O Seminário de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana Subsídios para a sua história – Parte XV

Era ali À casa e quinta de que era proprietária a Ordem Terceira do Carmo, com sede no Porto, por legado de Francisco de Paula Ferreira, que havia sido Provedor da instituição durante cinquenta anos, eram-lhe atribuídas várias designações. Tanto era denominada de «Quinta da Pedreira», como de «Quinta do Crasto», mas era mais conhecida […]

Notícias de Viana
24 Fev. 2021 5 mins
O Seminário de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana Subsídios para a sua história – Parte XV

Era ali

À casa e quinta de que era proprietária a Ordem Terceira do Carmo, com sede no Porto, por legado de Francisco de Paula Ferreira, que havia sido Provedor da instituição durante cinquenta anos, eram-lhe atribuídas várias designações. Tanto era denominada de «Quinta da Pedreira», como de «Quinta do Crasto», mas era mais conhecida por «Quinta de Paula Ferreira» ou, erradamente, «Quinta de Paulo Ferreira».

Situada a meia encosta do monte de Santa Luzia, no lugar da Povoença, em Areosa, ali estava o lugar que encheu as medidas a quem andava de cá para lá e de lá para cá à procura da melhor localização para a implantação do Seminário Diocesano.

O Cónego Carlos Francisco Martins Pinheiro, Vigário Geral da Diocese de Viana do Castelo, liderou inicialmente as primeiras aproximações à Ordem do Carmo, de que se fazia seu interlocutor o engenheiro Soares Vieira, Mesário daquela instituição.

Da parte da Diocese faziam-se chegar à Mesa da Ordem as suas necessidades, dificuldades e interesses. Como Diocese nova, precisava de implantar as suas estruturas materiais, fundamentalmente o seu Seminário. A quinta de São Lourenço, em Darque, poderia ser uma solução, mas a sua localização era considerada «má», «desviada do centro citadino e da Diocese» e, além disso, circunscrevia «terreno que dá para a expansão da cidade».

Em contrapartida, a localização da antiga casa e quinta do Provedor Francisco de Paula Ferreira correspondia perfeitamente aos interesses das instâncias diocesanas. Pois, não só estava «bem situada e perto do centro da cidade e do lado do Rio Lima, onde se situa a Diocese na sua grande parte», mas também a casa era «excelente» e a capela e o terreno poderiam ser adaptados a espaços de Seminário.

A proposta

Depois de várias conversas pessoais e telefónicas, o Vigário Geral comunicou por escrito à Ordem do Carmo, com data de 12 de agosto de 1980, a proposta de adquirir «os imóveis da Quinta da Pedreira» – nomeadamente, «a casa e quinta como tal», «a mata paralela», «o recinto e habitação do caseiro», «o terreno de mato e pinheiros situado a sul de todo o conjunto» e a «água que abastece a área» – pelo valor de 20 mil contos, depois de efetuadas «consultas particulares e oficiais».

Na carta, o Vigário Geral procurou sensibilizar a Mesa da Ordem Terceira para as necessidades próprias de uma Diocese recém-criada, com vista a um entendimento entre as partes. 

Primeiro, referiu que, «conhecedores das carências da Ordem do Carmo e sem pôr em dúvida os critérios de justiça» da Mesa, lembrou que «ensaiamos os primeiros passos como Diocese. A ordem do Carmo é causa feita; a Diocese de Viana é causa a nascer. Consola-nos o facto de ambas serem causas da Igreja».

Para depois salientar que «precisamos de lançar as bases do Seminário Diocesano com os requisitos da hora actual e os terrenos que possuímos em Darque têm inconvenientes de vária ordem».

Acrescentou ainda que «Francisco de Paula Ferreira acompanha os nossos passos, pois foi o seu espírito que nos trouxe aqui. Se a Diocese tivesse sido criada antes da sua morte, ele teria olhado para ela com olhos de benemerência, pois estava-lhe na alma».

Por fim, solicitou à Mesa da Ordem do Carmo a melhor das atenções quanto à possibilidade real da propriedade «vir a ser declarada de utilidade pública».

O equívoco

Em resposta ao pedido de informação sobre a viabilidade de loteamento, o Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Manuel Lucínio Pires de Araújo (1933-2016), informou equivocadamente a Ordem do Carmo, em 7 de outubro de 1980, dizendo que a densidade de ocupação para os terrenos da antiga quinta de Paula Ferreira era de 125 habitantes por hectare e que estava prevista para aquela zona a manutenção das características arquitetónicas existentes.

O esclarecimento foi dado no ofício datado de 27 de março de 1981, no qual se explicou que houve um lapso na observação do Plano de Pormenor «Norte do Campo de Jogos», confundindo a quinta de Paula Ferreira com a quinta de Paulo Teixeira, situada junto à EN13.

No mesmo ofício, a autarquia informou que, na quinta de Paula Ferreira, estava previsto instalar «essencialmente equipamento colectivo que a Câmara tem necessidade de retirar de dentro da cidade por motivo de urbanização (caso do Colégio do Minho) e da implantação do Sector Oficinal do Centro de Diminuídos Mentais, para além de outros».

Em 8 de abril de 1981, os intermediários da Diocese – o Vigário Geral e o Pe. Virgílio Vieira Resende (1937-2018), Secretário particular de D. Júlio e ecónomo da Diocese – encontraram-se, no Porto, com o Vice-Provedor da Ordem do Carmo, o engenheiro civil António Fontes Veiga de Faria (1919-1991), e mais três Mesários. O engano do terreno foi desfeito, avivou-se a possibilidade de um entendimento e os intermediários vianenses regressaram à residência episcopal com a promessa do Vice-Provedor de que se iria interessar vivamente pelo caso.

(Continua na próxima edição)

Tags Diocese

Em Destaque

Notícias atuais e relevantes que definem a atualidade e a nossa sociedade.

Opinião

Espaço de opinião para reflexões e debates que exploram análises e pontos de vista variados.

Explore outras categorias