazemos referência ao capítulo IV desta obra.

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