O Seminário de Viana do Castelo. Prioridade da Identidade Diocesana: subsídios para a sua história – parte IX

Panorama vocacional Para além de ser um apaixonado por etnografia, com diversos trabalhos publicados – entre outros, destacam-se os dedicados ao teatro popular –, o padre António Maurício Guerra, prefeito do Seminário de São Teotónio entre 1983 e 1986, era um regular colunista do jornal «Notícias de Viana», onde explanava sobre temas da Igreja. Em […]

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15 Jan. 2021 6 mins
O Seminário de Viana do Castelo. Prioridade da Identidade Diocesana: subsídios para a sua história – parte IX

Panorama vocacional

Para além de ser um apaixonado por etnografia, com diversos trabalhos publicados – entre outros, destacam-se os dedicados ao teatro popular –, o padre António Maurício Guerra, prefeito do Seminário de São Teotónio entre 1983 e 1986, era um regular colunista do jornal «Notícias de Viana», onde explanava sobre temas da Igreja.

Em 1985 publicou uma série de artigos que demonstravam como a vida da Igreja ia dando sinais de que o futuro da acção pastoral seguia na linha do que designava com o termo «restauração».

Porque um desses sinais positivos era o aumento tanto do número de seminaristas como de ordenações sacerdotais, o professor desenvolveu, nas várias edições do mês de Outubro de 1985, o panorama das vocações na Diocese de Viana do Castelo, sob o título «Situação vocacional concelho a concelho».

Se, em 1982, o número de seminaristas era de 81 e, em 1985, o total era de 142 (124 no seminário menor e 18 no maior), a comparação de valores permitiu ao autor concluir que, em apenas três anos, a Diocese de Viana do Castelo dava «um passo decisivo de auto-afirmação».

Na origem do acentuado aumento dizia estar o investimento feito pela Diocese «nos primeiros anos do Seminário: Ciclo Preparatório e Secundário, através da criação de estruturas próprias».

Ao manter-se a tendência, o padre Guerra preconizava que, em 1987, o número de seminaristas poderia vir a ser o dobro do obtido em 1982 e atingir a melhor percentagem de seminaristas a nível nacional.

Aliás, a Diocese de Viana do Castelo ocupava, à data, «lugares cimeiros em todos os índices de prática religiosa, ao nível nacional. Geralmente ocupa o segundo ou terceiro lugar. No referente ao clero, aspira mesmo a possuir o melhor índice de pároco por habitante e a mais baixa média etária do mesmo clero».

Para obter uma panorâmica geral do contributo humano, cristão e vocacional de cada arciprestado, o autor do ensaio sociológico estabeleceu uma interessante relação entre a prática religiosa e o número de seminaristas e procurou a justificação para a percentagem de cada arciprestado.

Primeiramente concluiu que, em atenção «à prática religiosa (sobretudo ao dado mais seguro da presença na missa dominical) podem formar-se três grupos homogéneos: grupo central, de prática mais alta: Viana do Castelo e Ponte de Lima; grupo ‘periférico’, de prática intermédia: Ponte da Barca, Paredes de Coura, Monção e Caminha; grupo ‘afastado’, de prática mais baixa: Cerveira, Valença, Melgaço e Arcos».

Em segundo lugar, considerando o número de seminaristas de cada arciprestado, observou que se mantinha idêntica a composição dos grupos, com excepção de Melgaço, que passaria para o segundo grupo, e de Caminha, para o terceiro.

Mais tarde, o padre Guerra tornou a desenvolver o assunto na edição de 12 de Junho de 1986 do referido órgão de comunicação diocesano, embora de forma menos pormenorizada, mas bastante elucidativa.

Constatou primeiro que, distribuídos por quatro casas – Seminário de São Teotónio, Centro Pastoral Paulo VI e dois seminários de Braga, o menor e o maior –, os 142 seminaristas vianenses eram provenientes de 73 paróquias diferentes, tendo algumas delas «cinco ou seis seminaristas naturais: S.ta Marta de Portuzelo, Castelo de Neiva, Meadela, Correlhã, Refóios e mais dois grupos unidos em função do pároco: S. Pedro da Torre e Silva, Vila Nova de Cerveira e Lobelhe. Destaque também para paróquias que mantêm bom número de ordenações: Merufe, Barroselas e Vila de Punhe».

Por conseguinte, concluiu que o que cada uma das doze paróquias tinha de comum com as demais era, «além de um povo muito praticante, a tradição de aí haver seminaristas e ordenações sacerdotais, bem como o dinamismo dos seus párocos (actuais e antecessores). Tradição, pároco e prática religiosa constituíam factores conjugados donde têm resultado bons frutos».

Toque de ordem

Para o ano lectivo de 1986-87, a Diocese deixou de admitir candidatos ao Seminário para frequentar os 5.º, 6.º e 8.º anos de escolaridade, passando apenas a permitir o ingresso de alunos para o 7.º, 9.º, 10.º e 11.º anos, bem como para o ano propedêutico e para o curso teológico.

De acordo com o decreto de admissão, assinado por D. Armindo com data de 15 de Junho de 1986, a restrição à admissão era «inevitável», em razão da «falta de capacidade das instalações disponíveis e por não ser viável, a curto prazo, a solução que estava no nosso horizonte e nas nossas previsões».

Para além de considerar a situação criada como «naturalmente provisória», esperava muito «da acção, sentido de presença e orientação por parte do Secretariado Diocesano de Pastoral Vocacional, para que todos os candidatos ao sacerdócio sejam acompanhados e assistidos em situação efectiva de pré-Seminário, até que a Diocese possa oferecer-lhes um Seminário que corresponda aos anseios e necessidades da Igreja diocesana».

Em 16 de Novembro de 1986, no encerramento da Semana da Diocese, D. Armindo explicou que «não pudemos este ano admitir alunos para alguns cursos, por falta de capacidade das instalações que temos».

No dia em que ordenava mais dois diáconos, vincou que era «tempo de mudar de tema» – a repetitiva e insistente referência à previsão de um arranque sem nada de concreto – e avançar de vez para a construção do Seminário Diocesano, em Viana do Castelo, o que seria uma boa notícia para dar a toda a comunidade diocesana.

Contudo, «sem manifestos progressos nas negociações que se arrastam não haverá motivo para vos comunicar que a solução deste problema está próximo. Mas tem que estar, seja ela qual for».

D. Armindo estava certo «de que um projecto à vista para a obra que se impõe há-de constituir nova e forte motivação para que a Diocese reforce a sua unidade na oração e na concentração de meios financeiros para realizar esta aspiração generalizada».

(Continua na próxima edição)

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