Começando por referir que “no coração de Cristo surge uma nova visão sobre as coisas”, o padre jesuíta indicou, conforme afirma o Papa Francisco, que vivemos “mais uma época de mudança, do que uma mudança de época”, e que, neste espírito, existe uma distinção a fazer entre um tempo anterior, caracterizado como uma “sociedade da disciplina, que formula proibições e utiliza o verbo ‘dever’”, e o tempo atual em que cada um emerge “como empresário de si mesmo”. De facto, segundo o conferencista “não é a falta de moral o problema mais forte do nosso mundo; (…) o problema é que, tantas vezes, até aqueles que advogam pelo regresso identitário às raízes cristãs, o defendem como um princípio que implica a exclusão do outro”.
Com efeito, sobre este pano de fundo e procurando estabelecer uma ponte entre a história de vida de S. Inácio de Loyola e o ministério sacerdotal, o Pe. Miguel Melo indicou cinco pontos de reflexão. Em primeiro lugar, começou por falar da ferida como oportunidade, por esta, tal como a de Inácio, não ser “apenas exterior”, mas comportar “um lastro espiritual mais fundo”, exortando os presbíteros a sentir no seu interior que as dificuldades da vida “podem apenas ser superadas, aprendendo a ‘encontrar a Deus’ dentro dessas feridas”.
Em seguida, enunciou a necessidade de “exemplos de entrega em tempo de ferida” e de Maria como ícone afetivo, em especial, quando “as imagens imperfeitas de Deus não nos permitem vê-Lo mais próximo”. Nesta linha, da necessidade que Inácio de Loyola teve durante a sua convalescença, de conhecer um novo modo de agir, perguntou: “acompanhamos com admoestações ou com exemplos de serviço? E não só com o nosso exemplo de serviço, como se bastássemos para tocar os corações. Mas também apontando, como sacerdotes, para o exemplo de outros da nossa comunidade paroquial?».
Por último, apontou a importância de descobrir a alegria maior, de auscultar o grito interior profundo e de ajudar a meditar na vida de Cristo para se converter apostolicamente. “O que provavelmente é mais difícil de ajudar outros a reconhecer, é que as nossas frustrações interiores, a nossa dor, são dignas de ser amadas. A dor pode ser amada se a convertemos em oração, talvez mediante o grito”, considerando, ao terminar, que “a nossa ferida é sarada pela presença e pela figura de Cristo que nos extroverte (…), enviando a nossa fragilidade entusiasmada para a missão”.