Abrir os olhos e Ver…

Não posso deixar de ter presente os acontecimentos que vêm ao nosso encontro e, num ápice, mudam a vida de tantos, mergulhando em dor e sofrimento tantos irmãos nossos. Geme a humanidade, voltam-se os olhos, procura-se como sair ao encontro, ajudar, prestar auxílio, esquecendo divisões, fronteiras ou qualquer tipo de diferença… não há raça nem religião que nos possa afastar, cada vez que nos aproximamos e tornamos próximos de quem sofre até ao extremo do que se pode imaginar.

Não sei, ou pelo menos fico para aqui a pensar, se conseguimos ficar indiferentes, no sofá, à espera que outros avancem para o terreno, que as grandes organizações se organizem, enquanto assistimos, como se de filme se tratasse, à espera do desfecho longínquo… Há dores que abrem feridas que precisam de muito tempo para cicatrizar, mas que deixarão as suas marcas nas vidas de quem as sofreu, ou de quem muito de perto se encontrava, ou de todos aqueles que conseguiram aproximar-se.

E, deixem-me partilhar convosco aqueles olhares que ficaram gravados na retina dos meus olhos quando tive a oportunidade de sair ao encontro, com as pequeninas ajudas conseguidas no meio de gente que ficou tocada com aquele, e aqueles, sismo tão terrível… não sei o que foi mais importante para aqueles jovens… se a ajuda em bens, se a aproximação a irmãos de outra religião, alguns dos quais só falavam o seu idioma e outros balbuciavam um obrigado/a com brilho no olhar e apontando para o alto, erguendo as mãos… e, no meio da troca de olhares, palavras entre inglês, português e a linguagem do amor, Alguém falava mais alto, sem ruído!

Quem me dera cada manhã abrir os olhos e Ver… as maravilhas que o Criador nos oferece, as dores que, não poucas vezes provoco sem querer nos irmãos, mas também as oportunidades e possibilidades que temos nas mãos para podermos construir um mundo muito melhor.

Quem me dera abrir os olhos e saborear que é possível construir pontes, criar laços, tecer redes e viver a comunhão mais profunda com toda a humanidade… ainda que alguém possa dizer que é sonho e utopia.

Quem me dera abrir os olhos e ver o brilho no olhar dos nossos jovens, capazes de arregaçar as mangas, partir ao encontro, anunciar a todos que a nova civilização está a desabrochar, a nascer nos desejos de todos e é possível, pois já se vive em muitos lugares e situações.

E, certamente neste momento, o(a) estimado(a) leitor(a) já está a dizer que afinal é verdade, pois também vive este sonho maravilhoso de uma humanidade nova, atenta e disponível para saciar fomes e sedes de felicidade, de ajuda, de vida com maiúscula… Sim, e que faz parte destes sonhadores que desejam e vivem de olhos abertos, que acena que é possível e urgente falar a linguagem do amor, ainda que não se seja “poliglota”, que há gestos que valem muito mais e chegam ao coração de quem é capaz de abrir os olhos e ver..

Resta-me, nesta altura, perguntar-me se estou disposto(a) a viver abrindo os olhos e ver, passo a passo, a Vida Nova acontecer ainda que seja no meio dos escombros…

Eis a questão: abrir os olhos e Ver…