Porto de Mar ambiciona crescer com empresas do Alto Minho

É junto da foz do Rio Lima, na zona noroeste de Portugal, que se localiza o Porto de Mar de Viana do Castelo, que “tem uma grande importância desde a Idade Média à época dos Descobrimentos Portugueses” e “constitui-se no terceiro porto com maior afluência do país”.

Micaela Barbosa
9 Jun. 2023 10 mins
Porto de Mar ambiciona crescer com empresas do Alto Minho

Incorporou-se na Administração dos Portos do Douro e Leixões (APDL) em 2015, e abrange quatro valências: comercial, industrial, pesca e recreio náutico.

É “essencialmente” exportador: 72% é carga para exportação e 28% é para importação, e as principais cargas movimentadas são carga geral fracionada (madeira, papel kraft e equipamentos eólicos e náuticos) e granéis sólidos e líquidos (caulinos, cimento, fertilizantes e asfaltos).

Em 2021 conectou-se à A28 e, mais recentemente, tem sido escalado com um novo segmento de carga: a carga Ro-Ro (roll-on roll-off, ou seja, carga que pode ser embarcada e desembarcada utilizando as próprias rodas: camiões, tratores e reboques). E é aqui que a APDL quer apostar devido às suas características físicas, que “permitem que os navios, embora sendo compridos, consigam aceder à área portuária”. No entanto, são as empresas que trabalham no sector das energias renováveis, “tanto offshore como onshore” (instaladas, respetivamente, no alto mar ou em terra), que mais procuram o Porto de Mar.

O Porto de Mar “vai respondendo à procura que tem”, mas, com o lançamento dos leilões offshore do Governo, as empresas (do sector das energias renováveis offshore), procuram-no “todas as semanas”, para “acautelar espaços”, para se pré posicionarem na “competição”. Neste sentido, “está a ser desenvolvida uma avaliação de impacto ambiental” para que, “se o parque eólico offshore se concretizar na zona em frente a Viana do Castelo, o Porto de Mar tenha o projeto mais maturado, preparando-se e dando uma resposta mais consistente”.

Está também a ser realizado um estudo de mercado porque, “nos últimos anos, o Porto de Mar tem estagnado nas 400.000 toneladas, embora tenha condições para movimentar um milhão de toneladas”. O objetivo é “compreender por que o Porto não acompanha o crescimento industrial da região” e, consequentemente, “perceber a razão pela qual as empresas do seu hinterland (mais interiores) não recorrem a ele”.

Notícias de Viana (NdV): De que falamos quando falamos do porto de Viana do Castelo?Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL): O Porto de Viana do Castelo é um interface de transporte de mercadorias que serve as necessidades da região e promove o desenvolvimento do seu hinterland, constituindo um poderoso instrumento de competitividade para a captação de investimento e atração de novas empresas.O Porto de Viana do Castelo está situado no estuário do Rio Lima e possui condições naturais de acesso, abrigo e fundeadouro. A área portuária desenvolve-se nas duas margens do Lima e na sua foz. Na margem norte, localiza-se o porto industrial, composto por duas grandes empresas, a West Sea – Estaleiros Navais e a Enercon, o porto de pesca, e as instalações de apoio à náutica de recreio e clubes náuticos. Na margem sul, localiza-se o porto comercial, o qual inclui terminais para a movimentação de carga geral fracionada, Roll-on Roll-off, e granéis sólidos e líquidos, servindo um vasto conjunto de empresas transformadoras.

O Porto de Viana do Castelo tem, ainda, demonstrado capacidade para dar resposta à procura no âmbito das energias renováveis, como é exemplo o suporte a um dos maiores parques eólicos flutuantes da Europa – a WindFloat, à maior indústria nacional de fabrico de geradores de energia eólica – a Enercon, e mais recentemente à instalação de uma unidade para o desenvolvimento de protótipos de conversores de energia das ondas – a CorPower Ocean.

(NdV): Qual a importância geoestratégica do Porto de Viana do Castelo?(APDL): Em termos gerais, é consensual que o Porto de Viana do Castelo constitui um pilar fundamental para o desenvolvimento económico da região norte, com especial relevo nas exportações. Desenvolver e modernizar esta infraestrutura portuária e apostar na digitalização e descarbonização, são os caminhos apontados para potenciar o transporte marítimo, maximizar o emprego no sector e aumentar as exportações.O Porto de Viana do Castelo constitui uma infraestrutura decisiva para reforçar a notável evolução da dinâmica exportadora do Alto Minho.

De referir que o Porto de Viana do Castelo apresenta uma posição estratégica para servir territórios-alvo, pois encontra-se inserido numa região que, nos últimos anos, tem registado um significativo desenvolvimento económico, verificando-se uma especialização em diferentes sectores de atividade, de alta tecnologia e com grande potencial de internacionalização, dos quais se destacam a indústria de componentes automóveis, de mecânica e metalomecânica, os estaleiros de reparação e construção naval de navios de grande porte, as energias renováveis, o sector florestal, a madeira e o mobiliário, empresas do ramo agroalimentar e vitivinicultura.

Os investimentos na melhoria das suas acessibilidades marítimas e rodoviárias e das condições de funcionamento do Porto de Viana do Castelo são, também, fundamentais para a competitividade das empresas do Alto Minho. É disso exemplo, o investimento no novo acesso rodoviário ao Porto de Viana do Castelo que representou um investimento global de cerca de oito milhões de euros. A obra de aprofundamento do anteporto e do canal de acesso aos estaleiros navais e cais do Bugio, que representou um investimento público de cerca de 22 milhões de euros, permite a entrada de navios de maior dimensão e potencia a criação de um cluster (aglomerado de empresas) na indústria naval portuguesa, aumentando a competitividade do Porto de Viana do Castelo e contribuindo para a melhoria das condições de segurança e navegabilidade da infraestrutura.Em 2020, foi concluída a 1ª fase da empreitada de reparação e reforço do molhe norte do Porto de Viana do Castelo, a qual correspondeu a um investimento da APDL de 2,1 milhões de euros. Esta empreitada foi a primeira de quatro intervenções previstas, as quais representam um investimento global de cerca de 22 milhões de euros, para a reabilitação do referido molhe, assegurando principalmente questões de segurança da infraestrutura portuária com crescente relevo na atividade económica da região. A reabilitação do molhe norte de proteção do Porto de Viana do Castelo, com um comprimento de 2.170 metros, é particularmente importante para a proteção de um conjunto de instalações, onde se desenvolvem diversas atividades e valências portuárias (comercial, construção e reparação naval, pesca e recreio náutico) e ainda para a proteção do Parque Empresarial da Praia Norte, das unidades fabris da Enercon e das instalações e equipamentos dos estaleiros navais da WestSea.

(NdV): Como se traduz a sua relevância do ponto de vista económico?(APDL): Nos últimos anos, o Porto de Viana do Castelo tem sido alvo de um desenvolvimento substancial, vindo a afirmar a sua posição relevante no sector portuário português, através das melhorias efetuadas ao nível da sua infraestrutura, na aposta em projetos pioneiros no âmbito da sustentabilidade ambiental, e na criação de condições para a implementação de boas práticas com vista à descarbonização e à transição energética.

O Porto de Viana do Castelo constitui uma infraestrutura decisiva para reforçar a notável evolução da dinâmica exportadora do Alto Minho. Os investimentos já efetuados na melhoria do acesso marítimo e rodoviário e das condições de funcionamento e operacionalidade do Porto de Viana do Castelo são também fundamentais para a competitividade das empresas do Alto Minho, entre as quais se destacam duas das principais empresas exportadoras da Região do Norte, a DS Smith – Viana Paper Mill, que se caracteriza por ser uma das mais importantes fábricas de papel kraftliner da Europa, com uma capacidade de produção de 425 mil toneladas por ano, sendo reconhecida como empresa líder de mercado no sul da Europa, e a Enercon, empresa do cluster das energias renováveis, líder no setor da energia eólica, a maior indústria nacional de fabrico de geradores de energia eólica.

(NdV): Como se aliam a procura da competitividade e a sustentabilidade?

(APDL): O papel fundamental do Porto de Vianado Castelopara a economia da região leva à necessidade permanente de melhorar e de se adaptar, de modo a dar resposta à evolução do transporte marítimo para incrementar a competitividade. A implicação mais óbvia da evolução deste sector assenta na própria dimensão dos navios, a qual envolve uma melhoria contínua ao nível das acessibilidades marítimas. Por conseguinte, o Porto de Viana do Castelo terá de acompanhar esta evolução também do lado terra, o que implicará o aumento das áreas de armazenagem, a necessidade de equipamentos de movimentação de carga mais eficientes, a necessidade de acessibilidades terrestres mais seguras, o estabelecimento de condições relacionadas com a sustentabilidade ambiental, entre outras. Assim, num contexto de definição de uma visão articulada para o território, Viana do Castelo conta com a existência de um porto marítimo com capacidade para ser potenciado a diferentes níveis: atividade portuária, indústria naval, cluster das energias renováveis, receção de navios de cruzeiro, pesca e náutica de recreio.

Relativamente à vertente comercial, um porto como o de Viana do Castelo deverá ter em atenção que nas proximidades existem outros dois portos, Vigo e Aveiro, que se apresentam como competidores diretos, pelo que será necessário pensar no Porto de Viana do Castelo como um porto complementar ao Porto de Leixões, reposicionando-o no mercado logístico do noroeste peninsular, através da adaptação e melhoria das suas infraestruturas portuárias. O Porto de Viana do Castelo possui capacidade disponível para mais que duplicar a sua movimentação atual, fator que muito contribuirá para o seu posicionamento como porto complementar do Porto de Leixões, através da captação de alguns segmentos de carga, nomeadamente carga geral fracionada e granéis sólidos. Para além dos segmentos de carga atrás mencionados, o Porto de Viana do Castelo dispõe de condições para captar carga Ro-Ro, segmento em franco crescimento no Porto de Leixões.

(NdV): Anualmente, em que números se traduz o tráfego portuário?

(APDL): Em 2022, registou-se um acréscimo de 8,6% no movimento de mercadorias no Porto de Viana do Castelo, ascendendo a cerca de 410 milhares de toneladas, cerca de mais 33 mil toneladas que no período homólogo de 2021.

O grande impulso deveu-se maioritariamente ao comportamento de carga geral fracionada, que, no ano em análise, registou um acréscimo homólogo de 22%, e no aumento dos granéis sólidos em cerca de 7%.

De salientar ainda que, durante os primeiros 4 meses de 2023, o Porto de Viana do Castelo registou um crescimento de 12,5% face ao período homólogo do ano anterior.

Entre as principais mercadorias movimentadas no Porto de Viana do Castelo destacam-se os produtos provenientes da fileira florestal, que continuam a ocupar um lugar cimeiro na exportação através desta infraestrutura portuária, seguindo-se a importação de produtos asfálticos e betuminosos, a exportação de minerais provenientes da indústria extrativa da região do Minho, e a importação de cargas para utilização no processo produtivo da indústria cimenteira e de betão.

De destacar ainda os novos serviços que muito contribuem para o crescimento do movimento do Porto de Viana do Castelo, em particular a exportação de embarcações de recreio oriundas de uma empresa localizada em Vila Nova de Cerveira, bem como a importação de peças de aeronaves sediada em Santo Tirso.

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