Pausas benéficas

A quarenta dias do primeiro tempo litúrgico – o Tríduo Pascal – a Quaresma aparece, depois da paz concedida por Constantino no século IV, como tempo de penitência e de preparação: então surgiram o Catecumenado e a Penitência pública, ambos com o fim de preparar aqueles que desejavam ser cristãos.

Notícias de Viana
5 Mar. 2023 3 mins
Pausas benéficas

—- Hoje, estes quarenta dias lembram a festa da primavera, já que, religiosamente, a vida tem as suas falhas e muitos dispensam mais atenção aos períodos escolares e aos dias sem trabalho do que à dimensão religiosa subjacente e justificante. Alguns vivem à margem desta dimensão fundamental da vida: os dias da Quaresma abrem a estação da primavera e os tempos festivos por ocasião da Páscoa.

A Quaresma acontece para quem deseja preparar harmoniosamente a Páscoa, no seguimento da Boa Nova que Jesus Cristo legou e no envolvimento naquilo que dá um sentido à Vida. Viver a Quaresma implica estar atento a si mesmo e aos outros, para que o volver das estações frutifique em si e transpareça naquilo que se vai fazendo com todos os que elaboram quotidianamente um mundo viável: “Seguir o chamamento de Jesus Cristo, deixar-se moldar nas mãos de Deus” (Bispo de Viana do Castelo), ouvir o que o Senhor diz “nos irmãos, sobretudo nos rostos e vicissitudes daqueles que precisam de ajuda”, como escreve o Papa Francisco na mensagem quaresmal.

A Quaresma tem a ver comigo, na certeza da responsabilidade de facilitar o melhor no presente pelo futuro que queremos entregar a quem nos sucede. Este período tem a ver com a paz que agora ansiamos no mundo, e promove, em nós que ardentemente desejamos, as atitudes consentâneas que possam abrir um futuro radiante.

Para tal, há duas vertentes que estão em jogo: educar-se e decidir.

A primeira implica um tempo de enfoque em si mesmo, analisando com esmero o que me impede de ser mais, o que me desdobra para os outros, promovendo o futuro, o que é necessário estancar na vida para ser mais. A segunda dir-me-á quais os caminhos que devo percorrer, quais as tarefas que devo empreender, quais os escolhos que irei evitar. Ambas exigem algum tempo, muito silêncio, pausas benéficas.

—- Religiosamente, os cristãos são convidados a optar por entregar cada dia um pouco do que é seu para fundamentar uma sociedade de irmãos, em que os mais pobres e os mais fracos recebem um sinal de amor justo, fraterno, ativo, dos que se lembram que eles são indispensáveis para a sociedade – o contributo penitencial. Poderá ser para todos uma forma de ajudar os outros a viver dignamente  (na nossa Diocese, apoiaremos, em partes iguais, a Igreja da Ucrânia e o Secretariado Diocesano da Mobilidade Humana, que apoia os emigrantes mais carenciados).

Esta bandeira é proposta a todos, para que o mundo fuja do egoísmo e seja mais humano. Demos as mãos, o que pode estar adormecido em alguns.

A Quaresma, mais do que um tempo, é uma atitude. Atitude de ponderação e opção: uma revisão serena e humilde que muito frutificará.

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