“O presencial é o mais importante”

Como aconteceu em 2020, o Compasso Pascal não saiu às ruas de Viana do Castelo devido à pandemia Covid-19. Contudo, e ainda na Quaresma, as igrejas receberam os fiéis e acolheram as principais celebrações do Tríduo Pascal. Em Viana do Castelo, celebraram-se o Domingo de Ramos, a Missa Crismal, a Missa Vespertina da Ceia do Senhor, a Celebração da Paixão, a Vigília Pascal e a Eucaristia de Domingo de Páscoa. Apesar de existir algum receio, Olívia Fernandes (paroquiana da Correlhã), Fátima Ferreira (paroquiana de Monserrate) e Miguel Nunes (paroquiano de Outeiro e com funções no Secretariado Diocesano da Pastoral Litúrgica) não quiseram faltar e marcaram presença nas suas Paróquias. Os Pe. Carlos Castro e Pe. Joel Rodrigues, Párocos nos Arciprestados de Vila Nova de Cerveira e Monção, respetivamente, também celebraram nas suas Paróquias, com as devidas restrições. Em conversa com o Notícias de Viana, admitem “alguma nostalgia” pelo que era feito tradicionalmente na Páscoa, e defendem que “o digital não substitui o presencial”, sendo apenas “um complemento”.

Notícias de Viana
15 Abr. 2021 6 mins
“O presencial é o mais importante”

(Notícias de Viana): Como viveu o Tríduo Pascal?

(Pe. Carlos Castro): O Tríduo Pascal foi vivido com intensidade, com amor e com entrega, muito para além de todas as restrições com que estamos condicionados, mas que não foram impedimento à adesão das pessoas.(Pe. Joel Rodrigues): O Sagrado Tríduo Pascal é um momento marcante na vida de qualquer cristão, e muito mais para nós sacerdotes. Pessoalmente procuro viver o Tríduo Pascal com as Comunidades que me estão confiadas. Assim o fiz este ano, apesar de todas as limitações impostas pela Pandemia.(Olívia Fernandes): Este ano, com estas restrições, viveu-se menos este tempo. Nas celebrações que se realizaram, participei desde Quinta e Sexta-feira Santas. No sábado não, mas no Domingo participei e estive no coro.(Fátima Ferreira): Fui às cerimónias todas da minha Paróquia. O ano passado chorei baba e ranho ao ouvir os sinos ao meio-dia, na janela.(Miguel Nunes): Em confinamento. Viveu-se uma certa nostalgia em relação aos tempos anteriores, porque não foi igual. A minha família participou nas celebrações que foram abertas.

(NV): Como foi a adesão das comunidades às celebrações/iniciativas que decorreram durante a Semana Santa?

(PCC): Mesmo que nas celebrações com um horário mais noturno, como é o caso da Vigília Pascal, essa participação tenha sido menor, porque têm um pouco de receio, a nível geral, e embora não possa dizer que as igrejas tenham enchido, posso assegurar que foram poucos, mas bons.(PJR): Este ano não foi possível realizar todas as iniciativas de anos anteriores, mas as celebrações principais decorreram segundo o normal de anos transactos. Não obstante, tal como nas celebrações durante a Pandemia, notou-se um ligeiro decréscimo do número de fiéis nas mesmas. Há Pessoas que estão ainda com muito medo e reservas em virem à Igreja porque temem o contágio. No entanto, há segurança e as equipas de acolhimento que existem nas várias Paróquias, asseguram o cumprimento de todas as regras de segurança. Não me é possível celebrar nas oito Comunidades que me estão confiadas, apenas em duas delas se realizaram as normais celebrações e as Pessoas das outras Paróquias até se deslocaram a estas para celebrarem a fé.(OF): Este ano, as pessoas aderiram menos. Umas por medo e outras porque andam mais descuidadas, mas acredito que isto irá melhorar.(FF): Acho que foi bom. O ano passado não se celebrou como habitualmente e, por isso, este ano já foi com maior alegria que se celebrou a Páscoa. Apesar de também não haver o Compasso Pascal, foi muito melhor com a participação das comunidades nas celebrações nas igrejas que, dentro dos limites, estavam cheias.(MN): Julgo que sim. Cheguei a ver a Sé com bastante gente. Não em todas, mas em grande parte, sim. Não era nada comparado com antes. Além disso, por causa das aglomerações, as pessoas evitam ir às principais celebrações.

(NV): Esta nova realidade trouxe uma nova dimensão (digital) para a vida da fé. Será que veio para ficar?

(PCC): Desde o primeiro confinamento que fui confrontado, dada a realidade das minhas Paróquias, por um paroquiano meu a pedir-me para celebrar também através do Facebook. Mas, depois de ter ponderado muito bem, pensei que nós estávamos a levar muitas coisas às pessoas por via digital, visto que as televisões têm a celebração eucarística, às quais se acrescentaram as demais transmissões pelas redes sociais. Talvez por isso, de um confinamento para outro, verificamos que muita gente ficou agarrada às redes sociais e à televisão, não saindo de casa para ir à Missa presencial, o que testemunha um comodismo, no qual as pessoas preferem ouvir em vez de participar. Nesta linha, notámos, por exemplo, uma maior ansiedade para a abertura das igrejas no primeiro confinamento, do que neste segundo. É verdade que o online ajudou os idosos e os doentes, e não só, mas também muitos dos novos que ainda há pouco tempo me diziam: “Sr. Padre, no confinamento, e mesmo agora, nunca falhei a uma Missa”, mas referiam-se a uma Missa da televisão ou do Facebook, quando agora temos as Missas presenciais e as igrejas ainda têm lugares disponíveis e não enchem. Foi por tudo isto que não celebrei via Facebook. Claro que enviava mensagens, publicava no meu Facebook particular e no Facebook paroquial mensagens relativas à vivência da fé, mas não o fazia, porque creio que houve muita oferta e, possivelmente, essa oferta excessiva está a estragar as celebrações presenciais, pelo comodismo e por as pessoas pensarem que as duas coisas são iguais, o que não é verdade; é porque, em casa, não existe sempre a mesma predisposição, considerando os afazeres domésticos. De facto, as vias digitais são muito boas quando não podemos ir, mas acho que as pessoas estão a cair num excessivo comodismo.(PJR): Espero que sim e que não. Enquanto estivemos em confinamento foi muito útil para toda a Igreja, nomeadamente para celebrarem a Eucaristia. Agora que já podemos celebrar presencialmente é positivo que os cristãos se desabituem de seguirem a Santa Missa apenas pela televisão ou internet, a não ser que estejam impossibilitados de sair de casa. A vivência da fé comunitária é essencial, senão acreditar é mais difícil (como aconteceu a Tomé que por estar ausente da Comunidade teve mais dificuldade em “ver”).No entanto há coisas positivas nos meios digitais, nomeadamente a publicitação de eventos, a realização de reuniões e formações, e também a proximidade com as famílias e a participação nos momentos importantes das mesmas. (OF): Com as restrições, assisti sempre ao terço em Fátima e, ao Domingo, às celebrações. As pessoas gostam, mas acho que gostam mais de estar presentes. Aliás, eu gosto mais de estar presente.(FF): Por norma, se puder ir diariamente às Missas vou. À noite já tenho aquela tendência de acompanhar o terço. Este ano, como foi tudo pelo digital, tornou-se um hábito. Ou seja, pode-se fazer pelo digital e presencial.A mim trouxe-me ainda mais uma vantagem. O ano passado compus o altar nas Festas de Nossa Senhora da Agonia e, este ano, foi pela Páscoa. Trouxe-me também esta alegria acrescida.(MN): É sempre uma ajuda, mas temo que se caia no comodismo. Corre-se algum risco. Depois de um confinamento e abertura, não seria o ideal. O digital seria, portanto, uma ferramenta complementar. O presencial é o mais importante.

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