O Seminário de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana Subsídios para a sua história – Parte XIV

Em busca de um lugar O período de tempo compreendido entre o início da busca de um lugar para a implantação do novo Seminário Diocesano e a decisão final de qual seria o terreno onde se erguiria o edifício, balizado cronologicamente entre 1978 e 1988, foi, sem dúvida, mais moroso e extenuante que o da […]

Notícias de Viana
19 Fev. 2021 6 mins
O Seminário de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana Subsídios para a sua história – Parte XIV

Em busca de um lugar

O período de tempo compreendido entre o início da busca de um lugar para a implantação do novo Seminário Diocesano e a decisão final de qual seria o terreno onde se erguiria o edifício, balizado cronologicamente entre 1978 e 1988, foi, sem dúvida, mais moroso e extenuante que o da sua construção, iniciada em 1990 e inaugurada oficialmente em 25 de Março de 1997, embora já estivesse habitada a partir de 1995.

É certo que, ao longo de quase dez anos, foram muitas as voltas e reviravoltas a perseguir o mesmo objectivo, mas também é verdade que esse período de tempo se revelou providencial para que a Igreja vianense se iniciasse também na busca de um lugar privilegiado para o Seminário na consciência diocesana.

Os dois primeiros bispos elegeram-no como prioridade, procurando a colaboração de todas as forças vivas e amadurecendo as bases do ambiente que daria vida à casa que se propuseram erguer para tão nobre fim. Os organismos diocesanos e agentes da pastoral seguiram no seu encalço. 

A comunidade mais activa de cristãos foi-se mentalizando de que era seu dever fomentar as vocações e de que, sem seminário, os jovens chamados à vida sacerdotal não receberiam o essencial da formação, ou seja, gerar pastores, iguais a Cristo, o Bom Pastor, que conhece, guia e vai à frente das suas ovelhas, bem como recolhe a que anda perdida.

De lá 

Um mês antes de ser nomeado arcebispo-bispo do Porto, na homilia da celebração do encerramento da quarta Semana da Diocese vianense, em 10 de Janeiro de 1982, D. Júlio tinha exposto claramente as dificuldades sentidas ao longo do seu episcopado para encontrar um terreno para o Seminário. 

Então dizia que, passados quase dois anos, as negociações com a Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, do Porto, tinham terminado no dia 21 de Dezembro de 1981 e que, na falta de melhor, o mais certo era voltar a atenção para uma das primeiras hipóteses – a quinta de São Lourenço, em Darque –, reprovada pelos consultores, ou, então, continuar à procura de outro lugar.

Em abona da verdade, após a instituição canónica do Seminário Diocesano, em 13 de Janeiro de 1978, a Diocese tinha-se focalizado, de facto, na busca do terreno ideal para a sua implantação. Primeiramente, procurou responder à pergunta sobre onde seria melhor a sua localização, ora nos terrenos que já possuia, ora em alguma quinta situada perto da cidade episcopal.

Recorde-se que, por doação da Arquidiocese de Braga, com transferência imediata, assinada em de 7 de Abril de 1979, no Cartório Notarial de Ponte de Lima, a Diocese de Viana do Castelo tinha aceitado não só o Colégio do Minho, em Viana do Castelo, e o Externato Liceal de Monção, como também várias propriedades em Moreira do Lima, São Romão de Neiva e Mazarefes, bem como, em Darque, a quinta de São Lourenço.

Para mais tarde ficou a transferência de outros bens, como o edifício da Associação Nun’Álvares, em Viana, um terreno destinado à paróquia do Senhor do Socorro e a residência paroquial de Caminha, esta em Março de 1980. 

Havia vantagens em que o Seminário fosse implantado na quinta de São Lourenço, em Darque. Um apontamento atribuido ao cónego Carlos Francisco Martins Pinheiro (1925-2010), primeiro vigário geral da Diocese, elencava-as, juntamente com as desvantagens ou dificuldades.

Por um lado, a primeira vantagem da quinta de Darque residia no simples facto de que «já existe». Depois, estava «perto da cidade». Além disso, oferecia «maior facilidade de ajuda de sacerdotes e de professores mesmo doutros seminários». Por outro, o vigário geral apontou, como desvantagens, que «o ambiente humano não é favorável às vocações», havendo «demasiada concentração dos edifícios da Igreja ou Diocese, que dá um aspecto de certa riqueza e muita».

D. Júlio salientaria outras desvantagens, na referida homilia de 10 de Janeiro de 1982, ao dizer que, «no princípio, ouvidas as várias instâncias diocesanas, assentou-se que o local mais adequado para o edifício do NOSSO SEMINÁRIO não seria a Quinta de São Lourenço, em Darque. Porque o sítio climatericamente não era famoso, porque o porto de mar ficaria muito perto, porque a urbanização prejudicaria, etc., etc.».

Na entrevista concedida ao «Notícias de Viana», publicada no dia 22 de Fevereiro de 2018, o monsenhor Sebastião Pires Ferreira recordou que outra das desvantagens apontadas na ocasião foi haver na quinta «muitos mosquitos».

Para cá

À procura da melhor localização para o Seminário Diocesano seguiu-se então um périplo pelo mosteiro de São Romão de Neiva, por terrenos da Meadela, pela quinta do doutor José Teixeira de Queirós, em Vila Praia de Âncora, por São Salvador da Torre e Mazarefes, onde foi pároco o monsenhor Sebastião Pires Ferreira, que, na ocasião, apresentou a grande área florestal, considerada uma «veiga alagadiça».

Por iniciativa dos padres da Congregação do Espírito Santo, o Seminário das Ursulinas também chegou a ser equacionado, tendo havido, segundo as palavras de D. Júlio, «boa vontade e conversações», de tal modo que, a dada altura, aquelas deram a entender que «seria possível o milagre».

Quando D. Júlio se referiu, na dita homilia de 10 de Janeiro de 1982, ao falhanço das negociações com a Mesa da Venerável Ordem do Carmo, do Porto, percebe-se que o terá feito com alguma tristeza, não só porque houve a aprovação de todos os que foram à freguesia de Areosa ver a casa e quinta legada pelo provedor Francisco de Paula Ferreira àquela ordem terceira, mas também porque «era ali».

(Continua na próxima edição)

Tags Diocese

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