Já foste a Rio Cabrão?

Hoje que está sobre terra, como diz o povo, o corpo do nosso colega “Quim da Jolda”, ocorreu-me este título ao rezar por ele e ao lembrar a última vez que estivemos juntos, precisamente em Rio Cabrão. Não foi recentemente, mas com isto do confinamento, não mais falei com o nosso amigo e colega.

Notícias de Viana
22 Abr. 2021 3 mins
Já foste a Rio Cabrão?

Fui lá, vindo de Monção, onde deixara na casa da família toda a gente à volta de mesa farta, com as especialidades, que só quem é de Monção conhece o que se come nas festas familiares, sobretudo, quando nas férias vêm os irmãos e os sobrinhos que estão longe.

Não estava bem de saúde, nessa ocasião, mas tinha-me comprometido com o Pe. Joaquim ir pregar na festa do Padroeiro e Sagrado Lausperene. Fiquei bem impressionado com o zelo que a nossa gente, sobretudo das aldeias mais isoladas, ainda coloca em festas deste tipo, em que, para além da música do alto-falante, não tem mais nada a não ser missa solene, sermão e procissão e o Tríduo Preparatório que tinha feito, nos dias anteriores. 

No regresso, guiado pelo GPS, embrenhei-me na Serra do Corno de Bico, e era verão, e assim estaria a saborear as paisagens que são minhas vizinhas há mais de cinquenta anos, e aproveitei para, mais uma vez em diálogo de oração com a natureza, interiorizar o que aprendera naquela aldeia.

Eu conheci o Joaquim da Silva Pereira no Seminário, é um ano mais novo que eu, e depois nas lides pastorais. 

Convivi com ele durante quatro anos, enquanto estudantes-trabalhadores, já os dois estávamos no ensino, nos anos oitenta do século passado, e nos deslocávamos à Faculdade de Filosofia de Braga, porque, a partir de Ponte de Lima, partilhava o transporte com mais colegas, às vezes muitos, idos até em carrinha de nove lugares, quer padres, quer leigos(as). Quando éramos cinco, o Pe. Joaquim queria ir no seu Peugeot 504 e oferecer o carro a todos.

Soube ultimamente das suas mazelas de saúde, com recorrência a tratamento de hemodiálise.

Julgava tudo controlado, mas a surpresa da partida dele, tocou-me cá dentro.

A nossa Diocese fica mais pobre; em pouco tempo, o clero diocesano, no arciprestado dos Arcos, perde dois sacerdotes.

Resta-nos, em plena semana de oração pelas vocações, usar este argumento, também da partida para a eternidade dos que vão indo, para falar à nossa gente da necessidade de pedir ao Senhor da Messe e na proximidade do Domingo do Bom Pastor, que nos dê Pastores segundo o seu coração.

Obrigado Pe. Joaquim, pela amizade.

Descansa em paz, amigo!

Comigo ficam as confidências, as corridas de há muitos anos nos areais de Afife, as histórias das partidas dos que abusavam da tua bonomia, as conversas em banco corrido, em mesa minhota, em casa típica de Ponte de Lima, o gosto da tua gente pelas coisas de Deus que tu lhes ensinavas, nas tuas Paróquias.Descansa em paz; comigo fica a saudade e as boas recordações.

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