Paróquia da Gavieira associa-se à classificação da Romaria de S. Bento do Cando

O Instituto Património Cultural iniciou a consulta pública sobre a decisão de inscrever no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial a Romaria de S. Bento do Cando. Uma festa com mais de 600 anos, que decorre na branda de S. Bento do Cando, da freguesia da Gavieira, em Arcos de Valdevez.

Micaela Barbosa
26 Set. 2024 4 mins

O Pe. César Maciel é o pároco daquela freguesia e assegura que vê com “bons olhos” a classificação, descrevendo-a como “uma fotografia deste tempo da romaria”.  “A romaria, como todas, está num processo evolutivo. Não é uma realidade estanque. É uma realidade maleável e, por isso, esta classificação representa a preservação de uma realidade antiga como um registo de memória. Ao mesmo tempo, aponta a sua valorização como elemento cultural essencial e que deve perdurar no tempo”, afirmou, considerando ainda a classificação como “um alerta”, não só para perceber a sua importância social e cultural, como “quanto são chamados a preservar estas realidades” para que “perdurem no tempo”. “Estamos a falar de realidades muito particulares, com características muito próprias, que já não existem em tanta quantidade quanto isso. E, por ser tão presente, por vezes, nem notamos o quanto ela vem do passado, o quão importante é registar os seus monumentos e preservá-los”, salientou.

“O que une toda aquela região é a montanha”

O sacerdote defendeu ainda que “a demografia não deve ser esquecida” porque “tem impacto efetivo na participação e realidade das romarias serranas, como é o caso”. “A branda de S. Bento do Cando é um lugar de verão, da Gavieira. Ficava num lugar de passagem entre os mosteiros de Ermelo e Fiães. Toda aquela zona estava rodeada de colónias agrícolas que, mais tarde, deram origem às povoações”, explicou, referindo que a capela deverá ter “mais de 600 anos”. Ali, fez-se “uma séria de festas”. “No dia 21 celebra-se a morte de S. Bento do Cando. É uma festa essencialmente religiosa. Já em julho (entre o dia 3 e 11) faz-se a novena e a festa, em que há eucaristia, sermão e procissão”, especificou, contando que, mais tarde, surgiu a festa do emigrante que se realiza no dia 10 de agosto. “Esta romaria tem muito presente as promessas que se centram na materialidade da fé e que perduram no tempo e, por isso, tem uma grande dimensão de culto, nomeadamente, nos concelhos Arcos de Valdevez, Melgaço e Monção”, acrescentou, frisando que “o que une toda aquela região é a montanha”. “As pessoas cruzavam-se nos montes para pastorear os gados e na festa. Hoje, parece-nos um bocado disperso porque temos de percorrer as estradas, mas, antigamente, era tudo muito próximo, criando relações de vivência da fé”, disse.

“A experiência do encontro nas romarias era procurada e celebrada”

No ‘site’ Alto Minho, da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho, explica-se que “a romaria remonta, segundo as informações mais seguras, ao século XVII (a capela foi mandada construir por capítulo de visitação, em 1651) e realiza-se em três momentos anuais”.

Os romeiros de S. Bento do Cando são, essencialmente, para além do concelho de Arcos de Valdevez, “as pessoas vindas dos concelhos vizinhos de Melgaço e Monção” e deslocam-se à branda de S. Bento do Cando “para cumprir a novena, a meia novena, pagar as suas promessas ou pedir proteção e saúde para si e para os seus familiares”. “Repetem este ritual ano após ano para se encontrarem e falarem de perto com S. Bentinho ou Sr. S. Bento, como carinhosa e respeitosamente o tratam”, refere a página.
Outra característica da romaria, “comum a outras festas religiosas de montanha em locais isolados […] é o da existência, nas imediações do Terreiro da Capela, de habitações destinadas à permanência dos romeiros durante as cerimónias religiosas”. “Na maior parte das vezes, os romeiros vinham das brandas e inverneiras da Gavieira, das freguesias vizinhas de Melgaço, Monção e Arcos de Valdevez. De tão isoladas estarem os núcleos residenciais, a experiência do encontro nas romarias era procurada e celebrada como o momento excecional do ano. Aí rezam, negoceiam e se enamoram, superando a permanente autarcia das economias locais e os riscos das relações sociais endogâmicas”, acrescenta.

O anúncio da abertura do procedimento, que terá a duração de 30 dias, foi publicado no Diário da República e esclarece que o Património Cultural decide sobre o pedido de inventariação no prazo de 120 dias após a conclusão do período da consulta pública.

Fotografia: Património Cultural, I.P.

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