“O pessoal aqui sabe onde arranjar, através de quem e a que preços”

A apresentação das medidas coincidiu com a semana em que a DGS (Direção-Geral da Saúde) anunciou que, já em 2030, o número de mortes devido à alimentação inadequada deve ultrapassar as provocadas pelo tabaco em Portugal, e na mesma ocasião em que foi tornado público que o tráfico e consumo de drogas junto a escolas cresceu 74% em 2022.

Notícias de Viana
19 Mai. 2023 3 mins
“O pessoal aqui sabe onde arranjar, através de quem e a que preços”

Segundo alguns alunos do ensino secundário entrevistados pelo Notícias de Viana, este pode ser o maior perigo a ter em conta com a nova legislação. “Esta nova lei só vai aumentar o consumo de droga”, confessa uma aluna. Ao longo do decorrer da conversa, é impressionante a desinibição com que o consumo de drogas se torna tema. “É factual. Ainda ontem comentava com o meu pai a facilidade de acesso que temos às drogas. O pessoal aqui sabe onde arranjar, através de quem, e a que preços”, comenta outra jovem.

O grupo admite, ainda assim, que a grande motivação para fumar é “a pressão social”. Embora não sejam fumadores habituais, contam que já se sentiram socialmente “obrigados” a fazê-lo. É por isso que, mesmo compreendendo a lei, acham que não vai funcionar. “Fui eu, depois de experimentar, que escolhi não o fazer. Não sou fumador por opção. Não porque respeito uma lei”, assegura outro membro do grupo, que vai mais longe, ao garantir que sempre conseguiu tabaco antes dos 18 anos.

Perto do grupo uma professora aceita dar o seu testemunho. Assume-se como ex-fumadora. Sabe, inclusive, há quanto tempo não fuma e quanta poupança isso lhe trouxe. Abrindo uma aplicação do telemóvel diz: “Vê? Não fumo há 6 meses. Já poupei 363 euros. E não fumei 1.815 cigarros”.

Apesar de achar “bem”, e considerar a lei uma “ideia excelente”, acha que “não adianta nada proibir”. “Esta lei só vai funcionar se acontecer em Portugal o que acontece em Espanha, onde foram aplicadas multas muito altas”, alerta. E, mesmo confrontada com o seu passado recente de fumadora, assegura que não mudava de opinião. “Se fumasse, concordava à mesma, mas ficava zangada”, afirma.

De facto, esse parece ser o sentimento preponderante entre os estudantes que, segundo as intenções da lei que entrará em vigor ainda este ano, são os “alvos” da proteção legislativa. Tentando ouvir outros testemunhos, alguns preferem não falar, outros remetem-se a curtas declarações inflamadas sobre o tema. “Só vou fumar em casa, é?”, pergunta uma aluna. “Isto só vai aumentar o consumo de droga”, garante um aluno.

Noutro âmbito, um proprietário de um estabelecimento não abrangido pelas proibições de venda acredita que, ainda assim, a lei está a ser muito radical e a infantilizar os jovens. 

Apesar disso, conhecendo bem a realidade do consumo e da venda de tabaco, conta que, como não vende tabaco a menores, é comum aqueles a quem nega a compra passarem à sua porta a evidenciar que encontraram outra solução. “Agora, até as mercearias vendem. Nós até podemos não vender, mas há mercearias que vendem ‘por baixo’”, assegurou, daí concordar com uma regulamentação maior. “Acho muito bem que eles não vendem nesses sítios e que fumem em sítios certos”.

Tags Economia

Em Destaque

Notícias atuais e relevantes que definem a atualidade e a nossa sociedade.

Opinião

Espaço de opinião para reflexões e debates que exploram análises e pontos de vista variados.

Explore outras categorias