O Seminário de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana Subsídios para a sua história – Parte XIX

O encontro No encontro, D. Armindo ficou a saber da boca de quem outrora tinha conduzido as conversações com D. Júlio, em representação da Congregação, que, entre os espiritanos, o assunto foi controverso. Pois, houve então quem, na sua Congregação, fosse favorável à entrega do Seminário das Missões à Diocese de Viana do Castelo e, […]

Notícias de Viana
26 Mar. 2021 6 mins
O Seminário de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana Subsídios para a sua história – Parte XIX

O encontro

No encontro, D. Armindo ficou a saber da boca de quem outrora tinha conduzido as conversações com D. Júlio, em representação da Congregação, que, entre os espiritanos, o assunto foi controverso. Pois, houve então quem, na sua Congregação, fosse favorável à entrega do Seminário das Missões à Diocese de Viana do Castelo e, por sua vez, quem demonstrasse discordância. 

Na verdade, tratava-se de uma casa de formação de futuros missionários – ou «farrapeiros da Igreja», expressão do padre co-fundador François Libermann (1802-1852) para designar aqueles a quem Deus confiou o que ninguém quis, isto é, as missões mais difíceis e perigosas – com uma relevância histórica que remontava aos primórdios do restabelecimento da Congregação do Espírito Santo em Portugal, em 1919, de que foi encarregado o provincial Moisés Alves de Pinho (1883-1980), após a retoma das relações entre Portugal e a Santa Sé, com Sidónio Pais.

Ao «Seminário das Ursulinas», o padre espiritano Adélio Torres Neiva (1932-2010) dedicou-lhe grande atenção na obra intitulada «A história da Província Portuguesa dos Missionários do Espírito Santo, entre 1867 e 2004», na qual relatou o interesse da Congregação do Espírito Santo em fixar-se em Viana do Castelo ainda antes de ser decretada, em 8 de Outubro de 1910, pelo Governo Provisório da República, a expulsão dos religiosos estrangeiros ou naturalizados e, sendo portugueses, a secularização do seu estado, sem vida em comunidade, ou o exílio.

Em Janeiro de 1885, o padre Ambrose Émonet (1828-1895), décimo quarto superior geral da Congregação, deslocou-se a Viana do Castelo, na companhia dos padres Désiré Barillec (1831-1909), assistente e secretário geral, e Gebhard Eigenmann (1841-1910), fundador da província espiritana de Portugal e superior da comunidade de Braga, para ver o antigo convento das Ursulinas com o propósito de fundar nele um colégio.

No «Bulletin géneral de la Congregátion du Saint-Esprit» ficou o seguinte registo: «Nesta cidade encontra-se um antigo convento das Ursulinas, cuja última religiosa acaba de falecer. Espera-se obter do Governo a cedência deste convento a fim de aí fundar uma escola agrícola e profissional e o noviciado dos Irmãos para a missão da Huíla. Local magnífico, à beira mar, terreno extenso e de boa qualidade, numa palavra – uma propriedade perfeitamente apropriada ao fim em vista».

Depois de adquirido em 3 de Novembro de 1922, o antigo convento das ursulinas foi convertido primeiramente em seminário maior dos espiritanos, onde funcionou o curso de Teologia, entre 1922 e 1952, e o de Filosofia somente, entre 1952 e 1958, com a deslocação daquele para Carcavelos, para depois passar a seminário menor, entre 1956 e 1980, ano em que apenas uma pequena comunidade espiritana habitava a casa. O Conselho Provincial de 7 de Fevereiro de 1980 decidiu encerrar o seminário de Viana para o 5.º e 6.º anos a partir do ano lectivo de 1981-82.

Havia, portanto, razões históricas, mas também afectivas que ainda estavam presentes na memória e no coração de alguns religiosos, sobretudo dos mais velhos. Recorde-se, por exemplo, que, em 1930, foram ordenados, em Viana do Castelo, os primeiros sacerdotes espiritanos, após o ressurgimento daquele instituto de vida religiosa em Portugal.

Uma vez decorridos dois anos após as derradeiras conversações com D. Júlio, era bem provável que a força dessas razões já se tivesse dissipado paulatinamente. Pelo menos, assim o entendia o padre Manuel Barbosa, para quem a hipótese de instalar o Seminário na casa da Congregação, em Viana, tinha pés para andar, até porque era pessoalmente favorável. 

Mas, o assunto teria que percorrer várias etapas, as quais foram expostas pelo superior provincial a D. Armindo enquanto este tomava delas nota. Primeiro, o superior teria que convocar os demais membros da equipa e conselho provincial, ao todo composto por onze membros. Para além do provincial, faziam parte os padres Manuel de Sousa Gonçalves (1935-2013), vice-provincial para a formação, Veríssimo Manuel Teles, vice-provincial para a animação missionária, Francisco Manuel Lopes, Agostinho Pereira Rodrigues Brígido, Manuel João Magalhães Fernandes, João Inácio Carreira Mónico, José Reis Gaspar, Eduardo Francisco de Miranda Ferreira, Abel Moreira Dias (1936-2015), ecónomo, e Ernesto de Azevedo Neiva.

Em segundo lugar, sendo o parecer do Conselho Provincial favorável, havia que remeter o veredicto para Roma e pedir licença ao Superior Geral, que, por sua vez, teria que pedir autorização à Congregação. Por fim, no caso de a resposta ser afirmativa, o procedimento seria desencadeado pelo tesoureiro-geral da Congregação, à data o padre Abel Moreira Dias.

Enquanto ouvia o padre espiritano, D. Armindo ia anotando detalhadamente os esclarecimentos e os passos que seriam necessário dar no caso de a Diocese pretender a casa da Congregação, em Viana, inclusivamente a insistência em que o assunto deveria ser tratado com o tesoureiro da instituição, de que é elucidativo o seguinte apontamento feito nestes termos: «repete (e eu anoto): é assunto a tratar com o Tesoureiro (para quê?)».

De igual modo registou que o padre espiritano terá dito que «nunca porém a Congregação dirá quanto custa o Seminário», não só «porque é uma congregação religiosa», mas também «porque se trata de entregar um Seminário à Diocese», não se podendo pensar, por isso, «num negócio normal ou ordinário». 

Independentemente de qual viesse a ser a decisão, o padre Manuel Barbosa considerou que iria ser seguramente necessário providenciar, em Viana, morada para doze sacerdotes espiritanos. Assim sendo, caso o Seminário das Missões viesse a ser entregue à Diocese, sugeriu que esta teria que encontrar uma casa para eles.

Nesta matéria, a posição de D. Armindo foi impulsivamente taxativa, ficando o provincial logo a saber que, em caso algum, a Diocese trataria de providenciar residência para os padres espiritanos. Se, no momento, o prelado respondeu assim, a reacção seria diferente mais tarde.

Quanto ao resto, nada adiantou, a não ser que, além desta alternativa, tinha outras duas em mãos e que, na ocasião, sem dizer explicitamente qual – a da quinta da Areosa –, a Diocese estava a estudar concretamente uma delas.

Por conseguinte, ficou entre ambos assente que nenhum passo fosse dado pela Congregação do Espírito Santo enquanto não houvesse um pedido formal da parte do Bispo da Diocese de Viana do Castelo. Até lá, as conversas entre os dois sobre o assunto não tinham por que não continuar. Aliás, a convite do superior provincial, D. Armindo foi convidado a visitar a casa na próxima vinda daquele ao Norte, prevista para o final do mês.

(Continua na próxima edição)

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