Voltei à Escola

Não, não vou recuar aos caminhos velhos, hoje destruídos por uma estrada estreita e íngreme, não vou recuar aos anos cinquenta do século passado, em que de boina espanhola a cobrir os cabelos revoltos, descalço, porque Maio já não pedia os pesados socos, nem as meias de lã, quando as havia, de fisga, feita duma velha câmara de bicicleta e duma forquilha de salgueiro, depositada no bolso de trás das calças remendadas, (então não era moda…), com esperança de espantar, com pedrada certeira, os melros que, na ponte, na cerejeira das negras me roubavam a merenda em cima da árvore, não é dessa escola, nem desses caminhos que vou falar.

Notícias de Viana
8 Mai. 2020 3 mins
Voltei à Escola

A
escola hoje é no sofá.

Gostei
da professora jovem, moça roliça, com ares de aldeia, não com repeniques de
cidade, mas que, desenvolta, enfrentava as câmaras do estúdio e, na aula, que
era de leitura, não me encheu as medidas de velho professor de português, mas
quase…

Ela
leu, e bem, a “estória”, explorou, mas não tirou a melhor conclusão.

A
estória era bonita, tratava da galinha-do-mato, que com pressa de chocar, só
tinha um ovo seu, vai então mato fora, procura quantos ovos encontra e com
jeito muito de mãe-galinha futura, ajeitou-os no ninho e instalou-se no choco, como
nós agora, em quarentena.

Passou
o tempo e os ovos eclodiram.

Mas
pinto só um, embora tivessem nascido vários seres vivos, que se alimentavam
vorazmente, cada um à sua vez. Cresceram e foram à vida. Só ficou o frango,
alimentando-se até tarde!
Chegou o tempo de ir às frangas e eis que, na primeira aventura, um rapaz vê-o,
no meio do mato e lança- lhe  as mãos,
com gula de quem vai fazer um bom churrasco!


ia ele mato fora, quando uma serpente, um crocodilo e uma avestruz lhe barram o
caminho e não deixam que ele prossiga. Teve que largar o frango e dar à perna.
E só quando os três habitantes da floresta viram o frango solto, deixaram que o
rapaz encontrasse uma nesga de salvação.


que eles tinham nascido no mesmo ninho, tinham sido alimentados pela mesma mãe,
por isso, tinham agora que se mostrar solidários com o ” irmão” de ninho.

E
esteve aqui o pecado da professora, não foi capaz de fazer a transposição para
os humanos.

Se
os animais são solidários, por que razão não o somos nós, em tempos de desgraça
tão grave que nos aflige? Ainda há por aí muitos egoísmos, a começar pelo não
respeitar as regras difíceis de se viver de forma diferente.

Mas
vem ao de cima também aquele instinto de maternidade de um só ovo ser pouco. Há
por aí tanta gente sem filhos e tantos filhos sem pais.

Aquela
galinha-do-mato foi capaz de colocar no seu ninho vários ovos e criar o que de lá
nasceu!

A
velha Europa agora tão dizimada nos seus idosos precisa de rejuvenescer e ter
mais gente jovem. Precisamos de ver casais novos abertos à vida.

E
continuaria a explorar as lições da galinha-do-mato se a paciência dos leitores
fosse maior.
Fiquemos por aqui.

Mas
… voltem à Escola. Há tanto que aprender pela parte de nós que já descemos a
encosta da vida. E´ na RTP Memória, de segunda a sexta. Cada um pode comer do
que gosta, porque os níveis e as disciplinas são muito variadas.
Podemos todos voltar à escola, agora sem réguas nem caminhadas, com gente que
debita conhecimentos que podemos filtrar e ampliar, sem sair da comodidade do
nosso sofá.

Tags Opinião

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