Que cara é essa?

O Mons. José Maria Reis Ribeiro foi me sempre um pessoa próxima e inspiradora, pela sua simplicidade, estampada num sorriso com que sempre acolhia, e pela profundidade da sua reflexão que só podia, pode, botar da oração.

Notícias de Viana
21 Out. 2021 4 mins
Que cara é essa?

Ainda a ordenação sacerdotal vinha longe, já eu, enquanto seminarista de Viana do Castelo, convivia com este homem/padre quando vinha para a cidade por diversas ocasiões, mas sobretudo duas: na Semana Santa e nas férias do Verão, em trabalho na Cúria Diocesana.

Era notória a sua delicadeza de abordagem, tratando-me sempre com grande amizade que foi levando a um crescimento da minha admiração. Tinha sempre tempo para mais um momento de conversa ou de uma boa piada a justificar outra boa gargalhada.

Tinha uma vida muito “ritualizada”, nos tempos para si e nos tempos para os outros. A gente quase podia acertar o relógio pelo rumo ou tarefa que ele iniciava.

Depois de ordenado, tendo ido viver para a Casa Episcopal, passei a viver num espaço contíguo ao seu. Interrompi-lhe muitas vezes o seu estudo e reflexão para um bom naco de conversa, sobretudo e sobre nada, mas sempre com proveito para o meu crescimento espiritual e humano. A sua noite era muito dedicada a “passar a pente fino” os jornais, diários e semanários (diocesanos e regionais) onde colhia o ambiente social e eclesial, sempre atento àqueles factos que para outros não passavam de rodapé. Fazia uma certa sociologia e antropologia, conseguindo, por vezes, antecipar tendências dentro e fora da Igreja a partir dos seus famosos recortes que tantas vezes me ofereceu quando assumi a responsabilidade do semanário.

Eu já trazia em mim o “bichinho” da comunicação social, fruto da influência de outro grande comunicador, o padre João Aguiar, e à sua beira pude, durante muitas horas, conhecer a sua visão sobre a comunicação da Igreja, que queria desempoeirada do mofo da sacristia. Um órgão da igreja tem o dever de iluminar com o Evangelho a totalidade da vida das pessoas, por isso nada ficava de fora de uma publicação sob a sua responsabilidade, até o desporto cujos resultados, à época, não apareciam em mais lugar nenhum.

Muitas vezes, as dores da falta de meios para realizar a tarefa, as incompreensões eclesiais, para não lhe chamar de outro modo, também vinham à baila, mas ele nunca foi homem de se queixar, sem que contudo não deixasse de dizer o que lhe ia na alma, mas no sítio certo para provocar o debate que conduzisse à comunhão.

Uma noite fui ao seu escritório e ele atirou logo – que cara é essa? Tinha-me sido feita a proposta de eu ir estudar Jornalismo. Conversamos sobre a questão, aceitar ou não, qual curso adequado dentro das sensibilidades entre muitas outras questões miudinhas.

A conversa terminou com um sorriso largo (quase em jeito de quem esfrega as mãos): “Vai, prepara-te, anda depressa porque te espera o jornal da Diocese. Já é tempo de eu trabalhar com um ritmo menos intenso”.

Tocou-me mais uma vez a sua humildade e desapego quando regressei a Viana. É um dos homens a quem se deve muito na construção identitária da Diocese, várias vezes premiado pela sua escrita, e não colocou nenhuma condição para continuar a trabalhar integrado na nova equipa da Pastoral da Comunicação.

Ao longo dos anos que trabalhei na área da comunicação social, encontrei no Mons. Reis Ribeiro apoio e incentivo, bem como, pensada crítica. Tantas vezes veio a terreiro em minha defesa e do projecto que preconizávamos para a comunicação da Diocese, na qual o Noticias de Viana, então, era o veículo mais forte.

Gostei muito de o reencontrar há dias e de, mais uma vez, receber aquele sorriso e afecto.

Tenho muito a agradecer pelo que aprendi e cresci à sua beira. A Diocese tem um dever de gratidão para com este Padre pela sua entrega e dedicação abnegada, numa área tão relevante e tão difícil, mas crucial para a missão eclesial.

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