O Seminário de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana Subsídios para a sua história – Parte XVII

Segunda tentativa Pragmático, D. Armindo não tardou, em menos de um mês após a tomada de posse da Diocese de Viana do Castelo, a retomar com a Venerável Ordem do Carmo, do Porto, as negociações, que tinham sido dadas pelo antecessor como abandonadas e de que já tinha ouvido falar do próprio D. Júlio quando […]

Notícias de Viana
12 Mar. 2021 7 mins
O Seminário de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana Subsídios para a sua história – Parte XVII

Segunda tentativa

Pragmático, D. Armindo não tardou, em menos de um mês após a tomada de posse da Diocese de Viana do Castelo, a retomar com a Venerável Ordem do Carmo, do Porto, as negociações, que tinham sido dadas pelo antecessor como abandonadas e de que já tinha ouvido falar do próprio D. Júlio quando ainda era bispo auxiliar do Porto.

Para melhor esclarecimento, o segundo bispo da Igreja vianense remeteu, em 2 de Janeiro de 1983, uma carta ao provedor daquela instituição, o engenheiro António Fontes Veiga de Faria, a pedir uma audiência para se inteirar do «real estado da questão» da aquisição da casa e quinta que pertenceu a Francisco de Paula Ferreira e, consequentemente, decidir se valeria a pena continuar as diligências.

Pois, era sua intenção – assim o escreveu – «fazer durante o ano que ora começa algumas opções importantes, nomeadamente quanto à instalação do Seminário diocesano, e porque desejo desde já analisar as diferentes hipóteses que tenho diante de mim».

Na referida carta, D. Armindo confessou que não estava suficientemente informado, sabendo apenas que havia intermediários, quer da parte da Diocese de Viana do Castelo, quer da parte do referido provedor. 

A audiência aconteceu na manhã do dia 19 de Janeiro de 1983, no Porto, tendo D. Armindo reunido com o provedor, acompanhado por outros dois mesários, e aproveitado a ocasião para visitar D. Manuel Vieira Pinto (1923-2020), bispo de Nampula, em Moçambique, internado no Hospital da Ordem do Carmo.

D. Armindo tomou nota de como foi «muito bem» recebido pelos mesários da Ordem do Carmo, assim como dos documentos do dossier sobre a quinta da Areosa apresentados na reunião – designadamente, o projecto de urbanização, a correspondência com a Câmara Municipal de Viana do Castelo, uma carta do Vigário Geral e outra remetida à prioresa, tia do provedor, abordada pelo Provincial dos Dominicanos. Não se falou em números.

Reabertura das negociações

Coube a D. Armindo solicitar ao provedor, em 23 de Janeiro de 1983, a indicação da importância pretendida pela Ordem do Carmo para a casa e terreno, com base em avaliação de um ou mais peritos, com a garantia de que a Diocese apresentaria também a sua proposta, igulamente fundamentada.

Ao mesmo tempo, fez saber que considerava as diligências «muito úteis» para alcançar «um acordo de negócio, que esta diocese sinceramente deseja, sem contudo me poder pessoalmente comprometer na aceitação de qualquer das propostas, mesmo com a que for apresentada por peritos da minha incumbência. E a razão é que a solução porventura mais justa quanto a verbas pode estar longe das possibilidades da diocese».

Em 25 de Janeiro de 1983, o provedor respondeu a dizer que iria «no mais curto espaço de tempo, obter a informação actual prestada por técnicos idóneos e imparciais, por forma a fundamentar o valor que por esta Venerável Ordem do Carmo será tomado como proposta sua».

Porque a proposta tardava em chegar, D. Armindo escreveu ao provedor Veiga de Faria, em 17 de Abril de 1983, a lembrar que «a Diocese tem uma certa urgência em fazer uma opção para a construção do seu Seminário, e tem interesse em considerar também a hipótese em causa».

A avaliação 

Com data de 20 de Maio de 1983 chegou finalmente a notícia do provedor, carregado de desculpas pelo silêncio e falta de resposta, de que estava «apto para prosseguir no esquema de diálogo acordado em devido tempo», depois de ter recebido, somente no dia 17 de Maio, o relatório da avaliação feita pelo engenheiro agrónomo António de Queirós Vasconcelos e Lencastre (1913-2017).

Na verdade, o relatório estava datado de 16 de Maio e, nele, constava que a propriedade designada por «Quinta do Crasto» – em vez de «Quinta da Pedreira» – compreendia uma área de 6,5 hectares, dividida em quatro grandes parcelas por vias públicas.

A maior abrangia a casa com entrada por portal armoriado, jardins, terreiros e capela. A menor, construções rurais e casas de habitação e do caseiro, situadas a poente da casa. A sul desta encerrava a «Bouça dos Mosqueiros». A nascente, uma mata em declive na falda do monte de Santa Luzia.

O portal armoriado e a estrutura da capela seiscentista – erguida sob a invocação da Madre de Deus e conhecida, no século XVIII, como ermida da Senhora da Embaixada ou Senhora da Pedreira – eram os únicos testemunhos históricos da primitiva quinta da Pedreira. 

Nem a arquitectura original da casa senhorial perdurou no tempo, depois que foi intervencionada nos primeiros anos da década de 1940. Sobre a capela escreveu o investigador de história local António Martins da Costa Viana (1936-2020) no boletim paroquial «Vinha de Areosa» (nn. 497 e 500).

Ao considerar que uma parte da quinta deveria ser avaliada como propriedade de recreio ou residencial e a outra como susceptível de aproveitamento urbanístico, o engenheiro avaliador Vasconcelos e Lencastre atribuiu-lhe, em números redondos, o valor de 70 mil contos.

O encontro de peritos

A doença da esposa do engenheiro avaliador, perito nomeado pela Ordem do Carmo, e a dificuldade em acertar uma data com os técnicos nomeados pela Diocese de Viana do Castelo protelaram o agendamento do encontro que tinha por objectivo a acareação dos resultados da avaliação da propriedade deduzida pelos representantes de cada uma das partes.

O encontro entre peritos aconteceu em 5 de Janeiro de 1984, no Centro Pastoral Paulo VI, em Darque, mas depressa se converteu em desencontro entre partes, a que assistiu, por um lado, D. Armindo e, por outro, o provedor Veiga de Faria e demais mesários.

Contrariamente ao que sucedeu no primeiro período das negociações com a Ordem do Carmo, no episcopado de D. Júlio, foi a Mesa, desta vez, a dar a saber à Diocese o valor por quanto estava disposta a negociar a propriedade. 

Do ponto de vista da Mesa da Ordem do Carmo, manifestado por carta com data de 6 de Janeiro, foi «profundamente desolador» constatar que, no referido encontro, «nenhum estudo de avaliação havia sido elaborado pelos Senhores Peritos nomeados pela Diocese de Viana», tendo dado a sensação de que «não se sentiam habilitados com um valor que pudesse ser confrontado e discutido, ou até mesmo que não tinham uma ideia amadurecida do valor da propriedade».

Em vista disto, o provedor decidiu facultar cópia da avaliação feita pelo perito nomeado pela Mesa da Ordem do Carmo, não só como «prova de lealdade e confiança», mas também como forma de recuperar mais facilmente o tempo e dar satisfação à urgência manifestada por D. Armindo. Inclusivamente, a pedido dos peritos nomeados pela Diocese, enviou, em 10 de Janeiro, a planta topográfica da propriedade.

A ser verdade que o valor de 70 mil contos da avaliação feita pelo engenheiro António de Queirós Vasconcelos e Lencastre em 16 de Maio de 1983 chegou a ser revisto até se fixar na importância de 50 mil contos, este continuava ainda assim incomportável para a Diocese.

(Continua na próxima edição)

Tags Diocese

Em Destaque

Notícias atuais e relevantes que definem a atualidade e a nossa sociedade.

Opinião

Espaço de opinião para reflexões e debates que exploram análises e pontos de vista variados.

Explore outras categorias