Nos corredores do hospital

Recentemente, tive de fazer uns exames aos meus olhos, porque a idade não perdoa a ninguém Nos corredores do hospital onde fui para os primeiros exames devido à proximidade – Valença -, tive oportunidade de rever gente que passando me cumprimentava, pelo que, em dado momento, tive de recorrer ao expediente do “a sua cara […]

Notícias de Viana
26 Jan. 2024 3 mins
Nos corredores do hospital

Recentemente, tive de fazer uns exames aos meus olhos, porque a idade não perdoa a ninguém

Nos corredores do hospital onde fui para os primeiros exames devido à proximidade – Valença -, tive oportunidade de rever gente que passando me cumprimentava, pelo que, em dado momento, tive de recorrer ao expediente do “a sua cara não me é estranha, mas não sei de onde…”, e lá vinha a identificação; às vezes, com surpresa. Mas antes disso, o atendimento por parte das funcionárias e do corpo clínico foi excelente, e só hoje soube do nome do fundador do grupo, que estudou na mesma casa que eu, pelo que deverá ter incutido à equipa que lidera os valores que aprendeu, numa escola chamada Seminário!

Depois, tive de recorrer a outro hospital, já de mim longamente conhecido, porque é lá que recorro, dado que o que pago é mais barato do que a taxa moderadora no hospital público. Marco a consulta de casa, e sei que vou ser atendido naquele dia, embora com alguma demora, conforme a especialidade.

Por esta consulta, ou exame, esperei quase mês e meio, e dada a preparação com gotas nos olhos, tive de estar quase uma hora no corredor do hospital. Ao meu lado, para o mesmo exame, um senhor do meu nível etário com uma história de vida impressionante, com quem muito aprendi.

Vinha acompanhado de um filho jovem, com menos de metade da sua idade porque o pai, com o corpo marcado com sinais da guerra colonial, teria casado tarde; isso, não lhe perguntei.

A enfermeira, no seu “portunhol” que me fez lembrar a minha infância por causa do “tchorar” à maneira da minha meninice, fez-me rir e, depois, brincava comigo: lá “bai tchorar outra bez”…

Bem, voltemos à conversa, porque o nosso herói que perdeu uma perna e um pé da outra na guerra colonial, deslocava-se perfeitamente bem; não saberia que usava próteses, se não me tivesse contado a sua história.

Estávamos no tempo de Salazar! Mas foi bem tratado, foi evacuado, foi cuidado na Alemanha, em Hamburgo, deram-lhe uma reforma compatível, ao tempo – tanto quanto ganhava uma professora ou um professor, porque, em 1975, eu comecei a dar aulas e ganhava isso.

Hoje, tem uma reforma igual à minha, que trabalhei o tempo completo no ensino para obter tal benesse. Daqui concluí o que não sabia.

Este homem foi mutilado em defesa da Pátria, foi cuidado até nos melhores hospitais da Alemanha por conta do Estado, deram-lhe, e dão-lhe, uma reforma que o faz viver dignamente.

E não era graduado.

Será que estão assim todos os mutilados do ultramar?

Fiquei orgulhoso daquele homem e da sua história, porque, ao menos com ele, o erário público não foi injusto.

Mas há quem diga sempre mal do antigamente. Tinha muitos defeitos o economista de Santa Comba Dão, mas nunca desviou dinheiros públicos. Lição para muita gente!

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