O conhecimento em perigo

São 8h30 da manhã. Entramos na escola.

Notícias de Viana
3 Dez. 2021 4 mins
O conhecimento em perigo

Azáfama do início do dia, gritos estridentes que se prolongam pelo dia, correria desenfreada nos corredores. Comportamento que se estende do toque até ao interior da sala.

Constantemente a chamada de atenção para a escuta ativa, para os comportamentos e regras dentro da sala de aula necessários a um bom ambiente de aprendizagem; para o respeito e importância do conhecimento na vida de cada um.

A escola é consciente de que tem como tarefa principal formar alunos na sua dimensão intelectual, sem desprover a formação social, ética e moral. A escola não pode ocupar o papel da creche, nem o professor a de um psicólogo ou um assistente social.

Todos sabemos que os professores acabam por desempenhar várias funções, no entanto, devemos ser conscientes de qual é a sua principal função. Transmitir conhecimentos, preparar alunos para o mercado de trabalho, transmitir-lhes uma cultura e proporcionar-lhes uma ideia da ordem social, porque a escola é a primeira instituição com a qual as crianças se deparam, e é importante que vejam que há algumas regras, que o professor é a autoridade e que é preciso respeitar tanto ele como os colegas.

Inger Enkvist, reconhecida pedagoga sueca, traz até nós ideias que classificamos da escola tradicional. Para aprender a escrever, uma criança precisa sentar-se bem, olhar para a frente, ter lápis e papel, concentrar-se. Aprender pode ser um prazer, mas, insiste, exige um esforço e um trabalho. É preciso dizer isso às crianças. Caso não façamos isto, estamos a enganar as nossas crianças e jovens. Tocar violino, por exemplo, não é fácil. Exige muita prática. Já o psicólogo sueco Anders Ericsson nos demonstrou com vários estudos que é necessário um esforço prolongado para melhorar em algo.

Dá a sensação que vendemos sonhos fáceis às nossas crianças e jovens, numa tentativa de os fazer sentir menos dificuldades do que aquelas que foram as nossas, e no meio deste processo de projeção e ação, estamos a inutilizar a vida dos que serão o futuro. Não os ensinamos a respeitar a figura da autoridade, a ter gosto pelo conhecimento, pelo pensar, pela construção de saber e contributo numa sociedade melhor para todos, mais justa e equitativa.

Não ensinamos às nossas crianças que só pelo conhecimento se podem quebrar circuitos de pobreza e exclusão.

A escola é um lugar para aprender a pensar sobre os dados e a informação recebida. Não podemos pensar sem pensar em algo. Sem dados e informação não há base para começar a pensar, então, não nos iludamos que alguém vai aprender sem antes conhecer.

Concentremo-nos mais em dar momentos de silêncio, quietude, tranquilidade às nossas crianças e jovens; momentos de diversão e alegria natural sem ser imposta por uma qualquer animação sem lógica; para pensar o cérebro deve estar preparado a parar para refletir, saber reagir a estímulos diferenciados.

Não podemos continuar a perguntar ao João como reagia o Povo às invasões e o João levantar-se numa dança desenfreada, com gestos que não compreendemos e que quando o questionámos no meio da gargalhada geral da turma, todos respondem: é a reação do “tik-tok”. Desde quando produzimos conhecimento desta forma?

A campainha toca para sair. A aula terminou. E o António ainda não se sentou, a Maria continua a conversar com a Teresa e o João na sua dança desenfreada.

É impossível aprender bem sem que haja ordem na sala de aula. Essa é a base principal: comportamento, leitura e avaliação pelo conhecimento. Não devemos menosprezar a importância em si da vida intelectual do aluno. E os alunos que querem aprender estão a perder-se entre a azáfama e reboliço desde o toque da entrada ao toque de saída.

Sejamos conscientes da escola que estamos a construir!

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