A primeira candidatura
«Que Deus lhes ponha virtude» foi o voto que, em 4 de Agosto de 1988, o padre Sérgio Augusto, delegado episcopal, fez chegar ao arquitecto Moreira da Silva com os «papéis» necessários para formalizar a candidatura da obra nova do Seminário Diocesano à comparticipação em equipamento de utilização colectiva do Ministério do Planeamento e da Administração do Território.
Entre outros, exemplares da carta topográfica – alegadamente, «bastante antiga», pois «ainda não existia a actual estrada principal» – e formulários de candidatura parcialmente preenchidos, com a indicação expressa para que o arquitecto completasse as rubricas em branco, concretamente a «área total a construir» e a «descrição sumária do empreendimento».
Também seguiu no mesmo envelope «uma exposição pessoal» de D. Armindo para ser entregue em mão ao engenheiro Luís Garcia Braga da Cruz, presidente da Comissão de Coordenação da Região Norte desde 1986, a quem o bispo vianense expressaria palavras de gratidão no discurso da inauguração oficial do Seminário Diocesano, em 25 de Março de 1997, porque «entendeu o nosso projecto, sempre nos apoiou e animou, nos acompanhou como conselheiro e orientador, numa presença discreta e atenta, geradora de confiança». Curiosamente, palavras que não constam da transcrição do referido discurso na publicação comemorativa intitulada «A Diocese de Viana do Castelo em bodas de prata».
No formulário com data de 4 de Agosto, o empreendimento objecto da candidatura surge com a designação de «Seminário Diocesano-Menor e Vocacional de Viana do Castelo» e apresenta-se com a finalidade de «preparar moral e intelectualmente os jovens que se destinam ao sacerdócio» e com uma estimativa de custo na ordem de 271.788 contos, para o que a Diocese dizia ter como fontes de financiamento as «contribuições voluntárias e eventuais dos cristãos (vulgo, esmolas)».
Sumariamente, previa a construção de uma «zona residencial com camaratas, quartos e sanitários para 100 alunos, 6 padres e 4 irmãs; refeitórios e serviços de apoio; zona de entrada com secretaria e salas de espera, gabinete do Director, biblioteca e salas de estar; zona de estudo com salas de aula, de estudo e de reuniões; capela e sacristia; ginásio/salão de festas com balneários, posto médico, gabinete do Director Espiritual; garagem, recreios cobertos e campos de jogos».
Porém, com data de 8 de Agosto, foi preenchido um novo formulário de candidatura, no qual o empreendimento aparece agora identificado com outra denominação – «Centro Pastoral Frei Bartolomeu dos Mártires» – e apresentado com uma estimativa de custo inferior (144.444 contos) e uma descrição apenas relativa aos «dois corpos interligados (A e B) por caixa de escada comum, correspondendo à zona residencial».
Nesses dois corpos, «ligados em rés-do-chão por galeria, parcialmente envidraçada», estariam distribuídos diversos espaços para diferentes utilidades: «camaratas, quartos e sanitários para 100 alunos e 6 professores, bem como refeitórios e serviços de apoio, nomeadamente cozinha, copa, lavandaria, rouparia; salas de estar e de espera, biblioteca, sala de leitura, gabinete do director e secretaria, bem como ainda 4 quartos para a comunidade de irmãs». Na cave teria lugar a dispensa geral e oficina.
A candidatura foi entregue pelo arquitecto na CCRN, no Porto, em mãos da engenheira Joaquina Miranda, que se revelaria um auxílio extraordinário ao longo de todo o processo, tanto como o manifesto ainda antes da apresentação formal.
D. Armindo recordaria a sua acção prestimosa no discurso da inauguração oficial do Seminário Diocesano, em 25 de Março de 1997, salientando «que desde a primeira hora esteve próxima e por dentro deste processo, senhora dos modos e do ‘timing’, avisando, prevenindo, sugerindo». Na edição do título «A Diocese de Viana do Castelo em bodas de prata», o agradecimento também ficou esquecido na transcrição da intervenção do bispo vianense.
O primeiro estudo prévio
Com a candidatura foi submetido também o estudo prévio, datado de 8 de Agosto de 1988, juntamente com os pareceres do Ministério da Agricultura e da Câmara Municipal de Viana do Castelo.
De acordo com a memória descritiva, a primeira fase de obras compreenderia a edificação dos corpos residenciais (A e B), sendo relegada para uma segunda «o desenvolvimento do corpo das aulas em mais dois pisos» e a «residência para eventual pessoal leigo, em 2.º piso sobre a garagem».
O critério foi justificado com o argumento de que, «na escala de prioridades, considera-se que os aspectos pedagógicos de uma educação em comum ultrapassam os do ensino que, em 1.ª fase, se poderá fazer em estabelecimento de ensino exterior».
Considerou-se mais adequada a construção da estrutura «em betão armado com paredes exteriores, não resistentes, duplas de tijolo, com preenchimento eventual de material isolante, e interiores de tijolo simples, com as espessuras adequadas aos graus de isolamento sonoro exigível».
No processo construtivo, «as lajes serão de elementos pré-esforçados de betão e elementos cerâmicos de enchimento. As betonilhas dos pisos térreos serão convenientemente hidrofugadas e quando necessário defendidas por drenos».
Quanto aos materiais, optou-se por «revestimentos de paredes em rebocos e materiais cerâmicos, de pavimentos a madeira, mosaico vinílico, cerâmico e hidráulico e pavimentos especiais na capela, ginásio e campos de jogos. Coberturas em telha cerâmica e (capela e ginásio) telha asfáltica. Caixilharia em alumínio termolacado e vidro duplo».
Esteticamente, previu-se para a construção articulada, com uma volumetria «pouco saliente» do terreno em cova e inferior à da urbanização localizada a norte, a «alternância de paredes cegas rebocadas ou revestidas a materiais cerâmicos, com panos envidraçados e elementos de betão descofrado».
O recurso a «uma galeria coberta de distribuição ou claustro, para lá da sua acção concreta e utilitária de garantir a ligação abrigada de todos os corpos, confere a todo o conjunto um elemento horizontal de contraste».
Também no estudo prévio foi prevista a realização de projectos autónomos e especiais para todas as infraestruturas, nomeadamente acessos, saneamento, água domiciliária, energia eléctrica e telefones.
O primeiro estudo prévio foi entretanto sujeito a várias reformulações por força dos pareceres que fundamentaram as deliberações das entidades reguladoras a quem o mesmo foi sendo submetido.
À data da apresentação do estudo prévio ainda não eram conhecidos os elementos de reconhecimento geotécnico do terreno, os quais seriam mais tarde objecto de dois estudos, pelo menos. Ambos chegaram ao gabinete do arquitecto em Novembro de 1989.
Um deles foi solicitado, em 5 de Janeiro de 1989, ao engenheiro Manuel Matos Cristino pelo delegado episcopal, que fez questão de dizer que «a ‘empresa’ que encomenda o trabalho não vive em mar de rosas no que ao vil, mas indispensável, metal respeita».
O trabalho do engenheiro mereceria sinceros agradecimentos de «ordem ‘espiritual’», remetidos, em 28 de Agosto de 1989, com a solicitação do envio da «nota de despesas», uma vez que «o favor, esse não é pagável».
(continua na próxima edição)