O que é o Ano Litúrgico? O que é o Advento?

Com o Domingo de Cristo Rei encerramos um Ano Litúrgico e, no dia 29 de novembro, inaugurarmos outro com o I Domingo de Advento. Contudo, o que é afinal o Ano Litúrgico? Porque é que, ao longo do ano, as vestes litúrgicas mudam de cor? Porque é que o Ano Litúrgico não começa no dia 1 de janeiro, como o ano civil? O que é o Advento? Qual a sua origem?

Notícias de Viana
27 Nov. 2020 7 mins
O que é o Ano Litúrgico? O que é o Advento?

O que é o Ano Litúrgico?

Todos nós convivemos com diversas formas de organizar o tempo, baseadas em diferentes objetivos e dinâmicas. Conhecemos, por exemplo, o ano escolar, o ano judicial ou o ano civil, que começa, este, a 1 de janeiro e termina a 31 de dezembro. Do mesmo modo, a Igreja mede a passagem do tempo correspondente a um ano através do chamado Ano Litúrgico que, como o nome indica, é um modo de, em 365 dias, celebrar liturgicamente toda a vida e mistério de Cristo.

Mas, quando começa e acaba o Ano Litúrgico?

Cronologicamente, o Ano Litúrgico começa na transição do mês de novembro para o mês de dezembro. Liturgicamente, começa com o Advento, ou seja, a preparação mais intensa para a festa do Natal, e acaba com a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, que antecede aquele momento e que procura, quase, sintetizar tudo o que se viveu ao longo do ano, dando um sentido – até mesmo pelo nome da solenidade – de totalidade e globalidade a este término.

No entanto, qual é a organização deste calendário?

O centro do ano e calendário litúrgico é a Páscoa, o momento fulcral do cristianismo e, por isso, é que daí surge toda a organização posterior. Aliás, antes de termos o Ano Litúrgico organizado como hoje o temos, ele foi surgindo, progressivamente, a partir da celebração da Páscoa. Porém, poderíamos resumir a sequência do Ano Litúrgico da seguinte forma: começa com o Advento e segue com a celebração do Natal. Após algum tempo, celebramos a Quaresma, que antecipa o Tríduo Pascal e o Tempo Pascal, e entre ambos estes tempos, que comumente chamamos tempos fortes, vivemos o Tempo Comum, em que vamos tomando consciência, mais próxima, dos grandes discursos, parábolas e milagres de Jesus, precisamente, no meio do tempo comum dos homens e mulheres do Seu tempo. 

Qual é a origem desta organização?

Talvez possamos indicar duas origens remotas. Uma são os frutos do calendário natural, como as estações. Por exemplo, a Páscoa acontece na altura da primavera, quando os dias estão a crescer e as plantas a “despertar”, como uma metáfora perfeita da Ressurreição. Outro caso é o Natal, que ocorre por ocasião do momento em que os dias começam a crescer. No entanto, o calendário litúrgico também vai buscar elementos a outras expressões religiosas. Usando os mesmos exemplos, percebemos que o Natal é uma cristianização da festa romana ao Deus Sol e a Páscoa tem a sua origem na Páscoa judaica. 

Há alguma diferença de um ano para o outro?

Na sua base, o calendário litúrgico é igual. Só mudam as festas móveis, como é o caso da Páscoa. Mas como vemos neste caso, independentemente da data, todos os anos celebramos a Páscoa. Todavia, a cada ano mudamos o evangelista principal. Daí que exista o Ano A, o Ano B e o Ano C. Cada uma destas letras corresponde a um evangelista específico. A é S. Mateus, B é S. Marcos e C é S. Lucas. Ou seja, no ano A, vamos ler, principalmente e aos Domingos do Tempo Comum, o Evangelho de S. Mateus e, assim sucessivamente, nos outros anos B e C. Algumas vezes há exceções à regra, mas o princípio é, maioritariamente, este. 

E o Evangelho de S. João?

O Evangelho de S. João, pelas suas especificidades e características especiais, é recomendado, principalmente, para os chamados tempos fortes, como o Natal ou a Páscoa.   

Como se assinalam os diferentes tempos do Ano Litúrgico?

Talvez o que mais salte à vista sejam as cores das vestes litúrgicas. No Advento e Quaresma, usa-se o roxo; na Páscoa, no Natal e em momentos especialmente festivos, recorre-se ao branco; no Tempo Comum, faz-se recurso do verde; e nas festas ligadas à Paixão do Senhor e ao Espírito Santo, entra em ação o vermelho. O que se pretende é, através das várias cores, chamar a atenção para aspetos relevantes ou centrais, em cada momento. Por exemplo, o verde recorda a natureza no seu esplendor primaveril e, alegoricamente, as planícies onde os discípulos se sentavam para ouvir os grandes apelos de Jesus. Mas, também é óbvio que, na própria liturgia, existem mudanças: na Quaresma e no Advento não se canta o “Glória”, se quisermos um exemplo. 

O que significa a palavra Advento?

A expressão Advento designava, no contexto da religiosidade romana clássica, a vinda anual da Divindade ao seu templo, para visitar os seus fiéis, visto que se acreditava que, cada Deus permanecia no meio dos devotos, durante o tempo que a sua estátua estava exposta ao culto por ocasião da festa anual em sua honra. No entanto, advento designava também a primeira visita oficial de uma personagem importante a um certo lugar. Assim sendo, os cristãos acabariam por adotar e adaptar a palavra adventus, usando com o significado de chegada, vinda, aniversário de uma chegada ou de uma vinda, para designar a preparação do Natal de Jesus.

Qual é a origem do Advento?

O Advento cristão nasceu no Oriente e era um tempo de preparação para o Batismo que se administrava, além da Vigília Pascal, no dia da Epifania, 6 de janeiro, que no Ocidente se celebrava a 25 de dezembro. Esse costume foi adotado pelas Igrejas da Gália e da Espanha e, em 360, S. Hilário de Poitiers refere um período de três semanas de preparação, a começar no dia 17 de dezembro e a terminar no dia 6 de janeiro. No século V, a festa de Natal começa a ter uma importância crescente e, à semelhança da Páscoa, passa a ter uma preparação de quarenta dias, o que levou a se chamar esse período “quaresma de inverno”, ou “quaresma de S. Martinho”. Porém, só no séc. VI é que o Advento é oficialmente instituído, e, mais tarde, Gregório Magno estabelece o tempo de quatro semanas, que se conserva até hoje. 

O Advento obedece a alguma organização específica?

A disposição das leituras, quer nas Eucaristias, quer na Liturgia das Horas, obedece a uma pedagogia específica: o Iº Domingo destaca a espera vigilante do Senhor, o IIº Domingo convida a preparar, através de João Batista, os caminhos do Senhor, o IIIº Domingo salienta a presença dos tempos messiânicos, e o IVº Domingo anuncia a proximidade da Incarnação do Verbo. Durante a semana, até dia 16 de dezembro, destacam-se as leituras da profecia de Isaías e, a partir de dia 17 de dezembro, inicia-se uma preparação mais intensa para o Natal com os Evangelhos a narrar os factos imediatamente antes do nascimento de Jesus. 

Mas se Jesus já veio, porque é que celebramos, a cada ano, a sua vinda?

Jesus veio, de facto, há aproximadamente 2000 anos, mas a verdade é que vem, a cada dia, à nossa vida e virá na plenitude dos tempos. De facto, no Advento nós não preparamos só o “aniversário” de Jesus, mas começamos a celebrar esse nascimento de Jesus, todos os dias, no nosso dia-a-dia, do mesmo modo que nos colocamos atentos e vigilantes para esse futuro que nos será revelado.

Tags Religião

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