O Papa emérito/teólogo orante

Teve um pontificado curto, cerca de oito anos, embora marcasse bem a sua passagem pela estrutura central da Igreja. Foi um perito no Concílio Vaticano II, presidente da Congregação para a Doutrina da fé, presidente da Comissão teológica Internacional, eleito decano do colégio dos Cardeais em 2002 e esteve à frente da Igreja no decurso de 2872 dias, após a partida de João Paulo II (2. 04. 2005), Papa a quem muito coadjuvou (P. Seewarld, DC, 279-284).

Notícias de Viana
13 Jan. 2023 3 mins
O Papa emérito/teólogo orante

Particularmente legou o seu pensamento nas três Encíclicas que editou como Papa Bento XVI: Deus caritas est (25. 12. 2005), Spe salvi (30. 11. 2007) e Caritas in veritate (29.06. 2009), tendo deixado uma quarta encíclica elaborada que foi depois concluída e publicada pelo Papa Francisco, Lumen fidei (29. 06. 2013). 

Enquanto sumo pontífice presidiu a 352 celebrações litúrgicas, sendo suculentas as suas 352 homilias, que denotavam um espírito firme, intelectualmente robusto e fiel a toda a doutrina da Igreja. Conhecedor que era da sua época, com linguagem muita precisa e mostrando uma invulgar forma de apresentar as coisas para os crentes e não crentes do tempo. 

Neste sentido, presidiu à Comissão encarregada de elaborar o Catecismo da Igreja Católica fazendo dele o pilar excelso da doutrina e das perspetivas da Igreja, onde todos (crentes e não crentes) se podem cultivar no essencial da perspetiva cristã sobre a visão do mundo e seus problemas. Trata-se de uma obra que compila em texto séculos da tradição, sem hesitar na forma como apresenta a doutrina genuína. 

Viajou muito, protagonizando pelo menos 24 viagens fora de Itália, como Papa, o que lhe granjeou ampla notoriedade e provocou apreciação de muitos não crentes. O seu discurso na viagem à ONU em Nova Iorque ficou na história (18. 04. 2008). Na visita apostólica que fez a Portugal entre 11 e 14 de maio de 2010, em Fátima esteve aos pés da Virgem: “vim a Fátima Pe. José Lima para rezar com Maria e tantos peregrinos pela nossa humanidade atormentada pelo sofrimento e pela miséria” (P. S., L M, 197). 

O Papa emérito rezou 452 vezes a oração do Angelus/Regina Caeli, com a multidão reunida junto dele na Praça de S. Pedro. A oração era um hábito no seu quotidiano, dando eloquente testemunho dela quando retirado no convento, que foi o cenário do seu último suspiro, murmurando: “Senhor, eu amo-Te”. 

A oração era estruturante no seu pensamento, reflexão e ação: “O desenvolvimento tem necessidade de cristãos com os braços levantados para Deus em atitude de oração, cristãos movidos pela consciência de que o amor cheio de verdade (…) não o produzimos nós, mas é-nos dado. (…) O desenvolvimento implica atenção à vida espiritual, uma séria consideração das experiências de confiança em Deus” (CV, 79), já que “o desenvolvimento da pessoa degrada-se, se ela pretende ser a única produtora de si mesma” (CV, 68).

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