Manuel António Gomes, mais conhecido por Padre Himalaya, nasceu em 1868 em Cendufe -Arcos de Valdevez. Filho de camponeses humildes, mostrou desde cedo uma grande capacidade intelectual. Tendo ingressado no seminário com 15 anos, como destino (quase) fatalista de quem não tinha à época posses para estudar, foi a ciência, contudo, que cativou a sua mente e guiou a sua vida. A alcunha “Himalaya”, atribuída por colegas pela sua estatura e espírito elevado, tornou-se a assinatura de um homem que indubitavelmente esteve muito à frente do seu tempo.
Padre Himalaya foi muito mais do que um sacerdote. Foi um cientista autodidata, inventor, filósofo, ecologista e humanista, numa época em que o clero raramente se envolvia com a ciência. A sua maior criação — o Pirelióforo — foi uma impressionante máquina capaz de concentrar a energia solar e atingir temperaturas superiores a 3000ºC, com aplicações industriais e científicas revolucionárias. Apresentado em 1904 na Exposição Universal de Saint Louis, nos EUA, onde foi premiada com o Grand Prix, duas medalhas de ouro e uma de prata, superou invenções de grandes nomes da ciência como Thomas Edison.
Apesar do reconhecimento internacional, Portugal falhou claramente em o apoiar devidamente. Sem financiamento estatal e com apoio limitado, o padre levou o Pirelióforo à exposição por esforço próprio e mecenato privado. A inscrição “Solar Apparatus – Portugal” brilhou nos Estados Unidos, mas o reconhecimento em solo português foi sempre modesto e tardio. A sua invenção demonstrava o potencial da energia solar como fonte limpa e renovável, décadas antes de ser uma prioridade mundial.
Para além do Pirelióforo, Himalaya registou inúmeras patentes: desde a liquefação do ar atmosférico para produção de fertilizantes, até ao explosivo Himalaíte, mais seguro e potente que a dinamite, criado por Alfred Nobel para ajudar na agricultura e mineração. Desenvolveu ainda medicamentos, métodos de diagnóstico através da íris (iriadiagnose), técnicas de reaproveitamento de resíduos e projetos de turbinas e pontes energéticas que usariam o movimento das marés, antecipando os conceitos modernos de desenvolvimento sustentável.
A sua vida foi marcada pela busca constante de soluções para melhorar a vida dos mais pobres. Sempre guiado pela fé e pelo desejo de servir a humanidade, o Padre Himalaya tentou unir ciência e espiritualidade, mostrando que não são forças opostas, mas complementares.
Faleceu em 21 de dezembro de 1933, praticamente esquecido, na Caridade em Viana, curiosamente, um dia antes do solstício de inverno, que tal como a sua curta vida, marcando o dia mais curto e a perda de um dos maiores génios portugueses, a noite mais longa do ano. Não deixa, pois, de ter um simbolismo interessante, considerando a sua dedicação à luz solar como fonte de energia e conhecimento.
O seu legado, contudo, permanece como um símbolo de um simples português que, com poucos meios, ousou desafiar o impossível. Portugal deve-lhe mais do que honras póstumas: deve-lhe o reconhecimento de que foi um dos primeiros visionários das energias renováveis e um dos maiores inventores da nossa história. Que o seu nome, como os seus sonhos, volte a brilhar — à luz do Sol que tanto estudou.
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