Distrito de Viana do Castelo dividido entre AD e PS abre flanco para eleição de nova força política

Há três movimentos interessantes a nível concelhio, se olharmos para a história das legislativas no Distrito de Viana do Castelo desde 2015. Quem deu a vitória ao PS em 2019, nunca voltou a dar o primeiro lugar ao PSD[1]. Quem, em 2022, passou do PSD para o PS, participando na maioria absoluta de António Costa, […]

Notícias de Viana
15 Mar. 2024 5 mins
Distrito de Viana do Castelo dividido entre AD e PS abre flanco para eleição de nova força política

Há três movimentos interessantes a nível concelhio, se olharmos para a história das legislativas no Distrito de Viana do Castelo desde 2015. Quem deu a vitória ao PS em 2019, nunca voltou a dar o primeiro lugar ao PSD[1]. Quem, em 2022, passou do PSD para o PS, participando na maioria absoluta de António Costa, arrependeu-se, e, em 2024, votou AD. Quem, desde 2015 para cá, nunca alterou o seu sentido de voto, assim permaneceu em 2024. Esta diferença é bastante significativa. Numa certa escala, em 2024 existiram três tipos de eleitores no Alto-Minho: os fãs, seja de PS ou PSD (Paredes de Coura e Ponte de Lima, respetivamente); os convertidos (Melgaço, Viana do Castelo, Caminha e Cerveira), e os penitentes (Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Monção e Valença). O que nos pode levar a uma conclusão: apesar de não ter ganho, é ainda o PS que ocupa o eixo central das decisões dos eleitores Alto-Minhotos.

Se mantivermos o intervalo temporal, há outro dado curioso. Em 2015, todos os concelhos, à exceção de Paredes de Coura, colocaram em primeiro lugar a coligação Portugal À Frente, que unia PSD e CDS. Nesse ano, a votação em partidos fora do “bloco central” era residual. Nas legislativas de 2019 algo muda, e é nomeadamente o Bloco de Esquerda que tem grande relevância, ficando perto de eleger por Viana. Nas eleições seguintes, o cenário volta a repetir-se, mas, desta vez, com o Chega como protagonista. Num círculo eleitoral pequeno, com tendência ao “voto útil”, esta inflexão é significativa e leva a uma conclusão: não foram os anos da troika que criaram a pertinência do voto fora do arco da governação, foi o pós 2015 que o potenciou. 

No caso do Distrito de Viana, há algo mais que temporalmente salta à vista. Só Viana, de 2015 até agora, conseguiu “acertar” sempre no vencedor e estabelecer resultados paralelos aos totais nacionais. Mas além desse concelho existe outro, cujos resultados, de há 9 anos para cá, coincidem em permanência com o total nacional: Caminha. É aí que se encontra um eleitorado não tanto urbano, mas mais plural.  Há, por isso, e pelo menos ultimamente, dois sentidos na votação do Alto-Minho: um sentido centrípeto, com concelhos que privilegiam grandes concentrações de votos, e um sentido centrífugo, presente nos dois concelhos que privilegiam a pluralidade nos votos. Um exemplo disso são as seguintes votações. Em Arcos, a AD venceu com 42,98% um PS que se ficou pelos 27,74%. Em Viana, a AD ficou com 30,49% dos votos e o PS logo atrás, com 29,61%.

Por fazerem parte dos 4 primeiros concelhos com maior poder de compra e densidade populacional, seria de esperar que Ponte de Lima e Valença acompanhassem a tendência de Viana e Caminha, mas cada um tem especificidades que o explica. Em Ponte de Lima, a histórica referência ao CDS-PP parece ser uma razão fácil e suficiente. Em Valença, o facto de este ser o concelho com mais elevada taxa de participações de ocorrências às forças de segurança, mais alta taxa de desemprego do distrito e uma das maiores subidas percentuais de população imigrante residente, pode ajudar a compreender o comportamento do eleitorado que, tal como Cerveira, de 3% de votos no Chega nas últimas eleições, superou, em 2024, a fasquia dos 29%. O que é facto é que as freguesias que, em Vila Nova de Cerveira, ajudaram a que, neste concelho, o Chega pudesse ter 25,22%, se localizam perto de zonas industriais onde o acesso a trabalho precário está facilitado.

Olhando para o mapa, as legislativas de 2024 trazem informações a reter:

  • À medida que avançamos para o interior, as votações tenderam a favorecer a Aliança Democrática;
  • Zonas mais litorais têm voto mais expressivo no PS;
  • Contrariamente ao vinculado pela comunicação social, o PS, pelo menos no Alto Minho, não é o partido dos idosos e pensionistas. Entre os concelhos mais envelhecidos (Arcos de Valdevez, Melgaço e Monção) e os concelhos com maior taxa de pensionistas (Arcos de Valdevez, Caminha e Ponte da Barca) o voto recai maioritariamente na AD;
  • O Chega, embora conotado com visões mais arcanas da convivência cívica, continua a ter dificuldade em penetrar nos territórios mais interiores do Alto-Minho. Melgaço, Ponte da Barca e Arcos de Valdevez são os concelhos com menos percentagem de votantes;
  • As freguesias com as votações mais expressivas no ADN foram aquelas com votos mais concentrados na AD

Há, por fim, um elemento interessante. A questão da imigração tem sido colocada como um tópico que agrega eleitores ao Chega. As legislativas de 2024 desmentiram essa ligação no Alto-Minho. Pelo menos, não é possível estabelecer essa como a causa unidirecional. Explicando. Os três municípios com maior subida de população imigrante residente são Viana do Castelo (1.002 em 2008, para 3.815 em 2022), Valença (465 em 2008, para 1.263 em 2022), Monção (321 em 2008, para 1.014 em 2022). Isto recorrendo aos números oficiais do INE, que excluem a imigração ilegal.

Ora, se o mantra de “muita imigração, logo a opção é o Chega” funcionasse, Viana e Monção teriam outras percentagens de votos no partido de extrema-direita. O que se pode, possivelmente, concluir é que a migração é um trunfo eleitoral, qual associado a um contexto de maior pobreza e risco de precariedade.

[1] Mesmo tendo a AD ganho no concelho de Viana do Castelo, a magra vitória por menos de 1% não deixa de evidenciar uma retumbante confiança no PS.

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