Quando soube do falecimento do Padre Moreno encontrava-me em Monção e, passados 9 anos, é em Monção onde recebo a notícia da partida do Pe. José Luís. E, quando diziam que o Pe. José Luís ia continuar a obra do Pe. Moreno, eu aí me auto incluo: se um desejava que eu fosse Padre, o […]
Quando soube do falecimento do Padre Moreno encontrava-me em Monção e, passados 9 anos, é em Monção onde recebo a notícia da partida do Pe. José Luís. E, quando diziam que o Pe. José Luís ia continuar a obra do Pe. Moreno, eu aí me auto incluo: se um desejava que eu fosse Padre, o outro tornou esse desejo possível. Sou grato a ambos.
Hoje, despedimo-nos de alguém fisicamente na certeza de que, como nos dizia S. Paulo, agora os vossos membros ao serviço da justiça serão conduzidos à santidade. É nesta santidade que acredito e que rezo: uma santidade onde o Pe. José Luís vai poder ver Aquele em quem sempre acreditou, face a face, e que o abraçará no seu Reino de felicidade. Se, de facto, o salário do pecado é a morte – que cada um de nós está implicado por causa da nossa fragilidade humana – é no dom gratuito de Deus que encontraremos esta vida eterna. Esta vida que ensinou e foi sendo o seu sustento de fé ao longo destes 45 anos de Padre.
Em dezembro do ano passado, quando estávamos à mesa no almoço de Natal do Clero de Viana, o Pe. José Luís esboçou um sorriso e disse que finalmente ia dar um Padre à Igreja. Desejava e conseguiu, mas não na sua totalidade. A doença que o foi atormentando e o foi derrotando impossibilitou-o de estar presente na minha Ordenação e na minha Missa Nova. Contudo, nunca me abandonou e esteve sempre presente em tudo aquilo que era necessário. Só Deus sabe o quanto lhe custou não ter estado comigo nestes dois dias… Mas, hoje, sinto-me na “obrigação” de celebrar esta Eucaristia, com o meu paramento de Ordenação: devo-lhe isto por tudo o que fez por mim. Podia ser mais? Poderia, mas foi o suficiente.
Na semana em que fui para Monção, a sua preocupação sempre foi a de saber se eu estava bem e se alguém me vinha acompanhar à minha nova casa. Hoje, sou eu que o venho ver e lhe venho acompanhar até à sua nova casa. Fica o vazio que se preenche com as saudades e com a memória agradecida do dom da vida que foi e deu. A memória que continuará presente em mim, este aprendiz de Padre.
Prior, vou sentir falta do seu olá à chegada à sacristia, do seu “olá Jonas” e do seu “vai-se andando… diz-me”. Nunca o vi revoltado com a doença quando falávamos, nem nunca o vi magoado com a minha ausência. E, quando me despedi da Paróquia para ir para estágio, as suas palavras foram: «não vais ter aplausos por anunciares o Evangelho, mas vais ter um povo fiel que te vai ajudar a vivê-lo». Palavras duras, mas que são bálsamo neste momento de dor e separação. Palavras de alguém que sabia o que vivia e de quem nunca se cansou de amar.
Passados 9 anos, revivemos tudo de novo. A dor e a separação continuam a magoar-nos e a perguntar a Deus o porquê. Mas são esses porquês que nos vão confortando e nos dão ânimo para vivermos na fé. As perguntas ocupam o lugar do vazio; as respostas que nos faltam vão provocando essas mesmas perguntas; o amor, que o Espírito Santo nos dá, vão sanando a nossa ferida.
O salmista, na liturgia da palavra de hoje, repete no refrão «feliz o homem que pôs a sua esperança no Senhor». E, automaticamente, vem-me à memória as primeiras palavras que o D. Anacleto disse na homilia do funeral do Pe. Moreno: «graças a Deus». Sim, graças a Deus por tudo aquilo que foi e deu, por todos os ensinamentos que nos deixou e por todos gestos, palavras e afetos que transmitiu. Vão faltar os cachaços, os apertos de mão e o sorriso.
Prior, que esta não seja a despedida, mas sim um até Deus. Obrigado por tudo o que fez por cada um dos seus. E, que os seus, continuem a fazer memória de si, pois enquanto a memória não for esquecida, o amor também não desaparecerá. Esse amor que cicatriza a nossa ferida da dor e da separação.
Que a Senhora do Crasto, a mãe que o ajudou na luta da doença, o leve em seus braços até à Jerusalém celeste.
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