Seminário Menor, uma casa que propõe uma caminhada de discernimento

O Seminário Diocesano Frei Bartolomeu dos Mártires não está situado no alto do monte de Santa Luzia, em Viana do Castelo, mas tem uma vista igualmente privilegiada para toda a cidade. Dali pode observar-se e escutar-se o céu, o mar, o rio, as serras e montanhas. Ainda assim, o mais interessante está na sua forma de construção: Ichthus. Um símbolo em formato de peixe, que representa a presença de Jesus Cristo entre os homens, e que estabelece para sempre a nova e eterna aliança. No seu coração, moram onze jovens e três membros da equipa formadora: Pe. José Domingos (reitor), Pe. João Martinho e Diácono João Basto (formadores).

Notícias de Viana
6 Nov. 2020 7 mins
Seminário Menor, uma casa que propõe uma caminhada de discernimento

Numa conversa sem filtros, Tiago Parente, Pedro Ferreira, Gonçalo Barros, Pedro Mendonça, Tomás Martins, Miguel Costa, Tiago José, Paulo Sousa, Daniel Barros, António Alves e Jorge Silva, explicaram o motivo da sua entrada para o Seminário, desvendando que sofreram de bullying por quererem ser padres. No entanto, “o apoio incondicional” da família e dos amigos mais próximos, foram a chave para se manterem no Seminário, descobrindo se é este o caminho que querem seguir para o futuro.     

O Seminário Menor contempla alunos do 7º ao 12º ano que o caracterizam como “discernimento, família, fé, aprendizagem, comunidade, alegria, fraternidade e união”. “Sempre gostei de frequentar a catequese e ir à Eucaristia. Um dia, o meu Pároco convidou-me para visitar o Seminário e como gostei, decidi vir”, contou Tiago José. Pela mesma razão, muitos outros decidiram arriscar e começaram a frequentar os encontros do pré-seminário. “Um dia, o meu Pároco perguntou, na catequese, se havia alguém que gostasse de vir a ser padre. Não sabia muito bem como dizer que sim, mas a vontade cresceu dentro de mim e, em 2017, após um encontro de Liturgia, inscrevi-me”, recordou Daniel. “Num dia normal, fui de bicicleta para a catequese (risos) e os seminaristas fizeram uma apresentação. No fim, o Pe. João Martinho chamou por mim e convidou-me a conhecer o pré-seminário. Disse-lhe que sim e, depois da primeira reunião, continuei a vir”, acrescentou Paulo, admitindo que queria perceber se esta era a sua vocação. 

“Estamos aqui para perceber se esta é, ou não, a nossa vocação”

Há um mês e meio a frequentar o Seminário, Tiago Parente e Pedro Ferreira asseguram que estão a gostar. “Está a ser divertido conhecer novas pessoas e seguir a vocação de Deus. Além disso, apercebemo-nos de que temos mais fé do que aquela que pensávamos”, confidenciou Pedro. Já Tiago José, Gonçalo Barros e Pedro Mendonça admitem que tinham uma ideia do Seminário “muito diferente” daquela que têm agora. “Era um sítio onde formavam homens para ser padres e que pouca ou quase nenhuma liberdade tinham, mas a verdade é que o Seminário revelou ser um sítio onde há, e temos, várias liberdades”, garantiu Pedro, salientando que têm a sua privacidade. “Ouve-se ainda dizer que não se pode sair do Seminário, que temos todos os dias muitas Missas, que só rezamos e que não temos internet, televisões e etc.”, acrescentou Paulo.

Sobre os medos e receios, Miguel Costa disse que nunca os sentiu e que vê num padre, “uma pessoa que cuida do seu rebanho e espalha a palavra de Deus”. “Para mim, um padre é o mensageiro de Deus”, acrescentou Tomás Martins.

Apesar do que as pessoas pensam acerca do Seminário, Daniel Barros e António Alves afirmam que ainda existe “muita coisa” que os fascina em Jesus. “Não vimos para aqui só por vir. Tem de haver o chamamento interior. Mesmo nas reuniões com o Pe. Nuno – diretor espiritual do seminário – vamo-nos apercebendo se a vontade de continuar nesta caminhada de descoberta aumenta ou diminui. Daí a palavra ‘discernimento’, porque estamos aqui para perceber se esta é, ou não, a nossa vocação: ser padre”, considerou Daniel. “Estando aqui há muitos anos; uma pessoa fica acomodada e familiarizada. Por isso, dá-me ânimo vir para aqui e estar com a minha segunda família. É uma experiência diferente e, quando estou de férias, só penso quando é que volto”, admitiu António. 

Já há sete anos no Seminário, Jorge encontrou a música e, na reta final, de ir para o Seminário Maior, sente-se “ansioso”. “É uma casa nova e, por isso, haverá mudanças. Vou sair da minha zona de conforto e terei muitas saudades”, confidenciou, frisando que ganhou “mais responsabilidade”. “O Seminário fez-me crescer na fé e na música, por exemplo. Tornou-me, acima de tudo, o homem que sou hoje”, afirmou.

“Se tivermos o apoio principalmente da família e amigos próximos, é tudo mais fácil”

Os jovens recordaram ainda as dificuldades que sentiram quando decidiram entrar para o Seminário, confidenciando que sofreram de bullying. “Senti medo porque, quando o meu Pároco veio falar comigo, tinha-me dito que um rapaz também ia entrar e que o conhecia. Quando o vi, tive receio de lhe perguntar se era ele o rapaz, mas ganhei coragem e fui ter com ele”, lembrou Gonçalo. “Às vezes nem é só o bullying por parte dos amigos, mas da própria família. Eles não aceitam, e queriam que fôssemos médicos ou advogados. Eles acham que seguir Jesus não deve ser o nosso caminho e então, pressionam-nos e fazem com que os jovens desistam”, acrescentou outro seminarista. Já Miguel admite que, por vezes, se sentia desmotivado. “No contexto da escola, entender já não é solução, porque é motivo de gozo para tudo. Só um amigo meu é que soube da minha vinda para o Seminário. Tive de guardar segredo, porque tinha medo”, revelou. “Tinha um amigo que ia comigo à Missa e acolitava, mas na escola nunca me defendia porque tinha medo. Ele sempre apoiou a minha decisão, mas, com medo que os amigos também o colocassem de parte, não fazia nada”, contou Daniel. 

Ao contrário de Miguel e Daniel, Paulo assegura nunca ter sofrido de bullying. “Nunca me disseram para não vir e a minha família sempre me apoiou. Aliás, ficaram contentes com a minha vinda para o Seminário e os meus amigos disseram-me que, se era isto que queria, para vir”, disse. “Durante esses anos em que gozavam comigo, aprendi a ignorar. Muitas vezes, virava costas, mas é uma coisa que, mesmo assim, é duro de se ouvir. No entanto, se é isto que queremos, conseguimos sempre seguir em frente”, acrescentou Miguel, encorajando outros jovens a arriscar. “Acima de tudo, não podem ter medo. Se é isto que lhes traz felicidade, devem entrar para o Seminário para fazer esta caminhada de discernimento. Não devem desistir só porque os amigos gozam com eles”, apelou Daniel. Para os mais novos, o que os torna “mais fortes” é o apoio da família. “Até o nosso Pároco nos incentiva a continuar cá”, disse Tiago José. “Quando me diziam que não devia seguir isto, ouvia uma voz internamente que me dizia para não ligar e seguir os meus princípios”, ressaltou Gonçalo. “Se tivermos o apoio principalmente da família e amigos próximos, é tudo mais fácil”, frisou Miguel.

Após vários anos no Seminário, os jovens asseguram que continuam a ser as mesmas pessoas desde o primeiro dia em que nele entraram. “Quando me diziam que ainda era muito novo para tomar uma decisão destas, refletia sobre o assunto para perceber se seria uma boa decisão entrar para o Seminário. Tive ainda a oportunidade de fazer mais um ano de pré-seminário para, realmente, perceber se era por aqui o meu caminho. Interiormente, estava preparado e aqui estou”, referiu Gonçalo. “Quando estive no pré-seminário e mais perto do fim, tive que decidir se vinha para o Seminário ou ficava mais um ano no pré-seminário. Em princípio, queria estar mais um ano porque tinha as aulas de música, mas quando soube que podia continuar a seguir música e manter-me no Seminário, nem hesitei”, terminou Paulo. 

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