Estava para aqui a pensar que ainda no outro dia, há pouco mais de um mês, a JMJ Lisboa 2023 trazia ao encontro de todos aquela “Pressa no ar”. Sim, vinha acompanhada pelo convite à disponibilidade ao jeito de Maria que soube ir “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1, 39).
Certamente esta é aquela pressa que brota de um coração atento, capaz de sair de si para ir ao encontro dos outros. Aquela a que o Papa Francisco chamou de “pressa boa”, pois “Uma pressa boa impele-nos sempre para o alto e para o outro” (Mensagem XXXVII Jornada Mundial da Juventude, Papa Francisco).
Contudo, à nossa volta, o mundo gira ao redor de uma pressa desenfreada, onde o cronómetro marca o tempo. Vive-se acelerado, sem tempo, não poucas vezes dividido, onde mora o vazio preenchido de agendas sobrepostas dando ares de importância a quem deste modo se sente chamado a viver. E, se calhar chegar ao final de cada dia com aquela impressão de ter corrido, de uma grande azáfama, de até ter recebido muitas palmas, mas ao parar dar-se conta da falta de sentido… Quem sabe?!
Mas um dos grandes desafios da vida surge quando alguém nos pára (ou é parado) pela dor, sofrimento, doença. Nessa altura acabam-se os relógios, a vida passa a ser ritmada pela dor, a qual em diversas ocasiões se transforma em oração e prece. E, pouco a pouco, vai-se descobrindo o sabor de viver com a pressa urgente de parar e prestar atenção, apoio, escutar aquele irmão ou irmã que sofre, que é acompanhado pela doença.
Pergunto-me quem estará mais doente: se aquele ou aquela pessoa que é visitada pela doença, se aquela que é incapaz de olhar à volta e dar-se conta da dor que paira no ar?
Respostas não ouso, julgamentos também não, apenas anseio que a vida de alguém que experimenta a doença e dor entrelaçadas possa encontrar palavras no meio da Palavra, como alento e bálsamo, mitigando o sofrimento e re-descobrindo o Sentido!
Quem dera que a Palavra encontre em cada um de nós coração aberto, disponível e capaz de escutar e digerir, deixando-se transformar e viver de acordo ao convite amoroso que transporta, porque “viva e eficaz” (Heb 4,12).
Basta abrir o coração e a vida e ler os sinais que se cruzam com os nossos passos, lendo nas entrelinhas da vida e da história que vamos escrevendo a cada novo dia, nos encontros com os outros, sempre e quando saímos de nós mesmos, levantando os olhos, coração e vida e permanecemos de olhos abertos, escutando as necessidades de quem connosco se vai cruzando nos caminhos da vida.
Basta vivermos ao ritmo da Palavra que cada novo amanhecer sai ao nosso encontro!
Desafio?!
Para mim, sim.
Vou procurar vivê-lo como compromisso neste tempo com cheiro a missão!
“Corações ardentes, pés ao caminho” (cf Lc 24, 13-15) como quem continua a ser aprendiz… “discípulos missionários”.
Pressa e dor… um parêntesis ou um estilo?! “O Senhor é maior do que os nossos problemas, sobretudo quando os encontramos ao anunciar o Evangelho ao mundo, porque esta missão, afinal, é d’Ele, é d’Ele e nós somos simplesmente os seus humildes colaboradores, “servos inúteis” (cf Lc 17, 10 – Mensagem Papa Francisco Dia Mundial das Missões 2023)
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