Já tudo foi dito, escrito, analisado e discutido sobre o famoso apagão. (Tudo menos o porquê). Nada de novo, certamente, irei acrescentar.
Falar de papel higiénico (deve haver quem ainda o tenha do armazenamento de 2020…), das conservas, da água, das velas. Tudo foi dito e comentado.
Falemos de outros problemas graves que o apagão trouxe. O alarme, o disse-que-disse, o quem conta um conto acrescenta um ponto tomou conta do cidadão mais pacato e atilado. Vai ser de 3 dias. Foi o Putin. Já estava previsto. Só faltou o fim do mundo, a invasão de extraterrestres do Orson Wells, o terrível Apocalipse.
De repente, sem aviso, sem apelo nem agravo, o mundo desabou. “E as redes sociais, o meu tique-toque, onde vou buscar a minha informação? E a água? Vai faltar? Onde está a minha influencer de eleição para me guiar?”
Vamos ligar o rádio. Rádio, onde? Ou não há, ou faltam as pilhas.
E quando chegar a noite? Velas, só se for as que sobraram dos aniversários ou as do Natal!
E os combustíveis? Vão acabar? Já se fala em corrida às bombas de gasolina. Há quem precise mais do que eu, mas quero lá saber! O pão do supermercado vai todo comigo. Os outros, como uma Maria Antonieta de trazer por casa, que comam brioches. (Contaram-me que houve criaturas, não são pessoas, que, no dia seguinte, foram devolver, com uma grande lata, as conservas e o pão de forma aos supermercados. Não acredito! Não pode ser mesmo verdade, pois não!?!?)
O alarme continuava. Que fazer? Como ocupar o tempo!
E, em algumas casas mais estranhas, bem à vista, ou bem guardado para não atrapalhar, estava um objecto raro, cada vez menos utilizado, mas muito útil – um livro. Um livro a sério, com capa, páginas, não um moderníssimo e inútil e-book. Não necessita de electricidade. Não precisa de pilhas e pode ajudar-nos a perceber toda esta loucura, esta insensatez…
“Vamos ser todos melhores”, dizia-se durante o confinamento. Uma ova! Vamos é açambarcar, olhar por nós…
Tudo estava previsto. Não andavam a falar de kits de sobrevivência? A mim não me enganam. Tudo previsto!
Deixando-nos de brincadeiras…
Reflectindo sobre este apagão com alguma distância, sobre o comportamento de algumas pessoas, talvez nos ajude a entender o novo e brutal apagão que sobre nós, mais recentemente, se abateu. Talvez mais destruidor, mais maléfico. Não vai durar umas horas, para nosso grande mal… Não vamos poder remediar com uma ida ao supermercado. Talvez o papel higiénico ajude…
É um apagão cultural, humanista, social. É uma verdadeira tragédia!
Indignem-se!
Não de deixem apagar!
SUGESTÕES
Ler – Apagar a História, Jason Stanley
Se eu quisesse, enlouquecia: biografia de Herberto Helder, João Pedro George
Ver – Rumo à liberdade, RTP PLAY, António Barreto
** (Escrito de acordo com a ortografia antiga)
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