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Descascar a vida: o que há num magusto?

A castanha é, sobretudo, um fruto interior. Para chegar até ele é preciso desfazer-se de um ouriço áspero e concentrar-se na minúcia de ir removendo a casca que, interiormente, o envolve. Naquele movimento quase secreto, em que parece que as mãos se fecham, há quase uma compulsão pela intimidade, por aquilo que não se pode ver, por aquilo que está guardado. A tarefa é sempre fazer o esforço por retirar o revestimento de uma superfície: forçá-lo a sair. E mesmo para quem as prepara, o objetivo continua a ser lanhar para depois as abrir.

Por Noticiasdeviana
Novembro 17, 2022
in Opinião
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É também para o interior da casa da Associação Cultural de S. Martinho de Castro, em Ponte da Barca, que a população se dirige mal termina a Eucaristia, na igreja paroquial. A chuva aproximou-se, e aquele lugar tornou-se um abrigo de um convívio que foi pensado para um espaço exterior que, no dia anterior, tinha sido inaugurado após obras de beneficência. Lá dentro, as vozes misturam-se e confundem-se, embaladas pela música popular com que um quarteto de homens anima o momento. Do lado de fora, da pacatez da aldeia, nota-se a deslocação de quem permanecia no interior: os que vinham para a janela, os que circulavam em torno da mesa, os que não se viam. 

No meio destes encontros, Fernanda Barbosa, presidente da Associação Cultural, destaca a relevância temporal do magusto. “Esta é uma altura em que já não estamos no verão e a reunião das pessoas se torna mais difícil”, diz ao Notícias de Viana, considerando que receber este momento comunitário na sede da Associação “é cumprir aquele que deve ser o objetivo primordial do associativismo: reunir e servir as pessoas”. 

De facto, no meio da transição entre estações, colocados num período bastante intenso de prática da religiosidade popular, os magustos assemelham-se a rituais de resistência coletiva: por esta altura, “na terra”, estão aqueles que não embarcaram no desafio da emigração, aqueles que protegerão o lugar de origem durante a noite que o inverno antecipará, aqueles que colheram o que as sementeiras conseguiram oferecer. 

Mas, entre todos, ficaram, também, os antigos, os anciãos e anciãs da comunidade. Manuel, Rosa Martins, Lucinda Malheiro e Olinda Costa, são alguns deles. O Sr. Manuel, de 72 anos, confessa que sempre gostou das festividades, que elas “têm muito valor”, e que virá enquanto puder. Já Lucinda e Olinda destacam o convívio e a união entre todos. “Somos uma freguesia unida”, referem com entusiasmo, recordando, ao mesmo tempo, os anos já passados. “Antigamente, existiam bailes no meio dos campos, danças, castanhas assadas no meio da gravalha”. 

Curiosamente, a poucos dias de começar o Mundial de Futebol, o magusto, etimologicamente “grande fogueira”, assemelha-se, a nível etnográfico a uma eliminatória, a um jogo em que só a vitória interessa, a uma última chance. O Nobel da literatura Peter Handke chegou a falar da “Angústia do Guarda-Redes Antes do Penalty”, mas o magusto é, à sua medida, um ensaio, ritmado pela tónica do suspense, de um desfecho. Com ele marca-se o fim do tempo das colheitas, numa celebração de agradecimento, mas de igual transição para um tempo indefinido e incerto. Em comunidade é, para muitos, a última oportunidade de estarem juntos antes da recoleção imposta pelo frio, que tempera, de igual modo, o ritmo dos trabalhos agrícolas. Nas culturas indígenas norte-americanas e tribais do hemisfério sul, há algo próximo, denominado Potlatch, um fenómeno que só foi observado no início do séc. XX pelos antropólogos europeus. Trata-se de um evento comunitário, relacionado com o tempo da última colheita, em que o fogo toma um lugar de destaque e se propõe a renúncia a todos os bens materiais acumulados pelo homenageado nas festividades. Potlatch significa, precisamente, dar. No entanto, o objetivo não era uma espécie de retribuição ou redistribuição dos bens, como se se tratasse de uma “regulação do mercado”, mas a destruição precisamente desses bens, como se a riqueza aniquilada encontrasse um novo significado e permitisse um recomeçar comunitário. Não por acaso, José Carlos, presidente União das Freguesias de Crasto, Ruivos e Grovelas, fala de um “culminar”, de um evento que “cria confraternização” e “chama à colaboração toda a freguesia”. 

Mas esta dimensão de despojamento cruza-se com a figura de S. Martinho, que Rosa Martins Sousa, de 83 anos, assume ser “santo muito lindo e um padroeiro muito bonito”. Fernanda Barbosa reconhece que dele retira um estímulo à generosidade, ao respeito pelo outro, a “colocar-se nos pés dos outros”, e José Carlos assegura que a partir da vida de Martinho se entende que “não é preciso ser vaidoso ou estar à espera de retribuição para proporcionar o bem-estar a toda a gente”. 

As concertinas continuam a tocar. Do lado direito algumas senhoras começam a acompanhar a música. A comida vai sendo reposta. Há uma festa para continuar. 

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