O Seminário de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana Subsídios para a sua história – parte IV

Uma bênção especial O perfil do novo Bispo de Viana do Castelo, D. Armindo Lopes Coelho (1931-2010), dava um sinal de esperança de que todo o empenho desenvolvido até à data em prol da construção do Seminário Diocesano não tinha sido em vão, ainda que seguisse a um ritmo próprio, mormente condicionado por diversas circunstâncias. […]

Notícias de Viana
27 Nov. 2020 9 mins
O Seminário de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana Subsídios para a sua história – parte IV

Uma bênção especial

O perfil do novo Bispo de Viana do Castelo, D. Armindo Lopes Coelho (1931-2010), dava um sinal de esperança de que todo o empenho desenvolvido até à data em prol da construção do Seminário Diocesano não tinha sido em vão, ainda que seguisse a um ritmo próprio, mormente condicionado por diversas circunstâncias.

Antes de ter sido nomeado Bispo titular de Elvas e auxiliar do Porto, em 1979, o segundo Bispo da Igreja vianense, tinha exercido, entre 1959 e 1975, funções de professor, prefeito, vice-reitor e reitor nos Seminários maiores da Diocese do Porto, e ocupado os cargos de Vigário Episcopal para o Clero e Renovação do Ministério Eclesiástico, a partir de abril de 1975, e de Pró-Vigário Geral, em março de 1976.

O próprio viria a confessar, na homilia de 13 de novembro de 1983: «a vivência do meu ministério sacerdotal, antes de me ser confiada esta Diocese, criou em mim uma profunda sintonização de pensamento e de obediência com a recomendação contida no Decreto conciliar ‘Optatam totius’ de que ‘a formação (dos seminaristas) corresponda sempre às necessidades daquelas regiões em que se deve exercer o ministério sacerdotal’. Por isso, sempre me pareceu necessário que os sacerdotes sejam formados no seu próprio ambiente, além de que só nestas condições há plena razão para afirmar que ‘o dever de fomentar as vocações pertence a toda a família cristã’, entendida concretamente como família diocesana». 

Fortalecido pela experiência vivida nos seminários e profundo conhecedor das linhas programáticas do Concílio Vaticano II, D. Armindo fez convergir a atenção, na tomada de posse da Diocese de Viana do Castelo, em 8 de dezembro de 1982, para a urgência da instalação do Seminário.

Pouco tempo depois, aproveitou a ida a Roma, por ocasião da visita «ad limina apostolorum» dos bispos portugueses da província eclesiástica de Braga, para comunicar ao papa João Paulo II, em 4 de fevereiro de 1983, o projeto de abrir o Seminário no decorrer do ano.

Uma vez regressado a Viana do Castelo, trazendo na bagagem «uma bênção muito especial» do Santo Padre, apresentou aos consultores, em reunião de 17 de fevereiro, a vontade ousada de instalar o Seminário Diocesano no antigo Externato Liceal de Monção, situado a 70 quilómetros do centro da Diocese, no seu extremo norte e num pequeno meio urbano.

O Seminário Diocesano não era somente uma urgência para o Bispo, era-o também para os responsáveis dos secretariados, movimentos e obras de apostolado e espiritualidade diocesanos, que, no encontro realizado em 26 de março, no Centro Pastoral Paulo VI, em Darque, consideraram, juntamente com a pastoral vocacional, ser um problema prioritário, entre outros – por exemplo, a coordenação da pastoral diocesana – as transformações do mundo rural e a religiosidade popular.

Ainda longe de ser a Diocese do país com menos seminaristas, acontecia, porém, que os jovens diocesanos frequentavam os Seminários de Braga, um total de 78, sendo que 65 cursavam no Seminário Menor e 15 no Maior.

O anúncio

Ao longo de todo o episcopado de D. Armindo, o dia de Quinta-feira Santa foi sempre assinalado com grandes anúncios à Igreja diocesana, quer à estação da missa crismal, quer no final, com os sacerdotes reunidos, antes do almoço. 

Assim aconteceu, em 31 de março de 1983, na primeira Quinta-feira Santa celebrada como Bispo de Viana do Castelo, onde, no final da celebração, anunciou aos sacerdotes o arranque do Seminário Diocesano no mês de outubro, esclarecendo que ficaria instalado no referido Externato Liceal de Monção, depois de realizadas obras de requalificação.

Além disso, fez saber que o edifício estaria também aberto a atividades pastorais, podendo transformar-se num verdadeiro centro de apoio e dinamização da vida da Igreja naquela região.

A adaptação do interior do Externato às características próprias de um Seminário menor foi debatida na reunião dos consultores de 8 de abril e, na do mês seguinte, no dia 19, D. Armindo apresentou o nome do primeiro reitor do Seminário Diocesano.

Em 21 de junho, dia litúrgico de São Luís Gonzaga, padroeiro dos jovens estudantes e da juventude cristã, assinou a provisão de abertura do Seminário Diocesano de Viana do Castelo, em Monção, na qual era regulamentado o funcionamento para o ano letivo de 1983/1984. 

Enquanto Seminário Menor, seriam admitidos apenas para o 5º ano de escolaridade os candidatos que, até 5 de julho, apresentassem requerimento, acompanhado das informações do respetivo Pároco, e depois de participarem num estágio no Centro Pastoral Paulo VI, em Darque, entre 13 e 15 de julho. 

Os alunos que frequentavam os Seminários de Braga deviam também dirigir ao Bispo o requerimento para serem readmitidos, no qual constaria o encargo económico suportado no ano anterior, bem como qualquer eventual pedido de revisão a corroborar pelo Pároco próprio, passando o dito encargo a ser satisfeito, a partir de então, na Diocese de Viana do Castelo.

LIASE

No referido decreto de admissão ao Seminário Diocesano foi ainda expressa a especial recomendação para que os Párocos agissem em estreita colaboração com o Secretariado Diocesano da Pastoral Vocacional, bem como abençoada a iniciativa da Liga dos Amigos do Seminário (LIASE), em atividade desde novembro de 1982.

O nascimento da LIASE remonta à «Semana dos Seminários», que decorreu de 7 a 14 de novembro de 1982, para a qual a Comissão Episcopal do Clero fez publicar uma nota pastoral, que, para além de sublinhar as palavras de João Paulo II dirigidas aos seminaristas no dia 13 de maio – «vós ocupais um lugar especial no coração do Papa, na esperança da Igreja e, em especial, da Igreja deste País» –, apelava ao amor e interesse de todos os cristãos pelas casas de formação sacerdotal, expressos através da oração, da promoção das vocações e da generosidade.

O jornal «Diário do Minho» deu destaque ao tema dos seminários durante a dita semana e, com isso, realçou as dificuldades económicas e vocacionais por que passavam os Seminários de Braga, o que impulsionou a criação de uma liga de amigos.

No termo da «Semana dos Seminários», no dia 14, um grupo de leigos comprometidos no apostolado da Igreja, em Valença, constituiu-se assim com a designação de «Liga dos Amigos do Seminário», que, após a primeira reunião dos seus membros, acordou passar a designar-se pela sigla «LIASE».

Embora seja reconhecido o dia 14 de novembro como sendo o da fundação do movimento, o certo é que, na prática, a LIASE iniciou a sua atividade em 23 de novembro de 1982, tendo como objetivo primordial a angariação de donativos, através dos associados e das subcomissões constituídas nas Paróquias, que, uma vez canalizados para a comissão de Valença, eram em boa hora entregues aos serviços centrais da Diocese.

O primeiro assistente da LIASE foi o Pe. Adelino Fernandes de Sousa, então Pároco de Cerdal (Valença), que também era o responsável do Secretariado Diocesano da Pastoral Vocacional.

Com a anuência da Diocese de Viana do Castelo, os promotores da iniciativa pretenderam expandi-la por todas as Paróquias, de tal modo que fosse possível angariar o suficiente para subsidiar a diferença entre a quantia média que pagavam os seminaristas e a despesa real que por eles suportavam os Seminários. 

Ao mesmo tempo, era também intenção primordial dos impulsionadores da Liga alimentar uma acentuada dinâmica para que o excedente viesse a constituir o alicerce da construção do ambicionado Seminário Diocesano.

Em abril de 1983, a LIASE contava com quatrocentos associados, que contribuíam mensalmente com donativos que oscilavam entre os vinte e os duzentos escudos, havendo apenas um deles que oferecia um donativo mensal de quinhentos escudos.

Quando a LIASE já dava sinais de alguma solidez, D. Armindo envolveu-se na onda do movimento e, em 21 de abril de 1983, na «Semana das Vocações», não só presidiu à primeira sessão solene da LIASE, que teve lugar em Valença, como também aprovou os seus propósitos, tornando-a movimento diocesano.

Aquando da inauguração do Seminário de São Teotónio, em Monção, em 13 de novembro de 1983, a LIASE apresentou à Diocese o primeiro fruto da sua partilha no valor de duzentos mil escudos.

O forte empenho do Pe. Adelino Fernandes de Sousa, entretanto Pároco de Santa Marta de Portuzelo (Viana do Castelo) desde 1983, pulverizou a presença da Liga em diversas comunidades e promoveu uma ação cada vez mais coordenada, de tal modo que, em 23 de janeiro de 1985, o programa e estruturação da LIASE eram apresentados ao Conselho Presbiteral.

Em 1985, o movimento marcava presença em Valença, tanto na vila como em Cerdal, em Santa Marta de Portuzelo, Correlhã (Ponte de Lima) e nos externatos das Irmãs Salesianas. 

No final do mesmo ano foi ainda constituído um núcleo na vila de Monção, de que faziam parte da direção, eleita em plenário de 9 de dezembro, Maria do Carmo Abreu Sotomaior, António Simplício do Vale Rego Quesado e Maria Amélia Andrade Gonçalves Quesado.

Por ocasião da visita pastoral à vila de Monção, os responsáveis do núcleo monçanense entregaram ao Bispo Diocesano a quantia de cem mil escudos.

Em 16 de novembro de 1986, no encerramento da «Semana da Diocese», D. Armindo declarava que a consciência comum da necessidade de se construir um edifício para Seminário Diocesano e «a responsabilidade manifesta dos fiéis mais atentos, estão bem patentes e assinaladas já em algumas áreas da Diocese onde foi criada a LIASE».

Por isso, esperava «que a LIASE seja, num futuro próximo, o suporte espiritual e financeiro do Seminário Diocesano».

(continua na próxima edição)

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